Pesquisadores reunidos em seminário analisam processo de desindustrialização

Pesquisadores reunidos em seminário analisam processo de desindustrialização


A microrregião de São Paulo é o grande epicentro da desconcentração, com uma irradiação em direção às regiões Sul e Centro-Oeste

A produtividade da indústria brasileira ficou praticamente estagnada entre 1995 e 2015. Do ponto de vista da questão setorial, a estrutura industrial se concentrou em ramos extensivos, baseados em recursos naturais e, em alguma medida, em mão de obra. O destaque é a atividade extrativa, com grande peso do agronegócio, petróleo e gás e recursos minerais. Houve uma reduzida interligação regional dos ramos industriais: o crescimento das atividades baseadas em recursos naturais teve pouca reverberação sobre o restante da indústria. Essas são algumas das conclusões apresentadas durante o seminário Dinâmicas Territoriais no Brasil: novos desafios para a política e o planejamento regional, ocorrido na sede do Ipea, em Brasília, nesta quinta-feira, 9.

Aristides Monteiro, coordenador de Estudos Regionais e Desenvolvimento Federativo do Ipea, analisou a perda de protagonismo da indústria e como as regiões brasileiras responderam a essa mudança e se reorganizaram setorialmente. A desconcentração é mais forte no interior da região Sudeste, em direção à região Sul, expandindo-se para o Centro-Oeste. As regiões Sul e Centro-Oeste foram responsáveis por 70,6% da perda relativa da região Sudeste.

“O sentido da desconcentração industrial parece seguir as economias de aglomeração do Sudeste/Sul”, explica. Embora com reduzida interligação regional dos ramos da indústria, a economia paulista continua cedendo atividade industrial para demais regiões. “Recentemente temos esse processo vindo para o Centro-Oeste brasileiro, influenciado pelo agronegócio”, pontua Monteiro.

Raphael de Oliveira Silva, pesquisador associado do Ipea, apresentou um quadro geral da desconcentração industrial no interior da região Sudeste e os vetores desse processo. A microrregião de São Paulo é o grande epicentro da desconcentração. As atividades tradicionais são menos concentradas e apresentam maior capacidade de ingressar no interior da região. Já as atividades mais próximas da fronteira tecnológica estão restritas a um grupo menor de microrregiões, que, de maneira geral, possui proximidade com a região metropolitana de São Paulo e a grandes centros urbanos.

Daniel Sampaio, professor do Departamento de Economia da Universidade Federal do Espirito Santo, fez uma apresentação sobre a estrutura manufatureira do chamado corredor econômico São Paulo-Brasília, ou seja, do centro econômico para o centro político-administrativo brasileiro. Em linhas gerais, o pesquisador constatou que houve processos limitados de desconcentração manufatureira em um contexto de relativa melhoria da infraestrutura de transporte e de comunicações, com avanços nas heterogeneidades regionais, setoriais e sociais.

Diversas perspectivas da dinâmica territorial brasileira, além da industrial, foram debatidas durante o evento: a região do Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), mais recente fronteira de desenvolvimento agrícola do Brasil; a rede de cidades no semiárido brasileiro e o mercado de trabalho no Brasil. Participaram Caroline Pereira e Cesar Castro, pesquisadores do Ipea; Adriana Alves, especialista em políticas públicas do Ministério de Integração Nacional; e Fernando Macedo Mota, professor do Instituto de Economia da Unicamp.