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Retrato dos rendimentos e horas trabalhadas durante a pandemia – Resultados da PNAD Contínua em 2020

Por Sandro Sacchet de Carvalho

Dentro do contexto dos efeitos da pandemia, apesar do relativo aumento dos rendimentos habituais médios observado nos últimos meses, a forte queda da população ocupada causou um considerável impacto negativo na massa salarial real habitual. No trimestre móvel terminado em janeiro de 2021, a queda da massa de rendimentos habituais foi de 6,9% (somando R$ 211,4 bilhões) e a queda da massa efetiva foi de 11,1%, em comparação com o ano anterior, totalizando R$ 228,4 bilhões.

Outro importante efeito da pandemia foi o aumento da proporção de domicílios sem renda do trabalho devido à pandemia, que saltou de 25% no primeiro trimestre para 31,5% no segundo. No quarto trimestre, essa proporção caiu um pouco, para 29%, reforçando como tem sido lenta a recuperação do nível de ocupação aos patamares anteriores à pandemia. Houve também um aumento da proporção de domicílios na faixa de renda mais baixa e uma diminuição da proporção nas demais faixas. Detecta-se a queda generalizada dos rendimentos domiciliares efetivos, que, assim como a renda habitual, tiveram o pior desempenho na faixa de renda alta.

O impacto da pandemia no mercado de trabalho não ocorreu apenas sobre o nível de ocupação e os rendimentos. Também foram detectadas significativas alterações no comportamento das horas trabalhadas e no afastamento do trabalho. A pandemia não afetou as horas habitualmente trabalhadas – durante 2020, mantiveram-se em torno de 39,5 horas semanais. Contudo, já no primeiro trimestre de 2020, e sobretudo no segundo trimestre, observou-se uma forte queda nas horas efetivamente trabalhadas, que alcançaram apenas 78% das horas habituais, o que representa uma jornada semanal média efetiva de 30,7 horas. O impacto foi maior entre os trabalhadores por conta própria (73%) e entre os informais do setor público (72%). A comparação do quarto trimestre de 2020 com o mesmo trimestre do ano anterior já não mostra diferenças significativas.

Esse impacto sobre as horas efetivamente trabalhadas foi causado principalmente pelo maior afastamento do trabalho devido à pandemia. É possível detectar um aumento do afastamento do trabalho no primeiro trimestre de 2020, especialmente entre trabalhadores do setor público. No segundo trimestre, o afastamento da ocupação atinge 16,26% dos trabalhadores, afetando mais de 13,5 milhões. No quarto trimestre de 2020, a proporção de trabalhadores afastados já havia amplamente retornado aos patamares habituais; contudo, o principal motivo do afastamento é ainda a pandemia.

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O trabalho remoto e a pandemia: a manutenção do status quo de desigualdade de renda no país

Por Geraldo S. Góes, Felipe dos S. Martins e José Antônio S. Nascimento

​Este estudo tem como objetivo principal avaliar a desigualdade de rendimentos domiciliares per capita no país para o rendimento de todos os trabalhos e para os rendimentos oriundos de pessoas em trabalho remoto – segmentados por regiões e Unidades Federativas. Somado a isso, a Nota analisa a massa de rendimentos dos trabalhadores remotos do país, o perfil dessas pessoas em home office e a distribuição regional e estadual desses trabalhadores, sempre que possível, comparando com os resultados da pesquisa sobre o potencial de teletrabalho no Brasil publicada na Carta de Conjuntura no. 47.

As estimativas com base na PNAD Covid-19 para o mês de outubro apontam uma nova redução no percentual de pessoas trabalhando de forma remota no país, que passou a ser equivalente a 9,6% do total de pessoas ocupadas e não afastadas (no mês anterior era de 10,7%). Quanto à desigualdade, nota-se uma persistência no quadro de distribuição de renda no país: o estudo não encontrou evidências de aumentos significativos da desigualdade em decorrência do trabalho remoto. Ressaltando que as dificuldades de acesso à infraestrutura para o trabalho remoto poderiam potencialmente contribuir para uma alteração da desigualdade (quando medida em função de todos os rendimentos auferido pelo indivíduo), a pandemia não alterou de maneira significativa a distribuição de rendimentos de todos os trabalhadores brasileiros.

Todavia, notam-se algumas mudanças ao se observar a desigualdade calculada no nível estadual, com localidades mais desiguais quando tratadas apenas as pessoas em trabalho remoto, com destaque para os estados do Sul e do Sudeste. Entretanto, ao calcularmos o índice de Gini para os ocupado de modo geral e para aqueles em trabalho remoto, não identificamos de maneira homogênea ou de modo preponderante o aumento da desigualdade, ou seja, o índice de Gini de rendimentos entre os trabalhadores atuando de forma remota no país tem um retrato similar ao total de pessoas ocupadas.

Em termos de massa de rendimentos efetivamente recebida, esses trabalhadores são responsáveis por 18,5% da massa de rendimentos efetivamente recebida pelo total de trabalhadores ocupados – no mês anterior, essa porcentagem era de 20%. Ademais, o perfil da pessoa em trabalho remoto segue sendo majoritariamente composto por pessoas ocupadas no setor formal, com escolaridade de nível superior completo, do gênero feminino, de cor/raça branca e com idades entre 30 e 39 anos.

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Mercado de trabalho

Por Maria Andréia Parente Lameiras, Sandro Sacchet de Carvalho e Carlos Henrique L. Corseuil

O atual cenário de lenta desaceleração da taxa de desemprego e leve expansão da ocupação e dos rendimentos mostra-se compatível com a trajetória de recuperação moderada da economia brasileira. Após iniciar o ano de 2018 com claros sinais de dinamismo, crescendo a 2,0% em termos interanuais, o crescimento da população ocupada desacelerou-se, de modo que, no trimestre móvel, encerrado em janeiro deste ano, o crescimento observado foi de 0,9%. Na desagregação por idade, o comportamento da ocupação foi ainda pior no segmento dos mais jovens (18 a 24 anos), com retração de 1,3% no período. Como consequência dessa baixa expansão da população ocupada, a taxa de desocupação dessazonalizada manteve-se praticamente estável na comparação entre janeiro de 2018 e de 2019, com queda de apenas 0,2 p.p. – de 12,2% para 12,0%.

Essa lenta recuperação do mercado de trabalho – traduzida na manutenção de uma taxa de desemprego alta e persistente, principalmente entre os menos escolarizados – vem gerando aumento no número de domicílios que declararam não possuir renda de trabalho e nos domicílios de renda de trabalho muito baixa. Enquanto, no quarto trimestre de 2017, em 21,5% dos domicílios pesquisados pela Pnad Contínua não havia nenhum membro desempenhando uma atividade remunerada no mercado de trabalho, no último trimestre de 2018, essa porcentagem avançou para 22,2% – antes da recessão, no final de 2013, era de 18,6%. No caso dos domicílios de renda baixa, esta parcela passou de 29,8% para 30,1%, na mesma base de comparação – era 27,5% no último trimestre de 2013. Ainda dentro deste contexto, os dados desagregados de rendimentos (deflacionados pelo Indicador Ipea de Inflação por Faixa de Renda) mostram que vem crescendo a desigualdade salarial entre os segmentos pesquisados, como evidenciado pelo desempenho do índice de Gini no ano passado. No quarto trimestre de 2014, a média da renda domiciliar do trabalho para a faixa de renda alta era 27,8 vezes maior que a média da renda da faixa de renda muito baixa. Já no último trimestre de 2018, a média da renda domiciliar da faixa mais alta era 30,3 vezes maior.

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Veja a análise detalhada da conjuntura no mercado de trabalho nesta seção



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A evolução dos rendimentos médios utilizando deflatores por faixa de renda

Por Sandro Sacchet de Carvalho, Carlos Henrique Leite Corseuil e José Ronaldo de Castro Souza Júnior

Um indicador muito utilizado para inferir sobre o bem-estar dos trabalhadores é o seu rendimento. Para que a evolução desse indicador reflita a variação do poder de compra do trabalhador, costuma-se deflacionar os dados de rendimento usando índices de preço ao consumidor relacionados a essa variação. O procedimento usual em análises agregadas do mercado de trabalho é usar um único índice para todos os trabalhadores. Implicitamente, pressupõe-se que: i) o padrão de consumo dos trabalhadores está bem representado por uma cesta de bens representativa cuja evolução dos preços é captada pelo índice; e ii) eventuais diferenças nos padrões de consumo não seriam suficientes para alterar sistematicamente a evolução de índices de preço hipotéticos que captassem a heterogeneidade nos padrões de consumo.

No entanto, conforme exposto em Lameiras, Carvalho e Souza Júnior (2017), o Indicador Ipea de Inflação por Faixa de Renda mostra que a evolução dos índices de preço pode variar por períodos consideráveis de tempo, quando se leva em consideração padrões distintos de consumo por faixa de renda. Por exemplo, na variação acumulada em doze meses até agosto de 2018, a inflação para as famílias com renda muito baixa alcançou 3,55%, enquanto que para as famílias com renda alta atingiu 4,53% – o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) atingiu 4,19%. Em uma perspectiva de longo prazo, observa-se que, nos últimos onze anos (de julho de 2006 a outubro de 2017), a inflação dos mais pobres apresenta uma variação de 102%, bastante superior à observada na faixa de renda mais alta, de 86%.

O objetivo desta Nota Técnica é, portanto, averiguar em que medida essas diferenças na trajetória da inflação afetam a evolução dos rendimentos médios, individuais e domiciliares, para as diferentes faixas de renda, utilizando-se de dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua desde 2012.

CC41_NT_Rendimentos por faixa_graf 4 e 5

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