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09/12/2009 13:27

BANCOS PÚBLICOS

Mesmo diante da evidência de que as atividades econômicas distribuem-se de forma desigual no território, a análise da participação e da penetração dos bancos públicos federais no território nacional revela para a sociedade brasileira como o acesso aos produtos e serviços financeiros espelha, como outras tantas políticas públicas, a heterogeneidade do país. Reconhecidas as dificuldades decorrentes da geografia e também as diferentes dotações de recursos produtivos – que naturalmente atuam como fatores atrativos à atividade financeira –, cabe refletir o quanto a ação do Estado pode contribuir para diminuir tamanha desigualdade.

Ainda que não esteja pacificada a discussão sobre em que medida o desenvolvimento da indústria financeira pode contribuir para o crescimento de um país, a importância do acesso ao crédito para o desenvolvimento econômico e social é inquestionável. Nesse sentido, é oportuno destacar que o Brasil vem observando uma expansão vigorosa da relação crédito/PIB nos últimos dez anos, tendo o crédito se tornado um propulsor do financiamento ao investimento. Uma comparação com outros países revela, entretanto, que ainda há espaço para o mercado de crédito no país.

Em paralelo a isso, ressalte-se, o país assistiu a uma grande concentração dos ativos bancários em torno de um menor número de instituições. A indústria de produtos e serviços bancários se reconfigurou em uma estrutura em que a ameaça de novos entrantes é baixa diante da escala de operação dos atores existentes. Some-se a isso o baixo poder de barganha dos clientes e fornecedores.

Nesse cenário, os bancos públicos federais vêm se destacando como importantes elos do Sistema Financeiro Nacional no provimento de crédito à população. Desde o auge da crise, em setembro de 2008, o Banco do Brasil (BB), a Caixa Econômica Federal (CEF) e o Banco do Nordeste do Brasil (BNB) têm sido importantes instrumentos do governo na inclusão bancária da população: crises econômicas são historicamente tempos de renovação, e o Estado brasileiro soube aproveitar a oportunidade e agiu no momento e na medida adequados.

Reconhecida esta fundamental atuação nos últimos anos, cabe reconhecer que o atendimento bancário à população, mesmo pelos bancos públicos federais, continua incipiente. Mesmo com a utilização dos correspondentes bancários, já também amplamente adotados pelas instituições financeiras privadas, é possível que as restrições de acesso a agências bancárias sejam uma das causas centrais do fato de o Brasil ainda possuir um baixo índice de cobertura da população em comparação a países industrializados.

O Brasil possui 6.875 agências de bancos públicos federais no território nacional, o que aponta um índice de cobertura de 51,1%, de modo que apenas pouco mais da metade dos municípios do país estão atendidos pelo Estado em produtos e serviços financeiros. Considerando que os bancos públicos federais são agentes diretos na execução de algumas políticas sociais e econômicas do país, essa realidade se revela ainda mais preocupante, pois representa o distanciamento de quase metade dos municípios do acesso direto a essas políticas.

No caso do específico do BB, que atua de forma marcante no agronegócio nacional, como principal instituição de financiamento das exportações agrícolas, e ainda no financiamento de pequenas e médias empresas, a ausência de agências pode ter consideráveis impactos sobre a economia das localidades. A CEF, por sua vez, atende não somente os seus clientes bancários, sendo um importante braço do Estado para a execução de políticas sociais, como a assistência ao trabalhador formal, por meio do pagamento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), Programa de Integração Social (PIS) e seguro-desemprego, benefícios de programas sociais – como o PBF, por exemplo. A CEF é também a instituição centralizadora das operações referentes a financiamento de habitação popular, saneamento público básico de estados e municípios, entre outras. Desde 2009, quando foi lançado o programa Minha Casa, Minha Vida, a atuação da CEF foi intensificada na área da habitação popular.

A região Nordeste apresenta a menor taxa de cobertura no país, com três estados que possuem menos de 30% dos municípios atendidos – Piauí, Rio Grande do Norte e Paraíba. No Norte do país, que apresenta a segunda cobertura mais baixa entre as regiões, observa-se uma concentração das agências nas capitais dos estados e em algumas cidades, com grande disparidade intrarregional. A comparação inter-regional da cobertura dos municípios, por sua vez, revela que no Centro-Oeste, Sudeste e Sul do país, com índices bem maiores que os observados no Norte e no Nordeste, o acesso mais facilitado nas localidades aos bancos públicos federais pode funcionar como propulsor do maior desenvolvimento econômico e social observado nessas regiões.

Nesse sentido, a manutenção da configuração atual da distribuição de agências no território pode ser um mecanismo de manutenção de desigualdade. Reconhece-se que sem sistemas financeiros inclusivos há dificuldades para o crescimento, a redução da pobreza e a distribuição mais igualitária de recursos, de modo que o estabelecimento de sistemas inclusivos torna-se uma questão de política pública. Cabe aos gestores de políticas públicas articular ações com esse foco com outras estratégias de desenvolvimento, assegurando que seja plenamente aproveitado o potencial de crescimento sustentado das economias locais. Garantir a ampliação do acesso da população aos serviços bancários nos quase três mil municípios que não dispõem de agências e bancos públicos federais é um desafio para o Estado brasileiro.

 

MAPA 28

Presença de agências bancárias de bancos públicos por município - 2009 

 

Fonte: Dados do Banco Central do Brasil (Bacen) 

MAPA 29

Cobertura de agências bancárias públicas – 2009

(Em %)

mapa 16 - cobertura de agncias bancrias pblicas  2009

Fonte: Dados do Banco Central do Brasil (Bacen) 

TABELA 14

Distribuição dos municípios brasileiros com agências bancárias públicas federais por regiões e UFs – Brasil, abril de 2009

Região/UF

População estimada 2009/IBGE

Quantidade de municípios (B)

Municípios com agências públicas (A)

Quantidade de agências por UF

Cobertura (A)/(B)*100

Quantidade de agências bancárias por 100 mil hab.

Norte

15.359.608

449

172

397

38,3

2,6

Rondônia

1.503.928

52

32

57

61,5

3,8

Acre

691.132

22

11

30

50

4,3

Amazonas

3.393.369

62

19

64

30,6

1,9

Roraima

421.499

15

5

10

33,3

2,4

Pará

7.431.020

143

69

156

48,3

2,1

Amapá

626.609

16

6

19

37,5

3,0

Tocantins

1.292.051

139

30

61

21,6

4,7

Nordeste

53.591.197

1.793

713

1.480

39,4

2,8

Maranhão

6.367.138

217

70

139

32,3

2,2

Piauí

3.145.325

223

41

93

18,4

3,0

Ceará

8.547.809

184

95

214

51,6

2,5

Rio Grande do Norte

3.137.541

167

41

104

24,6

3,3

Paraíba

3.769.977

223

61

123

27,4

3,3

Pernambuco

8.810.256

185

120

246

64,9

2,8

Alagoas

3.156.108

102

42

91

41,2

2,9

Sergipe

2.019.679

75

33

76

44

3,8

Bahia

14.637.364

417

210

394

50,4

2,7

Sudeste

80.915.332

1.668

814

2.994

60,2

3,7

Minas Gerais

20.033.665

853

354

681

41,5

3,4

Espírito Santo

3.487.199

78

50

133

64,1

3,8

Rio de Janeiro

16.010.429

92

77

434

83,7

2,7

São Paulo

41.384.039

645

333

1.349

51,6

3,3

Sul

27.719.118

1.188

675

1.460

56,8

5,3

Paraná

10.686.247

399

214

422

53,6

3,9

Santa Catarina

6.118.743

293

210

512

71,7

8,4

Rio Grande do Sul

10.914.128

496

251

526

50,6

4,8

Centro-Oeste

13.895.375

466

233

544

66

3,9

Mato Grosso do Sul

2.360.498

78

54

98

69,2

4,2

Mato Grosso

3.001.692

141

74

126

52,5

4,2

Goiás

5.926.300

246

104

205

42,3

3,5

Distrito Federal

2.606.885

1

1

115

100

4,4

Brasil

191.480.630

5.564

2.845

6.875

51,1

3,6

Fonte: Dados do Banco Central do Brasil (Bacen) 

 

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Última atualização em 10/05/2012 17:14