No Brasil, o fato de ser mulher acrescenta, em média, 10 horas semanais no trabalho doméstico e de cuidado não remunerado em relação aos homens.  Em 2022, as mulheres despenderam semanalmente 21h36min, e os homens 11h48min neste trabalho.

A divisão desigual do trabalho doméstico e de cuidados entre mulheres e homens pode variar de acordo com fatores como idade, nível de escolaridade e renda. Cabe ressaltar a expressiva heterogeneidade entre as mulheres no tempo dedicado a estas atividades. Já entre os homens, não há diferenças gritantes: todos se dedicam muito pouco ao trabalho doméstico e de cuidados.

Ao examinar a desigualdade por faixa de renda, as mulheres brancas e negras que residem em domicílios com rendimento de até um quarto de salário-mínimo por pessoa, ou seja, as mais pobres, trabalharam 25,4 e 25,7 horas semanais, enquanto as mulheres brancas e negras em domicílios com rendimento de 8 salários-mínimos ou mais por pessoa, as mais ricas, trabalharam apenas 13,8 e 15,5 horas semanais neste trabalho.  Assim, existe uma desigualdade de classe expressiva na assunção de trabalho não remunerado entre as mulheres.  Entre as mulheres brancas, a diferença das mais ricas para as mais pobres foi de 12 horas e entre as mulheres negras foi de 10 horas.  Entre os homens brancos, a diferença dos mais ricos para os mais pobres foi de 4 horas semanais, enquanto entre os homens negros foi de apenas 3 horas semanais.

A desigualdade de gênero no trabalho doméstico e de cuidado não remunerado tem impacto negativo na vida das mulheres, em especial das mulheres em pobreza. A dificuldade para se dedicar mais ao mercado de trabalho, para ocupar melhores posições e de maiores rendimentos, a perda de autonomia, a pobreza de tempo, a sobrecarga mental e emocional, além dos rebatimentos na saúde das mulheres, são algumas dessas limitações.

O reconhecimento e a valorização do trabalho doméstico e de cuidado não remunerado é imprescindível para a sociedade, pois a dependência é uma condição humana universal.  Todos fomos criança, todos seremos idosos, em algum momento adoeceremos e perderemos capacidades. 

O trabalho de sustentação da vida passa pela articulação entre os diversos espaços de produção, públicos e privados.  Nesse sentido, uma organização social do cuidado mais justa, que distribua os afazeres domésticos e o cuidado entre homens e mulheres, e entre as famílias, o Estado e o Mercado, são imprescindíveis para impulsionar a economia e propiciar uma vida plena a todos nós.

Saiba mais

TítuloAutoriaAno
Cuidar, verbo transitivo: caminhos para a provisão de cuidados no Brasil Ana Amélia Camarano e Luana Pinheiro (organizadoras) 2023
Economia dos cuidados : marco teórico-conceitual Bruna Cristina Jaquetto Pereira 2016
Gênero é o que importa : determinantes do trabalho doméstico não remunerado no Brasil Luana Pinheiro, Marcelo Medeiros, Joana Costa e Ana de Holanda Barbosa 2023