Crise reacende debate sobre regulação financeira

Crise reacende debate sobre regulação financeira

 
Ipea e ONU discutem controles de fluxo de capitais. Evento termina com coletiva nesta quarta-feira, às 16h

Os excessos que levaram o mundo à crise financeira em 2008 e a enxurrada de capital que se dirigiu aos países em desenvolvimento devido às políticas de combate à recessão dos EUA e da União Europeia trouxeram de volta o debate sobre a regulação do mercado financeiro e a necessidade dos países controlarem suas contas de capital.

O tema foi debatido nesta terça-feira, 23, em um evento que reuniu especialistas do Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais das Nações Unidas (Undesa), do Fundo Monetário Internacional, da Universidade de Columbia, e formuladores de políticas econômicas do Brasil e de outros países em desenvolvimento. O seminário Managing the Capital Account and Regulating the Financial Sector: A Developing Country Perspective é organizado pelo Ipea e o Undesa, com apoio do BNDES.

Luciano Coutinho, presidente do BNDES, abriu a programação. Ele ressaltou que os debates sobre a regulação do mercado financeiro vêm em um momento oportuno, já que a tendência é que o excesso de liquidez nos mercados continue nos próximos anos. “A intenção declarada do Federal Reserve é manter a política de Quantitative Easing, de não retrair a liquidez”, afirmou.

Rob Vos, do Undesa, ressaltou o impacto do fluxo de capitais especulativos nas economias emergentes. “Os países em desenvolvimento também estão sofrendo as consequências da crise, o investimento estrangeiro nessas economias causa efeitos colaterais como bolhas e instabilidades”.

Para Paulo Nogueira Batista Jr., do FMI, a crise permitiu reavaliar várias políticas, inclusive aquelas ligadas à regulação financeira, mas os passos nessa direção ainda são tímidos. “O controle de capital está sendo visto como parte do rol de ferramentas, antes eram recomendadas apenas apreciação do câmbio, política fiscal e liberalização da conta de capital, mas essa ideia ainda tem muita resistência nos países desenvolvidos”.
 
Marcio Pochmann chamou atenção para o aspecto social do controle e da taxação do capital especulativo. Para ele, o mercado financeiro contribui pouco para o desenvolvimento. “O setor financeiro segue o mais lucrativo da atividade econômica e não contribui para um fundo voltado ao desenvolvimento”, argumentou. “2015 se aproxima e sabemos que as metas do milênio não serão atendidas em países que tem dificuldade para se financiar”, completou.

Volatilidade
Jose Antonio Ocampo, professor da Universidade de Columbia, apresentou, em um dos painéis, um estudo do FMI que mostra o aumento da volatilidade nos fluxos financeiros. Ele acredita que isso é um desafio para as políticas macroeconômicas. “O fluxo financeiro tem um caráter pró-cíclico e reduz margem de manobra das políticas macroeconômicas anticíclicas”, explicou. “Deveríamos ter sistemas permanentes de controle em vez de improvisar durante as crises”.

O Brasil vem adotando uma série de medidas para conter a entrada de capitais especulativos, lançando mão de taxas sobre aplicações estrangeiras e operações com derivativos. “Controlar apenas o fluxo de capital seria menos difícil, mas temos um grande elefante na sala que são os derivativos”, disse Nelson Barbosa, secretário-executivo do Ministério da Fazenda. “Taxamos a exposição a esses derivativos, estamos controlando aquilo que foge do hedge tradicional”.

O seminário continua nesta quarta-feira, 24. No segundo dia, serão debatidas as mudanças na regulação internacional desde a crise econômica de 2008. Às 16h, haverá uma conferência pública. Stephany Griffith-Jones, da Universidade de Columbia, Fernando Cardim de Carvalho, da UFRJ, Y.V. Ready, ex-presidente do Banco Central da Índia, Rob Vos e Jose Antonio Ocampo farão uma síntese dos debates no auditório Ronald Treiger, do BNDES, no Rio de Janeiro.