Por Leonardo Mello de Carvalho
Tendo como pano de fundo a pujança do mercado de trabalho, acompanhada por melhores condições de acesso ao crédito, o desempenho das vendas de bens e serviços manteve a tração ao longo de 2024. Após um ano decepcionante como foi 2023, a demanda por bens de capitais também tem sido um dos destaques positivos, potencializando uma recuperação verificada na indústria de transformação, embora num ritmo ainda modesto. Como consequência, além do bom desempenho da produção interna, as importações seguem registrando expansão, fato também evidenciado pelo crescimento mais acelerado do consumo aparente (CA) de bens industriais, vis-à-vis a produção física.
Os resultados referentes aos primeiros meses do segundo semestre, em parte ainda afetados pela volatilidade observada nos últimos meses, não apontam grandes alterações neste cenário. Todavia, esperamos até o final do ano alguma desaceleração em relação ao ritmo de crescimento verificado na primeira metade de 2024. No âmbito da política econômica, enquanto o Banco Central do Brasil (BCB) iniciou em setembro último um ciclo de aumento da taxa de juros, o impulso fiscal por parte do governo tende a ser menor que o ocorrido anteriormente. Já com relação à situação financeira das famílias, embora a trajetória da massa de rendimentos continue mostrando ganhos reais, a trajetória de alguns índices de preços, notadamente no setor de serviços, tem se tornado menos benigna.
Nesse contexto, o Monitor do PIB da Fundação Getulio Vargas (FGV), um dos indicadores que buscam retratar o nível geral da atividade econômica brasileira em base mensal, iniciou o terceiro trimestre exibindo recuo de 0,4% em julho, na comparação livre de efeitos sazonais. Já na comparação interanual, o crescimento foi de 5,4%, maior variação positiva desde março de 2023. Com o resultado de julho, o efeito de carry-over em relação ao terceiro trimestre de 2024 ficou em 1,0%. Já o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) registrou desempenho similar, com queda de 0,1% na margem e crescimento de 5,3% em termos anuais, deixando um carregamento estatístico de 0,6%.
Ainda em termos agregados, o indicador de difusão calculado pelo Ipea também exibiu volatilidade, ficando num nível abaixo de sua média histórica, situada em 51,5%. Em julho, 41,7% dos segmentos analisados registraram variação positiva, em comparação com 74,8% no período anterior. Com base na análise em médias móveis de três meses, o indicador de difusão atingiu 51,6% em julho (gráfico 1).