Dicionário Geográfico, Histórico e Descritivo resgata a história do Brasil Império

Dicionário Geográfico, Histórico e Descritivo resgata a história do Brasil Império
A reedição da obra, realizada pelo Ipea e FJP, foi apresentada na última sexta-feira, dia 28, no Rio


“É preciso voltar às raízes para descobrir quais são os desafios futuros”. A fala de Daniel Cerqueira, diretor de Estudos e Políticas do Estados, das Instituições e da Democracia do Ipea, demonstra a importância da reedição crítica do Dicionário Geográfico, Histórico e Descritivo do Império do Brasil, que foi lançada na sexta-feira, dia 28/11, na Fundação Casa de Rui Barbosa, no Rio de Janeiro. A obra, referência obrigatória para a formação histórica do país, foi produzida durante os 26 anos de pesquisa em que o francês Millet de Saint-Adolphe esteve no Brasil e publicada em 1845. A reedição do livro em versão modernizada foi realizada pelo Ipea e pela Fundação João Pinheiro (FJP).

Daniel Cerqueira abriu o evento falando sobre a importância do lançamento do Dicionário em tempos de comemoração dos 50 anos do Ipea e situou as mudanças históricas ocorridas no país, que passa a ser cada vez mais urbano e agora segue para um envelhecimento populacional iminente. Nesse contexto, ele destacou a singularidade do Dicionário Geográfico, Histórico e Descritivo do Brasil, que permite conhecer a história do país e ao mesmo tempo olhar para o futuro. “O Dicionário é um dos primeiros trabalhos a transpassar as fronteiras das províncias e, em vez de pensar somente no Brasil provinciano, pensou o país em larga escala”, disse.

O coordenador da Rede Ipea, Marco Aurélio Costa, adiantou que essa reedição faz parte de um projeto maior chamado “Dicionários do Brasil no século XIX”, esforço conjunto do Instituto e da Fundação João Pinheiro de trazer ao público, em edições impressas, obras de referência do século XIX cuja reedição não foi feita há muito tempo. “Este esforço mostra a pluralidade e amplitude da atuação do Ipea, que comemora neste ano seu jubileu. Esta obra é sem dúvida de extrema importância para os pesquisadores das Ciências Humanas e Sociais.”

O presidente da Casa de Rui Barbosa, Manolo Florentino, destacou a obra como um dos três documentos fundamentais para a fundação do império brasileiro, ao lado do mapa de 1870, de Cândido Mendes, e do censo de 1872, primeiro realizado em território brasileiro. Já a presidente da Fundação João Pinheiro, Marilena Chaves, acentuou a cooperação do Ipea e da FJP e situou o Dicionário nos 45 anos de trabalho da Fundação.

A mesa técnica foi formada pelos pesquisadores Maria Marta Araújo, Renato Pinto Venâncio e Maria do Carmo Gomes. Maria Marta, historiadora da FJP e uma das coordenadoras do projeto, destacou que o Dicionário contribui para retratar a realidade do país e demonstrar o processo de conhecimento histórico nacional. “O Dicionário de Saint–Adolphe conseguiu ser uma das nossas principais fontes para constatar não apenas fatos e números verídicos, mas a diversidade das experiências históricas e espaciais dos diferentes grupos que então formavam o povo brasileiro”, disse.

O historiador da UFMG e autor de um ensaio crítico na publicação, João Venâncio, falou sobre os prováveis aspectos da vida de Saint–Adolphe, baseados nas poucas informações que se têm dele. “Acreditamos que ele nasceu na região da Savóia, no sul da França, em 1780”, disse. Millet trabalhou como topógrafo no Brasil e provavelmente mudou-se para o país como refugiado, após ser militar na época de Napoleão. “Ele provavelmente contou com uma rede de colaboradores, com o possível apoio do próprio imperador.”

Venâncio explicou que, logo após seu lançamento, a obra tornou-se fonte de consulta para confecção dos relatórios oficiais do império. Ao longo da primeira metade do século XX, o Dicionário foi fonte em vários livros fundamentais para se entender a história brasileira, sendo consultado por inúmeros historiadores, sociólogos, economistas e antropólogos, como Alfred Métraux (Migrations historiques des tupi-guarani, de 1927); Caio Prado Jr. (Formação do Brasil contemporâneo, de 1942); Câmara Cascudo (Geografia dos mitos brasileiros, de 1947); e Florestan Fernandes (A organização social dos Tupinambá, de 1949).

Maria do Carmo Gomes também assina um ensaio crítico na reedição da obra e apresentou algumas imagens presentes no Dicionário, que aparecem sem data e sem autoria. “É possível ver as áreas imprecisas de fronteiras das províncias”, afirmou a pesquisadora. As ilustrações da edição original são compostas por cópias pouco modificadas de imagens cartográficas antigas e mostram uma análise da situação geopolítica do país naquela época. “Trata-se de uma cartografia em prosa”, comparou.

Vídeo: Pesquisadores avaliam a reedição crítica do dicionário Saint-Adolphe

Vídeo: confira a íntegra do lançamento da reedição crítica do Dicionário Saint-Adolphe