Neri destaca avanços socioeconômicos dos negros

Marcelo Neri destaca avanços socioeconômicos dos negros


Ministro interino da SAE e presidente do Ipea proferiu palestra em evento que comemorou os 125 anos da abolição

 

Foto: Thiago Cavalcante

Marcelo Neri, presidente do Ipea: "Aumento na
renda dos negros foi maior em 2012"

O ministro-chefe interino da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) e presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Marcelo Neri, destacou o aumento do percentual de pretos e pardos nos últimos dez anos, tornando-se a maioria da população brasileira. Neri explicou que houve reversão inédita nas séries de pessoas que se autodenominam pretas, seguindo classificação do IBGE, compensando 1/3 das perdas do tamanho relativo do grupo observadas desde 1940. Para ele, esse fato espelha um passo histórico decisivo contra o preconceito racial, com mais brasileiros afirmando pertencer a esse segmento.

"A participação de negros na população brasileira no período de 2000 até 2010 foi de 44,6% para 50,9%. Desde a virada do século, as pessoas estão se declarando mais negras, principalmente aquelas com maior nível de educação e de gerações mais novas”, afirmou Neri. O ministro proferiu palestra, nesta segunda-feira, 13 de maio, em São Paulo, durante evento organizado pela Faculdade Zumbi dos Palmares, em comemoração aos 125 anos da Abolição da Escravidão no Brasil. O encontro aconteceu no Memorial da América Latina e contou com a presença de autoridades diversas como o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, artistas e esportistas.

Ao falar sobre os avanços socioeconômicos dos negros no Brasil, o ministro Marcelo Neri citou dados do estudo Vozes da Nova Classe Média, da SAE: 75% dos novos entrantes na classe média brasileira – três em cada quatro novos membros do segmento – são negros. O contingente de cerca de 30 milhões de pessoas corresponde a quase a totalidade da população negra da África do Sul. “Esse é um dado impressionante. É o filme da última década, que representa a consolidação desta casa de ensino”, disse Neri referindo-se à Faculdade Zumbi dos Palmares.

Um ponto que chamou a atenção na palestra de Marcelo Neri foi a identificação de uma espécie de ação afirmativa no âmbito do Bolsa Família, no qual a proporção de negros é bem maior que a de brancos. “Você pode achar que é porque os negros são mais pobres, o que é verdade”, ponderou o ministro. “Mas nosso estudo mostra que, mais do que o Bolsa Família ser pró-pobre e, com isso, encontrar e beneficiar mais os negros, o programa é pró-negro porque, se você comparar brasileiros brancos e pretos em situações semelhantes, a probabilidade de uma pessoa que se declara preta ter acesso ao Bolsa Família é 10% mais alta. É o que a gente chama de uma ação afirmativa implícita”, argumentou.

Outro ponto de destaque na apresentação foi o aumento de renda entre os negros brasileiros. No ano passado, a renda domiciliar per capita do segmento subiu 8,5%, e a renda do trabalho per capita, 5,1%. Isso em um ano em que o PIB per capitacresceu 0,1%. “O dado demonstra que a saga da ascensão afrodescendente não acabou”, pontuou.

Ainda segundo Neri, tem crescido a renda de vários grupos de trabalhadores considerados precários, como empreendedores de subsistência, empregadas domésticas, operários da construção civil, agricultores braçais. “Tradicionalmente, essas são ocupações mais negras. Entre os empreendedores negros, apesar de terem um lucro controlado 74% inferior ao dos brancos, a diferença de lucros caiu 29% entre 2003 e 2013”, afirmou. “O Brasil foi o último país do mundo ocidental a abolir a escravatura, há 125 anos, mas as mudanças reais estão acontecendo. É um retrato com cicatrizes sociais profundas, mas está bem melhor do que era há dez anos.”

Vídeo: assista à aula magna de Marcelo Neri na comemoração pelos 125 anos da Abolição da Escravidão no Brasil

Veja a apresentação feita pelo ministro interino Marcelo Neri