Quem são os jovens brasileiros?

Quem são os jovens brasileiros?

Ipea realizou seminário sobre a juventude. Na ocasião, foi lançado o livro Dimensões da Experiência Juvenil Brasileira e Novos Desafios às Políticas Públicas

Em 2013, os jovens de 12 a 18 anos incompletos correspondiam a 21 milhões de pessoas no Brasil, cerca de 11% da população, com concentração na região Sudeste,38,7%, seguida da região Nordeste, 30,4%. A maior parte dos jovens são negros (64,87%), 58% mulheres e a imensa maioria (83,5%) é pobre e vive em famílias com renda per capita inferior a 1 salário mínimo. 

Esses são alguns dos dados apresentados por Enid Rocha, técnica de Planejamento e Pesquisa do Ipea, durante o seminário Juventude Brasileira: Novos Desafios às Políticas Públicas. No evento, realizado na sede do Ipea, em Brasília, no dia 30/05, também foi lançado o livro Dimensões da Experiência Juvenil Brasileira e Novos Desafios às Políticas Públicas. No quesito escolaridade, a pesquisadora apontou que há uma grande defasagem entre a idade e o grau de escolaridade atingido, principalmente entre os jovens na faixa de 15 a 17 anos. “Dentre essa faixa etária, cerca de um terço dos adolescentes ainda não haviam terminado o ensino fundamental e menos de 2% (1,32%) havia concluído o ensino médio”. 

Para Paulo Corbucci, também técnico do Ipea, o principal problema é a desigualdade no acesso. Ao analisar dados de 2010, Corbucci constatou que, no Nordeste, entre os jovens de 18 a 29 anos, só 18,4% têm acesso ao ensino superior, enquanto no Sudeste são 48,5%. “Nacionalmente, a taxa de quem frequenta ou já frequentou a escola também é baixa, apenas 18,7%”. O pesquisador enfatizou que medidas como o Prouni (Programa Universidade para Todos) e Fies (Fundo de Financiamento Estudantil) foram avanços com um caráter compensatório importante. “Mas a educação básica é que tem o caráter estruturante de formação daquele jovem”, pontuou.

No seminário, também foi discutida a participação social e organização da juventude. Enid Rocha falou sobre o Conselho Nacional de Juventude e a participação social dos jovens no ciclo de políticas públicas, destacando que atualmente a juventude se envolve muito mais nas questões que afetam o país, colocando suas demandas e exigindo uma maior participação política: “O que aconteceu em junho de 2013 é uma mostra disto. Nós discutimos em alguns capítulos do livro como a participação da juventude ajuda a fomentar e melhorar políticas para a própria juventude”.

Um dos autores do artigo Os Significados da Permanência no Campo: vozes da juventude rural organizada, o pesquisador Leonardo Rauta Martins disse que a maior parte dos jovens deseja permanecer no campo, construindo seus projetos de futuro. Segundo ele, o êxodo, diferente de outras décadas, não se constitui como opção principal dessa juventude rural. Entretanto, essa permanência está condicionada à efetivação de políticas públicas capazes de assegurar o desenvolvimento pleno das suas capacidades. “A juventude quer permanecer, mas não quer permanecer por falta de oportudidades. Ele quer ter todos os direitos que lhes são garantidos na Constrituição, que a gente sabe que em populações periféricas também não são garantidos”, observou.

Uso de TICs pela juventude

No debate seguinte, o técnico do Ipea Cláudio Kubota abordou o uso de Tecnologias da Informação e Comunicação pelos jovens brasileiros, tema do capítulo que assina no livro. De acordo com o pesquisador, há sim diferentes perfis de uso por faixa etária, com prevalência dos mais jovens. Outro aspecto levantado por ele é o de que, uma vez ultrapassada a barreira inicial de acesso à internet, tanto tradicional quanto no celular, o fator etário tem impacto mais relevante que a classe para o uso de redes sociais na internet. Além disso, a conectividade móvel às redes sociais é uma atividade muito mais relevante para os mais jovens do que para os mais velhos.

Frederico Barbosa, autor do texto “Os Jovens Brasileiros e as Suas Práticas Culturais: entre universalismo e singularidades”, ressaltou que o desafio das políticas culturais é reconhecer que as práticas dos jovens não apenas são determinadas estruturalmente. Em sua análise, o pesquisador conclui que tanto os stocks (capitais cultural, econômico e social) influenciam as práticas, quanto as disposições e os repertórios de práticas se consolidam na medida em que as experiências de acesso sejam exitosas e reforcem as disposições próprias para a realização de novas experiências.

Foram realizadas ainda três mesas de debate na parte da tarde. A primeira, sobre o tema Enfrentando as Desigualdades Sociais, foi apresentada pelos pesquisadores do Ipea Enid Rocha e Milko Matijasci, além de Antônio Texeira, como debatedor. Em seguida, André Gambier e Herton Ellery, pesquisadores do Instituto, e Gustavo Venture, professor da Universidade de São Paulo, discutiram os tempos sociais e transição para a vida adulta. Por fim, a escola e trabalho dos jovens brasileiros foi o tema da mesa que contou com a participação dos pesquisadores do Ipea Paulo Corbucci e Carlos Henrique Leite Corseiul.

Permanecer ou não na casa dos pais
O casamento é o fator preponderante para que jovens, entre 18 e 24 anos, saiam da casa dos pais. Durante sua apresentação, Herton Ellery, que analisou dados do Censo de 1991, 2000 e 2010, destacou que, em 2010, mais de 70% dos jovens casados já haviam saído da casa dos pais, enquanto para os solteiros, esse percentual chegou a apenas 8%. “Vemos diferenças entre os sexos quando se trata de ganhar o próprio dinheiro, que aumenta muito a chance de jovens homens morarem sozinhos, mas não interfere tanto na decisão das mulheres”.

Já o fator escolaridade é um ponto decisivo para que jovens do sexo feminino optem por morar sozinhas. Herton ressaltou que quanto menos escolarizada é a mulher, mais cedo ela sai da casa dos pais. “Elas retardam a saída de casa para aumentar a escolaridade? É um ponto importante para se pesquisar”, avaliou o pesquisador.
Outro fator em que a escolaridade interfere é a decisão sobre ter ou não filhos. De cada três jovens entre 18 e 24 anos, um tinha tido filho. “Quanto maior a escolaridade da mulher, menor a probabilidade dela ter filho”, apontou. Já o número de mulheres que se declaram responsáveis pelo domicílio passou de 5,8% em 91, para 31% em 2010. O número de empregadas domésticas também caiu: de 261 mil em 1991, para 52 mil mulheres jovens em 2010.

Vídeo: Confira os destaques do livro sobre as novas práticas e demandas da juventude brasileira

Leia o livro Dimensões da Experiência Juvenil Brasileira e Novos Desafios às Políticas Públicas