Chamada de artigos para a edição nº 44, 2026/1, do Boletim de Economia e Política Internacional
Publicado em 02/10/2025 às 19h03 - Última modificação em 02/10/2025 às 16h06
Tema da edição especial: Geoeconomia na Encruzilhada – A Confluência do Governo Trump II e da Ascensão Econômica da China
Prazo de submissão: 18 de dezembro de 2025
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A geoeconomia, definida como o uso de instrumentos econômicos para alcançar objetivos geopolíticos, firmou-se como um pilar central da política externa contemporânea. No cenário global atual, duas forças dominantes – o segundo mandato de Donald Trump (Trump II) nos Estados Unidos e a ascensão econômica da China – convergem para reconfigurar profundamente o tabuleiro mundial, moldando não apenas as economias domésticas, mas também as relações internacionais em escala global.
O governo Trump II, iniciado em janeiro de 2025, amplifica o uso do protecionismo econômico como ferramenta de poder e segurança nacional. Rememorando o primeiro mandato, que já sinalizava uma ruptura com o multilateralismo liberal, Trump II vem implementando uma agenda agressiva de tarifas, com taxas médias subindo para aproximadamente 17% em meados de 2025. No entanto, tal política tarifária não visa apenas reduzir déficits comerciais bilaterais, como também pressionar as demais nações a negociar em termos favoráveis aos Estados Unidos, remodelando o sistema comercial global. Essa política é profundamente influenciada pelos defensores do movimento MAGA (Make America Great Again), que veem a globalização como prejudicial aos Estados Unidos, uma vez que teria causado a desindustrialização e a perda de empregos de qualidade.
Todavia, a despeito do acirramento recente, esse movimento deve ser entendido como uma continuação de uma trajetória iniciada no primeiro mandato de Trump. Estratégias de contenção da China têm sido empreendidas por todas as administrações americanas recentes – Trump I, Biden e Trump II – com crescente preocupação com o controle de tecnologias emergentes, como inteligência artificial (IA) e semicondutores, intensificando controles de exportação para limitar o acesso chinês e preservar a liderança americana em inovação.
Como salientado na edição especial n. 40 deste Boletim de Economia e Política Internacional, a ascensão econômica da China representa um dos fenômenos mais transformadores do século XXI, reconfigurando o equilíbrio de poder global. Se durante as três primeiras décadas após o início da abertura promovida por Deng Xiaoping a China foi uma grande absorvedora de tecnologias e conhecimentos gerados além-mar, o que lhe possibilitou alcançar a condição de “grande fábrica do mundo”, a partir dos anos 2010 a estratégia chinesa ganhou novos contornos, que enfatizam a busca pela autossuficiência e pela liderança tecnológica global, como expresso no plano Made in China 2025. Também nesse período, com a chegada de Xi Jinping à presidência, a política externa da China tornou-se mais assertiva e ambiciosa, como bem exemplificado pela "Iniciativa Cinturão e Rota" (Belt and Road Initiative - BRI), que conecta cerca de uma centena e meia de países por meio de volumosos investimentos em infraestrutura.
O estado de coisas do mundo atual está irremediavelmente ligado a essas duas estratégias. As políticas do governo Trump II, com suas tarifas elevadas e restrições tecnológicas, embora possam contribuir para uma parcial reindustrialização, parecem objetivar sobretudo conter seu principal rival na corrida tecnológica global. Ademais, os Estados Unidos, principais beneficiários da ordem global instituída após a II Guerra Mundial, vêm rapidamente se retirando de inúmeros organismos multilaterais, denunciando-os como antagônicos aos seus interesses. A China, por seu turno, se converteu em um dos principais patrocinadores do sistema de regras atualmente existente no sistema internacional. Além disso, por meio de investimentos e financiamentos a projetos de infraestrutura, a China vem ampliando sua influência muito além de seu entorno imediato, contribuindo assim para ampliar as tensões geopolíticas em regiões consideradas esferas de influência de outras potências regionais ou globais. Está emergindo uma nova (des)ordem global, ancorada em uma redistribuição de poder e na reavaliação dos custos e benefícios da ordem do pós-guerra aos olhos dos principais atores do sistema?
Esta edição especial do Boletim de Economia e Política Internacional busca explorar essas dinâmicas complexas, convidando contribuições que analisem como diferentes países – especialmente os Estados Unidos e a China, embora não somente estes – utilizam instrumentos econômicos como arma geopolítica e como suas interações reconfiguram o sistema internacional. Artigos que combinem teorias geoeconômicas com evidências empíricas serão particularmente bem-vindos, visando enriquecer o debate sobre o futuro das relações internacionais, assim como prover o Estado brasileiro de subsídios para a elaboração e a implementação de estratégias para melhor navegar nesses mares turbulentos.
Entre os subtemas sugeridos (embora não restritos a eles) estão:
- Rivalidade tecnológica Estados Unidos-China: políticas comerciais e industriais voltadas à liderança tecnológica em setores como inteligência artificial e semicondutores
- Impacto das tarifas do governo Trump II e das políticas industriais chinesas no sistema multilateral de comércio e nas cadeias globais de valor
- Relações entre alinhamento geopolítico e variáveis econômicas tais como fluxos de comércio, investimento, financiamento externo e cooperação internacional
- Impacto das políticas de reshoring, “nearshoring” e “friendshoring” sobre as economias envolvidas e as cadeias globais de valor
- A imposição de normas, padrões e regulações com efeitos transfronteiriços com objetivos geopolíticos
- Impacto das políticas comerciais e industriais dos Estados Unidos e da China sobre suas alianças políticas
- Geopolítica e geoeconomia da energia e dos minerais estratégicos
- O uso da Iniciativa do Cinturão e Rota (BRI) como instrumento geoeconômico
- As estratégias de países, blocos e regiões específicos para lidar com a crescente rivalidade Estados Unidos-China
- Geoeconomia e segurança nacional: Restrições a investimentos estrangeiros, controle de cadeias de suprimentos e busca por autossuficiência tecnológica em indústrias críticas.
- Perspectivas futuras do sistema internacional: Como as ações geoeconômicas individuais fragmentam a economia global, impulsionam a multipolaridade e remodelam a governança internacional.
Diretrizes para os autores:
- O artigo deve ser editado em Microsoft Word ou em editor de texto compatível (extensões doc ou docx). Nele, devem constar os nomes completos dos autores – o processo de desidentificação (para submissão a pareceristas) será realizado pelos editores da publicação.
- Máximo de 15 mil palavras (excluídas as referências e anexos). O artigo também deve conter um resumo e um abstract (em inglês) de até 200 palavras, além de até cinco palavras-chave/keywords.
- O artigo pode ser escrito em português ou em inglês. Citações devem ser traduzidas para o idioma do texto – ou seja, se o idioma do texto for português, citações em outros idiomas devem ser traduzidas para o português (a critério do autor, a citação no idioma original pode ser incluída em nota de rodapé).
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- Se o artigo for aceito para publicação, gráficos, tabelas, figuras e mapas deverão ser enviados separadamente, de preferência em formato editável. Devem ser numerados sequencialmente (conforme o tipo) e conter legenda, fonte (com indicação de URLs, quando possível) e indicação de autoria.
- No caso de utilização de siglas e acrônimos, deve constar seu nome por extenso na primeira vez que aparecer no texto. Posteriormente, é suficiente sua versão abreviada.
- Os artigos devem ser enviados identificados para: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.
- Prazo para submissão: até 18 de dezembro de 2025.
- Os artigos submetidos receberão uma primeira resposta (aceite, análise por pareceristas ou rejeição) em até 30 dias após a data de submissão.
- Os artigos aceitos serão publicados na página do Repositório do Conhecimento Ipea (https://repositorio.ipea.gov.br/home) tão logo sejam concluídos os respectivos processos de revisão, editoração e diagramação.

