Integração às cadeias globais favorece industrialização

Integração às cadeias globais favorece industrialização

Ipea sediou nesta quarta-feira, 5, no Rio de Janeiro, seminário sobre agenda comercial e Cadeias Globais de Valor

“Embora países com indústrias mais complexas, melhor capital humano e infraestrutura tenham envolvimento mais profundo nas cadeias global de valor, a relação não é direta e países com desenvolvimento similar podem ter taxas de participação muito diferentes”, afirmou o técnico de Planejamento e Pesquisa do Ipea Marcelo Nonnenberg, no seminário Cadeias globais de valor e agenda comercial no século XXI, nesta quarta-feira, 5, no auditório do Ipea, no Rio.

Uma cadeia de valor representa todas as empresas e pessoas envolvidas na produção de um bem ou serviço, desde a sua concepção até o consumo final. O processo envolve as atividades de formulação, produção, marketing, distribuição, etc. O termo CGV designa a dispersão das cadeias de valor pelo mundo, seja através da distribuição de estágios de produção de uma firma entre diversos países ou a terceirização de parte da cadeia de valor desta firma para parceiros externos.

Os pesquisadores e economistas que participaram do encontro alertaram que as cadeias de valor não são a “solução para todos os problemas”. O primeiro dia do evento foi marcado pela discussão sobre a divisão internacional da produção e a sua relação e influência no contexto dos países em desenvolvimento, sobretudo no caso latino-americano.

O diretor de Estudos e Relações Econômicas e Políticas Internacionais do Ipea (Dinte), Renato Baumann, abriu o evento e ressaltou a importância da temática para a casa. “O nosso interesse vai além do acadêmico, é imediato”, ressaltou, ao informar que as cadeias de valor estão presentes na publicação Brasil em Desenvolvimento 2013, editada pelo Instituto. Coorganizador do seminário e representante do Center of Concern, Aldo Caliari reforçou a importância dessa discussão para as políticas comerciais atuais e agradeceu ao Instituto por receber o evento.

Interdependência
Jorge Arbache, economista do BNDES, apontou um revés das cadeias de valor: o perigo da interdependência. No primeiro painel do evento, Arbache citou, como exemplo, o caso do México, que sofreu o baque da crise de 2008 por suas estreitas relações com o mercado norte-americano. Ele salientou, também, que os países que têm um papel secundário nessas cadeias estão longe de poderem gerar mais emprego e renda para o seu povo. Haveria uma governança hierarquizada e as grandes empresas dos países desenvolvidos permaneceriam no topo das cadeias.

Representante da Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (Cepal), Nanno Mulder revelou o aspecto regional das cadeias de valor. “A maioria das cadeias de valor é encontrada em um nível subregional”, disse o representante chileno. Ele exemplificou com as relações entre Brasil e Argentina, e Colômbia com Equador e Peru. “Mas há casos em que as cadeias são realmente globais, como na indústria de aviões”. Para finalizar, ele ressaltou que a América Latina precisa avançar na produção para que possa se atualizar na agenda comercial.

No segundo painel, Sandra Rios, do Centro de Estudos de Integração e Desenvolvimento (Cindes), ressaltou que as cadeias globais de valor têm seus limites e que políticas públicas devem ser discutidas. “Não é uma panaceia”, afirmou. Em sua apresentação, ela abordou a inserção dos recursos naturais nas cadeias. “Há especializações boas e ruins. Pode ser que uma posição numa cadeia de produtos naturais tenha resultado mais positivo do que em uma cadeia de alta tecnologia”.

Lia Valls, da FGV/UERJ foi otimista. “Ainda que limitadas, as cadeias de valor são úteis, pois geram uma integração na região”. Segundo ela, países integrantes de cadeias globais desenvolvem a industrialização. Valls também fez coro aos outros participantes e salientou a importância de políticas públicas que promovam e assegurem o aumento da produtividade.

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