Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

Transportes

Tendências e desigualdades da mobilidade urbana no Brasil II : características e padrões de consumo da mobilidade por aplicativo

Warwar, Lucas; Pereira, Rafael Henrique Moraes;


Transportes: Livros.

Gênero e Raça.

Publicado em: Jul-2022


Tendências e desigualdades da mobilidade urbana no Brasil II : características e padrões de consumo da mobilidade por aplicativo

Serviços de ride-hailing (transporte sob demanda) de empresas como Uber, DiDi e 99 modificaram consideravelmente os hábitos de mobilidade urbana em diversos países. Apesar da presença desses serviços na maioria das cidades brasileiras, ainda se sabe muito pouco sobre o perfil sociodemográfico e os padrões de consumo dos usuários de mobilidade por aplicativo no Brasil. Este artigo apresenta o primeiro estudo de abrangência nacional sobre como o uso de ride-hailing varia segundo renda, sexo, idade e cor; e destaca como esse uso varia espacialmente entre regiões metropolitanas do país e entre capitais e periferias metropolitanas. O estudo utiliza dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) de 2017-2018, gerados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), uma fonte de dados pouco explorada em estudos sobre transporte urbano. O uso de ride-hailing no Brasil ainda é restrito a uma pequena parcela da população. Em 2018, apenas 3,1% das pessoas acima de 15 anos de idade usavam esses serviços, fazendo uma média de aproximadamente oito viagens por mês com custo médio de R$ 22,50 por viagem. Os resultados mostram que a mobilidade urbana por aplicativo no país é socialmente desigual e espacialmente concentrada. A taxa de adoção desses serviços é significativamente maior entre a população de alta renda, de escolaridade elevada, mais jovem (entre 15 e 34 anos), entre mulheres e a população branca. Cerca de 60% dos usuários de ride-hailing residem numa das dez maiores regiões metropolitanas do país, embora a taxa de adoção e a frequência e o custo médio das viagens apresentem grande variação entre as cidades. O estudo aponta que a adoção de ride-hailing é maior entre pessoas que moram em bairros com maior densidade e em grandes centros urbanos, com taxas significativamente menores nas periferias metropolitanas e no interior do país. Esses resultados mostram que os potenciais benefícios do ride-hailing não estão igualmente disponíveis para todos e levantam importantes questões para futuras agendas de política e de pesquisa sobre os impactos que esses serviços podem ter sobre a mobilidade urbana.

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