Pesquisadores debateram a guerra ao terrorismo

Pesquisadores debateram a guerra ao terrorismo

Seminário abordou as transformações políticas e econômicas provocadas pelos atentados do 11 de setembro de 2001

Técnicos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e especialistas de instituições como PUC-SP, UFRGS e Universidade Autônoma de Lisboa debateram durante dois dias (14 e 15/09), em São Paulo, os aspectos políticos e econômicos da guerra estadunidense contra o terrorismo. Eles participaram do seminário 11 de setembro: O mundo depois de uma década de luta contra o terror, organizado no campus da PUC-SP.

A abertura teve a fala do professor Oliveiros Ferreira, da PUC, que chamou a atenção para o fato de que os Estados Unidos convivem com uma desorientação política desde que decidiram atacar o Iraque na guerra contra o terrorismo.

“No ataque contra Saddam Hussein houve grande desvio entre o objetivo original da guerra ao terrorismo e a intenção política de reconstruir a democracia no Iraque. A construção de democracias passou ser uma obrigação e mudou o papel dos Estados Unidos no cenário mundial, levando ao arrefecimento de suas relações globais”, disse.

Renato Baumann, do Ipea, apresentou um levantamento sobre os impactos econômicos dos atentados de 11 de setembro e da luta contra os regimes do Afeganistão e do Iraque. Além dos custos imediatos dos atentados, houve repercussões na economia global e na geração de gastos permanentes com o reforço na segurança interna dos países.

“O PIB mundial caiu 1,3% nos meses seguintes, com forte redução nas importações mundiais. As guerras custaram algo entre US$ 1 trilhão e 4 trilhões, mas não é possível calcular uma estimativa global do quanto foi perdido com o 11 de setembro porque os efeitos continuam sendo sentidos”, afirmou.

Paquistão

Depois de dez anos e tendo sido gastos US$ 4 trilhões no combate à Al-Qaeda, os Estados Unidos permanecem em um atoleiro, acredita Reginaldo Nasser, professor da PUC-SP. O número de atentados suicidas cresceu exponencialmente, pulando de 200 casos, em 2001, para 2.000, em 2010, sendo que 95% das ações terroristas atuais visam instalações ou pessoal estadunidense.

“Os Estados Unidos voltaram a negociar com o Talibã. Depois de 100 mil mortes e um gasto militar gigantesco, retornou ao estágio inicial. Com uma diferença: na época, o mulá Omar (líder talibã) queria negociar”, argumentou.

Edson José Neves Júnior, pesquisador da UFRGS, defendeu, no seminário, a tese de que o Paquistão, e não o Afeganistão e o Iraque, é o centro irradiador de atentados suicidas na Ásia. De acordo com ele, os grupos terroristas paquistaneses são financiados pelo serviço secreto do país, que os utiliza para desestabilizar estados vizinhos.

“O serviço secreto paquistanês é um estado dentro do Estado e é a chave para entender o terrorismo na Ásia. Os grupos terroristas são colocados na ilegalidade por pressão americana, mas mudam de nome e continuam suas atividades com apoio de autoridades paquistanesas”, explicou.

Europa e América Latina

Monica Hirst e Luis Moita apresentaram, respectivamente, uma análise dos efeitos dos atentados de 11 de setembro na América Latina e na Europa. A pesquisadora da Universidade Torcuato di Tella (Argentina), argumentou que a principal repercussão para os países latino-americanos foi a liberdade de atuação política e econômica. Ela acredita que, ao estabelecerem como eixo de sua política externa a guerra ao terror na última década, os EUA deram menos importância aos rumos tomados pelos países do continente.

Luis Moita, professor da Universidade Autônoma de Lisboa, abordou principalmente as questões intelectuais e acadêmicas que afloraram na Europa no pós-11 de setembro. Para ele, o grande fenômeno foi o ressurgimento do debate sobre o conceito de guerra justa, utilizado pelo governo americano para justificar as invasões ao Afeganistão e Iraque.

Rodrigo Fracalossi de Moraes e André de Mello e Souza, técnicos do Ipea, apresentaram um estudo sobre as coalizões formadas pelos Estados Unidos nas guerras do Afeganistão e Iraque. Os dois defenderam que os EUA buscaram dar às duas invasões um caráter multilateral, de forma a amenizar críticas sobre os custos e a legitimidade das ações.

“O suposto isolamento dos EUA na guerra ao terror deve, no mínimo, ser relativizado. Eles conseguiram estabelecer uma rede global para a luta contra o terror, vários estados do mundo contribuíram, de diversas formas, para a chamada luta contra o terror”, afirmou Rodrigo.

“O multilateralismo virou a regra do jogo da política internacional nas últimas décadas. Não há dúvida que os EUA buscavam legitimidade para sua atuação com as coalizões, especialmente no caso do Iraque, em que havia oposições tanto internas quanto externas à invasão”, explicou André.