Multilateralismo comercial foi tema de debate

Multilateralismo comercial foi tema de debate

 

No seminário realizado pela Dinte, apresentou-se relatório com os fatores da crise

“Nos últimos meses, o Ipea tem sentido a necessidade de intensificar o tema da crise nas suas várias dimensões”, disse Luciana Acioly, diretora de Estudos e Relações Econômicas e Políticas Internacionais (Dinte), durante o seminário O Brasil, o multilateralismo comercial e a OMC: uma perspectiva de médio prazo. O evento, realizado na sede do Ipea, em Brasília, teve como objetivo debater o relatório final da Força-tarefa que leva o mesmo nome do seminário.

Acioly acrescentou que avançar nesta discussão vai proporcionar ao Instituto o debate de uma maneira mais estendida e ao Brasil priorizar o assunto, de forma que no futuro obtenha grandes progressos.

Pedro Motta Veiga, representante do Centro de Estudos de Integração e Desenvolvimento (Cindes) e um dos coordenadores desta força-tarefa, explicou que o grupo visa reunir visões variadas de especialistas brasileiros em comércio e política comercial a fim de apresentar uma proposta de agenda brasileira para o sistema multilateral de comércio.

Ele acrescentou que as atividades do grupo foram viabilizadas pelo apoio financeiro da Confederação Nacional da Indústria (CNI), da Empresa Brasileira de Aeronáutica (EMBRAER), do Ipea e da Agência Suíça para a Cooperação ao Desenvolvimento (SDC), e pelo apoio logístico do BRICS Policy Center e da Escola de Economia de São Paulo (EESP-FGV).

Fatores da crise

Motta Veiga falou da importância do seminário para o documento, que, embora até certo ponto esteja em uma forma já acabada, poderá receber contribuições dos debatedores e demais presentes. O relatório aponta para vários fatores que estão por trás da crise que vive o multilateralismo comercial.

A emergência do Sul com o aumento do peso econômico e político dos emergentes é um deles. Também foram mencionadas a ascensão da Ásia-Pacífico como polo dinâmico do capitalismo mundial, a meteórica ascensão da China como ator de primeira grandeza no comércio internacional, a erosão do “consenso liberal” nos países desenvolvidos e a frustração com os resultados da Rodada Uruguai nos países do Sul.

Neste contexto, também estão o crescimento do número de membros da Organização Mundial do Comércio (OMC), cuja composição torna-se crescentemente heterogênea, a multiplicação de acordos preferenciais - causa e efeito das dificuldades enfrentadas pelas negociações multilaterais, e a crescente desconexão entre as agendas das grandes empresas com atuação internacional e as prioridades e os objetivos nacionais, que reduz o interesse das grandes transacionais nas negociações multilaterais.

Para Pedro da Motta Veiga, duas questões merecem destaque ao se tentar formular uma perspectiva brasileira em relação ao multilateralismo: primeiro, quais fatores e interesses – domésticos e externos - devem ser levados em conta na formulação de uma agenda de negociações e governança comercial do Brasil; e depois, quais características deve ter o multilateralismo comercial para que corresponda aos interesses e preferências de política do Brasil.

Agenda brasileira

Representante da Cindes e coordenadora da Força-tarefa, Sandra Rios falou sobre o que pode ser uma agenda temática para o Brasil nas negociações com a OMC no futuro. Entre os temas que a força-tarefa considerou importante, destacam-se a importância econômica e política que o multilateralismo tem para a estratégia internacional do Brasil, a profunda mudança que a emergência da China _ e, mais além, da Ásia_ no cenário comercial global introduz não apenas em termos de equilíbrio de poder, mas também de convivência e competição entre diferentes modelos de capitalismo; e a perspectiva de transformação produtiva que se abre para o Brasil.

De acordo com o relatório, a ausência de consenso no debate internacional sobre temas relacionados à transformação produtiva no Brasil e suas implicações e sobre câmbio e comércio reproduziu-se nos debates do grupo. Alguns participantes defendem a visão de que cabe à OMC estabelecer mecanismos compensatórios para lidar com os efeitos distorcidos da manipulação da taxa de câmbio sobre os fluxos de comércio. Outros consideram que a questão dos regimes cambiais deve ser tratada no âmbito das negociações sobre desequilíbrios macroeconômicos globais.

Como debatedores no seminário, participaram o secretário de Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda, Carlos Márcio Cozendey, o diretor do Departamento Econômico do Ministério das Relações Exteriores, Paulo Estivalet, o coordenador geral de Organismos Multilaterais da Secretaria de Comércio Exterior (Secex/ MDIC), Renato Rezende, e a analista da Câmara do Comércio Exterior (Camex) Maria Olívia. O técnico de Planejamento e Pesquisa do Ipea e membro da força-tarefa Ivan Tiago Machado Oliveira foi o mediador do debate.

Veja o Relatório - O Brasil, o multilateralismo comercial e a OMC: uma perspectiva de médio prazo