Transplantes de órgãos foram tema de seminário no RJ

Transplantes de órgãos foram tema de seminário no RJ

 

O Brasil é o segundo colocado no mundo em número de transplantes e tem o maior programa público do planeta

O Brasil é o segundo país em número de transplantes e possui o maior programa público do mundo. Os dados foram apresentados pelo técnico de planejamento da Diretoria de Estudos e Políticas Sociais (Disoc) do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Alexandre Marinho, durante o seminário Uma avaliação econômica dos transplantes de órgãos no Brasil realizado nesta quarta-feira, 16.

Autor de uma pesquisa sobre o tema do evento, Marinho expôs um quadro comparativo do Brasil com os Estados Unidos (EUA), que ocupam o primeiro lugar em transplantes. Nos dois países, a venda de órgãos é proibida. No Brasil, os transplantes são financiados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e controle de doações de todos os órgãos é feito pelo Sistema Nacional de Transplantes (SNT), que tem sede em Brasília (DF); os planos de saúde privada financiam somente rim e córnea. Nos EUA, o paciente arca diretamente com o custo do transplante, ou por meio de planos de saúde, ou, no caso dos muito pobres, por meio dos programas governamentais assistenciais (Medicare e Medicaid).

Segundo a pesquisa, em 2005 os EUA realizaram pouco mais de 28.108 transplantes. No mesmo período, o Brasil realizou 15.527, sendo 11.095 pagos pelo SUS. Em 2008, o Brasil realizou cerca de 19 mil transplantes. O Estado brasileiro, segundo o pesquisador, oferece médicos capacitados, e com excelente tecnologia. “Na verdade, trata-se de uma vitória decorrente de um fracasso. Há muitos casos de hepatite e alcoolismo, e por isso a grande demanda por transplantes de órgãos”, observou Marinho.

A fila de espera para transplantes de órgãos sólidos no Brasil era composta de 63.975 pessoas no ano de 2006. Hoje são 70 mil. O transplante de órgãos por doação ao Estado pode ser realizado somente após a morte cerebral do paciente, que deve ter manifestado, em vida, a vontade de ser um doador. A fila para transplantes no SUS para cada órgão ou tecido é única, e o atendimento é por ordem de chegada, considerados critérios técnicos, geográficos e de urgência.

Tamanho dos hospitais
No território brasileiro, a cada oito potenciais doadores, apenas um é notificado, e cerca de 20% destes são utilizados como doadores múltiplos de órgãos. Segundo Marinho, a taxa de doação é de 8,6 por milhão de habitante. Nos Estados Unidos, a taxa de aproveitamento dos órgãos é de 50% para 21,8 doadores por milhão de habitantes por ano. Na Espanha, outra referência mundial no assunto, há 33,6 doadores por milhão de habitantes.

O SUS tem uma rede de hospitais, a maioria pequenos. 80% dos hospitais públicos brasileiros têm menos de 80 leitos. Em 2001, 70% dos transplantes foram efetuados em hospitais universitários públicos (estaduais ou federais), que tem tamanho médio de aproximadamente 275 leitos. Nos EUA, a maior parte dos transplantes é em hospitais com mais de 150 leitos, Unidade de Terapia Intensiva (UTI), neurologia e emergência. “O tamanho dos hospitais é um fator limitante”, disse o pesquisador.

São Paulo é o primeiro em número de transplantes. Ceará e Paraíba também estão bem colocados, enquanto Rio de Janeiro e Bahia figuram entre os últimos.  Em relação às filas, Marinho explicou que nem todos os estados realizam o processo, e por isso é necessário o deslocamento. Ele explicou ainda que se o cidadão se alistar em São Paulo, a fila de espera será lá, e que cada estado gerencia de uma maneira. “O órgão pode ser extraído num estado e implantado em outro. O Acre, por exemplo, não faz transplante,” comentou.

As despesas são altas, e incluem, dentre outras, a retirada, o implante, os medicamentos e o pós-transplante. Em 2005 foram gastos no País R$ 521,8 milhões, quase 30% a mais do que em 2004. O valor para cada procedimento de transplante é fixo e pago tanto para hospitais públicos quanto privados.

Em sua pesquisa, que começou em 2003, Marinho sugere alguns meios para a redução das filas, entre os quais, a remuneração por produtividade, e não por tamanho da fila; estipular tempos máximos para a espera; estimular mudanças culturais na população e nos profissionais.