Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

Emprego. Trabalho

Gênero é o que importa : determinantes do trabalho doméstico não remunerado no Brasil

Pinheiro, Luana; Medeiros, Marcelo; Costa, Joana; Barbosa, Ana de Holanda;


Emprego. Trabalho: Livros.

Gênero e Raça.

Publicado em: Set-2023


Gênero é o que importa : determinantes do trabalho doméstico não remunerado no Brasil

Neste estudo, examinamos como a posição no curso de vida, a disponibilidade de tempo, os recursos relativos em uma família ou as normas de gênero, em especial o que chamamos de respostas compensatórias ou neutralização dos desvios de gênero (gender display), determinam as desigualdades de gênero no trabalho reprodutivo entre casais brasileiros em 2019. Para esse propósito, foram utilizados os dados do painel da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua do mesmo ano. Os resultados encontrados indicam que a posição no curso de vida tem um efeito muito mais forte sobre as mulheres, com a presença de filhos ampliando o tempo gasto no trabalho doméstico – embora esse tempo diminua à medida que a idade das crianças aumenta. O impacto das crianças nas jornadas reprodutivas das mulheres é o dobro do encontrado para os homens. Cuidar de pessoas idosas aumenta a carga de trabalho reprodutivo das mulheres, mas não tem efeito para os homens. Em termos de disponibilidade de tempo, o trade-off entre trabalho remunerado e não remunerado é bastante expressivo para as mulheres e pouco importante para os homens. As famílias mais ricas usam sua renda para adquirir no mercado bens e serviços que reduzem seu trabalho doméstico, mas o efeito de substituição é mais forte para as mulheres. Ao considerarmos homens e mulheres em um casal, encontramos que a capacidade de transformar recursos financeiros relativamente mais altos em horas de trabalho mais curtas – tal como preconiza a teoria da barganha – é determinada por normas tradicionais de gênero. Assim, mesmo quando as mulheres respondem pela maior parte da renda dos casais, elas continuam sendo responsáveis pela maior quantidade de trabalho doméstico, comportando-se de forma “tradicional” no espaço doméstico como uma maneira de neutralizar os “desvios” no mercado de trabalho (onde ganham mais que seus companheiros). A educação é um equalizador das relações de gênero, mas seu efeito é também determinado por papéis de gênero e raça. De forma geral, encontramos que normas e valores de gênero se constituem no fator mais importante para determinar o trabalho reprodutivo de homens e mulheres.

MAIS DETALHES * Abrirá no Repositório do Conhecimento do Ipea, em nova página.

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