Desigualdade diminui mais na classe média

Desigualdade diminui mais na classe média

 

Estudo alertou que as famílias de baixa renda ficaram no mesmo patamar


“A desigualdade econômica não caiu como se diz”, afirmou o técnico de Planejamento e Pesquisa da Diretoria de Estudos e Políticas Sociais do Ipea Fernando Gaiger. O tema em questão foi discutido no seminário A heterogeneidade estrutural e o consumo de massa no Brasil, na última quarta-feira, 3, no Ipea no Rio de Janeiro. O estudo busca verificar os impactos que a queda na desigualdade teve sobre a as parcelas de baixa e média renda da população, bem como o aumento de sua participação na economia brasileira.

Os dados apresentados mostram uma aproximação nas estruturas de repartição de renda e consumo, bem como uma mudança na desigualdade do endividamento. “O padrão de consumo brasileiro se aproximou e incorporou uma parcela importante da população. Pode-se dizer que a desigualdade econômica diminuiu, mas as famílias de baixa renda ficaram no mesmo patamar que antes. As maiores mudanças ocorreram na classe média da população”, afirmou Gaiger, sobre o consumo no Brasil.

“Apesar da observada redução da desigualdade, o padrão de consumo manteve-se estável nos últimos anos. Pode ser que as famílias pobres estejam conseguindo poupar mais dinheiro ultimamente”, explicou o técnico. “Há um alívio orçamentário para essas famílias, em função do aumento de crédito formal”, acrescentou. De acordo com ele, os principais fatores que levaram à queda na desigualdade foram o crescimento do crédito formal e a melhoria no mercado de trabalho.

Bens duráveis, como TV em cores e geladeiras, presentes nas casas dos brasileiros mais pobres passaram de 2/3 em 2003, para 90% em 2009. Destaca-se também um aumento significativo no número de liquidificadores e ventiladores nas residências de famílias pobres. Sobre o acesso a determinados bens de consumo, o autor explica que “agora a parcela da população com baixa renda tem acesso a bens que não eram possíveis antes, já os mais ricos contam com sofisticação em seus produtos”.

Considerando as despesas gerais do povo brasileiro, o estudo aponta que o investimento em bens duráveis subiu de 14% em 2003 para 16% em 2009. No mesmo período, as despesas com habitação subiram de 16% para 17% e os gastos com saúde e educação caíram de 13 para 11%. Os dados são baseados na mais recente Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) de 2008-2009.

Apesar da queda gradual, o setor de alimentos e bebidas ainda é o que mais pesa na renda das famílias mais pobres e ocupa cerca de 30% dos gastos. Além disso, o estudo aponta que as despesas com habitação e transporte aumentaram 2% para as famílias mais pobres nos últimos anos.

Para maior participação das famílias de baixa renda na economia, o pesquisador sugere que ocorra uma distribuição mais ampla do mercado consumidor, uma melhor distribuição do consumo com as classes de menor renda, além da disponibilização de produtos com maior valor agregado e mais tecnologia.