Indústria espacial precisa de maior competitividade

Indústria espacial precisa de maior competitividade

Pesquisa mostra que o Brasil é o menos desenvolvido entre países que atuam no setor

Flávia de Holanda Schmidt, técnica de Planejamento e Pesquisa do Ipea, apresentou nesta quarta-feira, 11, o Comunicado do Ipea nº 153 - Desafios e oportunidades para uma indústria espacial emergente: o caso do Brasil, e divulgou informações de sua pesquisa, que tem como objetivo balizar o processo de análise das políticas governamentais em relação ao setor.

“Não percebemos como a atividade espacial é imbricada em nosso dia a dia. 55 anos após o seu início, a exploração espacial não é mais um campo para uma guerra entre duas potências, é um setor que tem impactos importantes no desenvolvimento econômico e social dos países”, frisou Flávia. André Viana, assessor técnico da Presidência do Instituto, também participou da coletiva pública.

A técnica destacou que, de acordo com a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a indústria espacial é um setor de alta intensidade tecnológica, que é pautado pela convergência de tecnologias divergentes, e que se desenvolve necessariamente por meio do investimento em pesquisa e em novas tecnologias.

Uma grande vantagem dessa indústria é que ela está na ponta da escala de valor agregado: um quilograma de satélite vale atualmente US$ 50 mil. Esse valor fica entre US$ 2 mil e US$ 8 mil para aviões militares, US$ 2 mil no caso de mísseis, e US$ 1 mil para aviões comerciais, por exemplo.

O Brasil

Segundo o Índice Futron de Competitividade Espacial de 2009, que calcula a atuação na área espacial, o Brasil está em último lugar em todos os componentes do relatório, mas o setor indústria está em pior situação.

“Somos um dos poucos países que detêm tecnologia para atuar na indústria espacial, mas nosso programa espacial tem 50 anos de existência e países que iniciaram seus trabalhos muito depois ocupam hoje posições muito melhores que o Brasil”, alertou a pesquisadora.

A questão, para ela, além de se melhorar a aplicação dos satélites no Brasil, é enraizar a atividade no país. “China e Índia vêm alcançando progressos importantes, já no Brasil essas demandas precisam ser mais bem articuladas”, sugeriu. Vários outros setores podem ser dinamizados com a maior atuação do setor espacial brasileiro, como planejamento e uso da terra, saúde, educação, construção civil, agronegócio e geração de energia.

Perfis

Para analisar a indústria espacial brasileira, foi feito na pesquisa a associação de várias fontes de dados e se chegou ao total de 177 empresas. Mas apenas 153 puderam ter o perfil mais detalhadamente analisado, por estarem na base de dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).

A maior parte das empresas é de pequeno porte, empregam poucas pessoas. Ao longo do tempo (o estudo recolhe dados da RAIS de 2000 a 2010), houve um maior engajamento das empresas de maior porte, que passaram a fornecer mais peças e subsistemas para a indústria espacial. De 153, apenas 25 empresas empregaram 250 pessoas ou mais.

Quase 78% delas (119 empresas) estão no Estado de São Paulo, principalmente no município de São José dos Campos, onde está o Instituto Tecnológico Aeroespacial (ITA), que constitui uma forte base técnico-científica por instituições governamentais, unidades de ensino e de pesquisa de excelência.

Em média, as empresas do setor têm acima de 18 anos de existência, remunera os seus trabalhadores com valores acima de R$ 2.500, em média, e tem corpo de trabalho com tempo médio de estudo de 11,6 anos. Essas firmas também têm grande percentual de envolvimento com comercio exterior: 25% são exportadoras e 49% importadoras. “A importação é maior porque ainda existem alguns gargalos tecnológicos que o Brasil não conseguiu superar”, afirmou Flávia.

Leia a íntegra do Comunicado 153 - Desafios e oportunidades para uma indústria espacial emergente: o caso do Brasil