Livro analisa transformações no sistema monetário

Livro analisa transformações no sistema monetário

Editada pelo Ipea, a publicação busca o entendimento acerca do tema, principalmente após a eclosão da crise internacional de 2008

O livro As transformações no sistema monetário internacional, editado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), busca o entendimento acerca da estrutura e transformações do sistema monetário contemporâneo, particularmente após a eclosão da crise internacional. A ideia é pensar uma ordem monetária mais estável e menos injusta, voltada aos objetivos de desenvolvimento econômico global, sobretudo dos países menos desenvolvidos.

Organizado pelo técnico de Planejamento e Pesquisa do Instituto, Marcos Antonio Macedo Cintra e pela pesquisadora da Unicamp, Aline Regina Alves Martins, a publicação, composta de oito artigos, traz, inicialmente, o texto O sistema monetário internacional e seu caráter hierarquizado, que trata da hierarquia das diversas moedas nacionais existentes no sistema monetário internacional. Nele, os autores Bruno Martarello De Conti, Daniela Magalhães Prates e Dominique Plihon, ressaltam os elementos que motivam a utilização no plano internacional de determinadas moedas. Observa, ainda, o papel central do dólar na ordem monetária global com o fim do Acordo de Bretton Woods, considerando o caráter dinâmico e ao mesmo tempo inercial do atual sistema monetário internacional.

Analisando as perspectivas do euro enquanto moeda internacional após a crise financeira global, Benjamin J. Cohen faz um breve histórico do euro até os dias atuais, para posteriormente apontar suas deficiências estruturais reafirmadas com a crise. Sob o título Um paraíso perdido? O euro pós-crise, o artigo demonstra que, apesar de suas falhas intrínsecas, a moeda conjunta não deixará de existir, dado o imenso compromisso político que ampara sua permanência. No entanto, conclui que as conquistas do euro, enquanto moeda internacional, têm ficado muito aquém do que se espera e a moeda única está destinada a ocupar um distante segundo lugar em relação ao dólar no sistema monetário internacional.

Democracia
No texto A democracia na zona do euro em tempos de crise, Aline Regina Alves Martins levanta a discussão sobre a recente crise econômica e financeira na zona do euro e suas consequências para a prática democrática na região. De acordo com a autora, as políticas de austeridade impostas pela Troika – FMI, Comissão Europeia e Banco Central Europeu – para combater a crise não consideram a democracia. Isto, não só no que tange aos seus aspectos puramente políticos, mas em seu caráter mais amplo, cada vez mais vinculado ao bem-estar e à dignidade humana. Assim, a crise destaca e aguça os problemas estruturais relacionados à prática democrática em decorrência da complexidade do processo de integração da União Europeia.

No quarto capítulo, o texto Lições de uma análise comparativa das crises financeiras traça um paralelo entre as crises das economias de mercados emergentes com as das economias da zona do euro, apontando suas similaridades e diferenças. O autor, Roberto Frenkel, busca encontrar formas de prevenção a possíveis novas crises, apontando, por exemplo, a necessidade de se reforçar e estender a regulamentação financeira. O autor trata, principalmente, da crise argentina de 2001, a qual considera particularmente interessante para aqueles que procuram lições sobre resoluções de crise. A estratégia para sua resolução envolveu uma grande desvalorização e o resgate e reestruturação do sistema financeiro, com condições favoráveis para o refinanciamento de dívidas privadas nacionais.

No artigo Propostas de reforma do sistema monetário internacional, Luiz Afonso Simoens da Silva discute três alternativas para a reforma do sistema monetário internacional contemporâneo: a inercial, na qual não se defende mudanças significativas na essência do sistema monetário global centrado no dólar; a utópica, proposta de reforma que busca uma transformação profunda no sistema, com a criação de uma moeda de reserva emitida por um banco central global; e a evolutiva, em que se visa o fortalecimento do papel dos Direitos Especiais de Saque com a finalidade de se estabelecer um sistema de reserva global mais estável e equitativo. Simoens acredita que a definição e a implementação de um padrão monetário possuem alto grau de complexidade, demonstrando que a moeda representa não somente poder econômico, mas também político e militar.

Renminbi
Também de autoria de Luiz Afonso Simoens, o artigo O desenvolvimento de zonas monetárias regionais apresenta a evolução de zonas econômicas regionais e o que o Brasil pode aprender com estas experiências para avançar na criação de uma zona monetária regional e tornar o real uma moeda internacional. A análise mostra o caso da zona do euro, apontando a sua estrutura, suas contradições e as possibilidades de se consolidar como moeda-reserva internacional. O autor também avalia a Ásia, em particular a China e seus avanços monetários e financeiros, a fim de transformar o renminbi em moeda conversível em meio a sua estratégia de internacionalização administrada.

No capítulo 7, O papel do dólar e do renminbi no sistema monetário internacional, Marcos Antonio Macedo Cintra e Aline Regina Alves Martins analisam os regimes monetários liderados pela moeda americana e as políticas chinesas de internacionalização controlada de sua moeda. Os pesquisadores apontam para constrangimentos de grande monta do processo de internacionalização do renminbi, devido à natureza e os desafios do processo de desenvolvimento do país. Segundo eles, a China apreende o papel crescente de sua estrutura produtiva e de seu poder econômico e procura fomentar o uso de sua moeda em âmbito internacional, replicando a experiência do euromercado – mercado offshore de renminbi em Hong Kong – e, com isso, diminuir gradualmente sua dependência em relação ao dólar.

Por outro lado, a inserção internacional (e regional) da economia chinesa ocorreu na órbita do dólar, isto é, foi fruto da globalização produtiva e financeira regida pelos Estados Unidos, e seu modelo de desenvolvimento, com elevada autonomia da política monetária, creditícia e cambial, requer a manutenção de sua moeda e de seu sistema bancário com atuação predominantemente doméstica, operando em condições muito especiais. Desta maneira, o modelo de desenvolvimento chinês condiciona o renminbi, ao menos no momento, a desempenhar, no máximo, um papel de moeda-reserva regional.

Por fim, o artigo Além da teoria da estabilidade hegemônica, de  José Gilberto Scandiucci Filho, propõe o debater acerca das sofisticações que seriam necessárias à teoria da estabilidade hegemônica, com o intuito de compreender eficazmente o sistema monetário internacional no período do padrão dólar-ouro. Utilizando os trabalhos da escola gramsciana de relações internacionais, especialmente os de Robert Cox, o autor defende que a necessidade de uma hegemonia no plano internacional para garantir a estabilidade sistêmica é duvidosa. Para ele, a relação entre hegemonia e estabilidade da ordem econômica é muito mais complexa do que apresenta a teoria da estabilidade hegemônica.

Leia o livro ‘As transformações no sistema monetário internacional’