Siffert, Nelson; Rocha, Katia Maria Carlos;
Energia: Livros.
Publicado em: Fev-2025
O objetivo deste trabalho é avaliar, à luz da experiência internacional, qual cenário, em termos de volume de produção de hidrogênio de baixo carbono (LHC), o Brasil poderá alcançar em 2030. Agentes públicos e privados balizam suas expectativas, reduzem as incertezas e direcionam suas ações, tomando como referência marcos de médio e longo prazos, que expressam expectativas de crescimento do mercado. São apresentadas políticas públicas de suporte ao surgimento e à expansão do mercado do hidrogênio de baixo carbono, tendo como referência estudos da Agência Internacional de Energia (International Energy Agency – IEA) e iniciativas em curso no mercado brasileiro, como a Chamada Estratégica de Projetos de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PDI) no 23/2024: Hidrogênio no Contexto do Setor Elétrico Brasileiro, da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel, 2024). O ano de 2030 pode ser tomado como um importante marco temporal de médio prazo, sobre o qual é preciso construir uma visão que venha a ser compartilhada, considerada crível, pelos agentes públicos e privados, sobre metas e objetivos relacionados à produção e à demanda de hidro-gênio. É preciso que a cadeia de valor se movimente de forma coordenada, visando a objetivos comuns, com sincronismos de tempo e de movimento. As projeções da IEA apontam que, até 2030, é esperado que o mercado mundial do hidrogênio venha a crescer 54% em relação ao atual patamar de produção (2023), atingindo 150 Mt.1 Desse total, é estimado que 70 Mt sejam de hidrogênio de baixo carbono, sendo 51 Mt com base na rota eletrolítica, e 19 Mt com base no gás natural, com captura e armazenamento de carbono (carbon capture, utilization and storage – CCUS). Os anúncios e as intenções de investimento nessa indústria se multiplicam diariamente em todo o mundo, somando mais de 520 GW2 de capacidade. No entanto, apenas 7% desse montante têm se transformado em decisões finais de investimento (FIDs), conforme a IEA (2024a). Esse descompasso é observável tanto nos principais mercados mundiais quanto no Brasil. A IEA e outras referências na área de energias renováveis, como a Agência Internacional de Energia Renovável (International Renewable Energy Agency – Irena), não apontam, em suas projeções, participação do hidrogênio produzido a partir da reforma do etanol, com uso de processos de gaseificação. Essa rota tecnológica, no caso brasileiro, é uma alternativa promissora para a produção de hidrogênio renovável, mas que ainda se encontra em fase inicial de desenvolvimento. Desse modo, independentemente da participação maior ou menor de uma ou outra rota tecnológica, a expansão do mercado do hidrogênio de baixo carbono, no Brasil, dependerá, nos próximos anos, em grande medida, da velocidade com que venham a ocorrer: i) a precificação das emissões de carbono em setores específicos; ii) os ganhos de escala na produção dos eletrolisadores, reduzindo o valor das despesas de capital (capital expenditures – Capex); iii) a elevação dos indicadores de eficiência tecnológica ao longo da cadeia de valor; iv) a maturação e a difusão de rotas tecnológicas que fazem uso de biomassa; e iv) a redução no preço das energias renováveis. A atuação desses vetores tem potencial para eliminar o gap de preços hoje existente entre o hidrogênio de baixo carbono e o hidrogênio de origem fóssil: principal obstáculo à expansão da indústria. Estratégias gradualistas são aquelas em que projetos-demonstração ou projetos-piloto, em escala comercial, antecedem os projetos em larga escala, permitindo que seja observada, em menor grau de risco, a performance técnica, operacional e financeira. O uso local do hidrogênio de baixo carbono, no mercado interno, é priorizado antes que haja um direcionamento para o mercado externo. As iniciativas de políticas públicas em curso no Brasil, como a Chamada Estratégica de PDI no 023/2024 (Aneel, 2024) e o Programa de Desenvolvimento do Hidrogênio de Baixa Emissão de Carbono (PHBC), poderão viabilizar iniciativas nessa direção. A estimativa apontada, neste estudo, para a produção de hidrogênio de baixo carbono no Brasil, em 2030, (da ordem de 200 kt1/ano a 800 kt/ano) é equivalente, em seu limite superior, às estimativas da IEA (2022) e da Hydrogen Europe (Bonnet-Cantalloube, 2023). Cabe, portanto, avaliar quais são, de fato, as metas críveis e factíveis para a economia do hidrogênio, no Brasil, no horizonte de 2030.
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