Helio Montferre/Ipea
O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgou nesta segunda-feira (02/10) o resultado preliminar da segunda fase do processo seletivo da 6ª Turma do Mestrado Profissional em Políticas Públicas e Desenvolvimento, conforme o Edital nº 06/2023.
A Comissão de Seleção da 6ª turma do Mestrado Profissional em Políticas Públicas e Desenvolvimento anunciou as notas preliminares dos candidatos convocados para entrevista e análise de currículo. Os candidatos têm até o dia 4 de outubro para apresentar recursos. Para isso, devem utilizar o formulário contido no Edital e enviar por e-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.
Requerimento e documentação comprobatória
Recursos apresentados fora das condições estabelecidas no edital não serão considerados. As notas divulgadas nesta fase são preliminares e podem sofrer modificações até a divulgação do resultado definitivo, previsto para a próxima sexta-feira, 6 de outubro.
Para esta próxima turma estão previstas 25 vagas, sendo quatro reservadas para pessoas negras e indígenas e uma para pessoas com deficiência. Para mais informações sobre o processo seletivo, os candidatos podem acessar o site oficial do Ipea e consultar o Edital nº 06/2023, ou visitar a página do Mestrado para detalhes adicionais.
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Helio Montferre/Ipea
O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgou, nesta sexta-feira (29), a Visão Geral da Conjuntura, uma análise detalhada sobre o desempenho da economia brasileira no terceiro trimestre de 2023. O Grupo de Conjuntura da Diretoria de Estudos e Políticas Macroeconômicas (Dimac) do Ipea reavaliou a projeção do Produto Interno Bruto (PIB) no Brasil, com uma revisão da alta de 2,3%, da última publicação, para 3,3% em 2023. Para 2024, a previsão de 2,0% foi mantida, conforme a tabela abaixo:
Internamente, as políticas adotadas pelo governo de transferência de renda, valorização do salário mínimo e demais programas sociais, permitem a sustentação da renda das famílias. O aumento do poder de compra da renda das famílias dinamizou o consumo e aquisição de serviços. A expansão da atividade de serviços, um setor altamente empregador, interage com o bom desempenho dos indicadores de mercado de trabalho, com aumentos na população ocupada e na massa salarial real. Além disso, o orçamento familiar, antes bastante pressionado pelos níveis de endividamento e pelo encarecimento do crédito, tem tido algum alívio proveniente da descompressão das taxas de inflação e de medidas de renegociação de dívidas das famílias de baixa renda através de programas como o Desenrola Brasil. A política fiscal também permite a expansão dos serviços públicos essenciais capitados na expansão do consumo do governo.
O componente da demanda interna que vai na contramão desse movimento são os investimentos produtivos: a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), especialmente em máquinas e equipamentos, que pressionou a demanda interna para baixo. Os investimentos em construção, no entanto, continuam em trajetória de alta, mesmo com a elevada taxa de juros no crédito imobiliário. O setor é altamente empregador e tem papel protagonista na expansão da ocupação formal do ano, depois do setor de serviços.
No plano internacional, além da reabertura econômica da China no primeiro semestre de 2023, a economia norte-americana tem mostrado dinamismo, contrariando os indicadores antecedentes tradicionais de recessão. O segundo aspecto relevante refere-se ao aumento da participação de mercado dos produtores brasileiros no comércio internacional de soja e petróleo, antes atendido por outros concorrentes. Esse ganho de novos mercados faz com que a taxa de crescimento das exportações brasileiras seja superior à taxa de crescimento do comércio internacional.
A produção agropecuária brasileira, em especial no Centro-Oeste, vem se beneficiando do clima desfavorável para as colheitas de grãos na Argentina e nos Estados Unidos. Dados das Contas Nacionais do Brasil do primeiro semestre de 2023 indicam forte elevação da atividade da agropecuária, uma alta de 17,9% em relação ao primeiro semestre de 2022, que vem encontrando nos mercados internacionais facilidade de escoamento dessa produção. Já os estoques, que haviam sido acumulados no primeiro trimestre, mostram queda no segundo trimestre, provavelmente devido à venda dos produtos agropecuários e seus processados.
O Brasil tem aproveitado esse cenário favorável para manter sua posição de liderança no mercado internacional e ampliar sua participação nos embarques mesmo de commodities, até então com menos peso na pauta de exportação. Para o ano, o Ipea elevou a projeção de crescimento do valor adicionado da agropecuária de 13,2% para 15,5% devido ao desempenho positivo das culturas de soja e milho, cana-de-açúcar e algodão, além das produções de bovinos e aves.
Os pesquisadores ressaltam também que outro fato notório desses primeiros oito meses do ano é o desempenho da arrecadação tributária do governo central. Apesar do ritmo de crescimento do produto elevado, a arrecadação tributária sofreu queda, levando ao aparecimento de um déficit primário. Essa aparente contradição está relacionada a fatores excepcionais ocorridos em 2022 que não se repetem em 2023, sendo o principal deles a própria dinâmica dos preços das commodities nos mercados internacionais, em especial do petróleo, e seu efeito sobre a base de arrecadação tributária da economia brasileira.
No que diz respeito à inflação, as previsões da Dimac para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) foram reduzidas de 5,1%, em junho, para 4,8%, em setembro, enquanto o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) em 2023 também foi revisto, recuando de 4,9% para 4,5%. A queda nos preços dos alimentos vem sendo o principal fator de alívio para a inflação ao consumidor em 2023, sobretudo para as famílias de menor poder aquisitivo, tendo em vista que as classes de renda mais baixas gastam, proporcionalmente, uma parcela maior dos seus orçamentos com a compra de itens alimentícios. Assim, no acumulado do ano, enquanto a inflação da classe de renda muito baixa aponta alta de 2,3%, a taxa registrada na faixa de renda alta é de quase 3,8%.
Já em relação à política monetária, supõe-se que o ciclo de flexibilização iniciado em agosto de 2023 leve à redução gradual da meta da taxa Selic – que fecharia 2023 em 11,75% ao ano (a.a.) e chegaria a 9,0% a.a. ao final de 2024. No front fiscal, a hipótese é que a melhora gradual do resultado primário do setor público a partir de 2024 permita manter sob controle o grau de incerteza associado à evolução futura das contas públicas – contribuindo, assim, para um ambiente macroeconômico estável, pelo menos no curto prazo. Aliado a certa estabilidade do ambiente externo e dos preços de commodities, nosso cenário pressupõe também uma taxa de câmbio relativamente estável no horizonte de projeção.
Há elementos que causam incertezas sobre o desempenho da economia brasileira no futuro próximo. A indústria de transformação ainda mostra um quadro de estagnação, com queda de 1,3% no primeiro semestre do ano, de acordo com as Contas Nacionais, mostrando que a atividade manufatureira ainda encontra dificuldade de crescimento, com exceções tópicas. Existe um alto custo para financiar o capital de giro das empresas, com uma piora dos indicadores de fragilidade financeira, além do aumento da inadimplência das pessoas jurídicas, especialmente para essas linhas de financiamento de curto prazo, necessárias para o bom funcionamento das empresas.
A estagnação dos investimentos produtivos, por outro lado, tende a ser superada caso as medidas anunciadas pelo governo federal, do novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), em vigor. O novo PAC foi anunciado com estimativas de R$ 1,7 trilhão de investimentos a serem realizados nos próximos quatro anos. O desenho do programa e, sobretudo, o grau de complementaridade entre investimentos públicos e privados são elementos centrais para o desempenho da FBCF.
O Grupo de Conjuntura da Dimac alerta também que tais projeções podem ser frustradas por conta de externalidades causadas pelas incertezas quanto ao rumo da política monetária dos países centrais, especialmente nos Estados Unidos, a fatores climáticos, a instabilidades geopolíticas e ao quadro interno desafiador de estagnação dos investimentos em máquinas e equipamentos e da indústria da transformação doméstica.
Acesse a Visão Geral da Carta de Conjuntura
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Albino Oliveira/Ipea
A ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, apontou o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) como “parceiro decisivo” na elaboração do Plano Plurianual (PPA). O documento é uma das leis orçamentárias previstas na Constituição Federal e instrumento fundamental de planejamento de médio prazo do governo. A ministra esteve presente, na manhã desta quinta-feira (28), da solenidade de apresentação da Agenda Estratégica do Ipea para o período que vai de 2024 a 2026. O intervalo tem uma importância simbólica para o Instituto, já que a entidade completará 60 anos de sua fundação em 2024. Ao lado da presidenta do Ipea, Luciana Mendes Santos Servo, a ministra saudou a importância da construção em torno do PPA.
O Ipea, disse a ministra, foi parceiro decisivo na elaboração do PPA e para que pudéssemos apresentar o PPA mais participativo da história do Brasil. Também acrescentou: "É bom ressaltar aqui dentro do Ipea o quanto vocês foram importantes para esse processo. Já entregamos muito nesses seis meses. Entregamos, graças ao Ipea e ao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), um PPA que dá rumo aos próximos quatro anos, sobre o Brasil que queremos nos próximos quatro anos”.
Tebet assinalou que a tarefa, a partir de agora, é responder às demandas mais sensíveis da população brasileira. “O combate à fome, a geração de emprego e renda com carteira de trabalho, e os recursos necessários para as obras de infraestrutura, especialmente para o Minha Casa, Minha Vida. É um projeto muito caro para as mulheres, para as mães. Para que elas possam ter um teto para morar e chamar de seu. Isso tudo passa pelo trabalho do Ipea, do IBGE e do Ministério do Planejamento”, acrescentou a ministra.
A presidenta do Ipea destacou a importância da recriação do Ministério do Planejamento. “Sentimos muito a ausência do Ministério do Planejamento. O retorno do planejamento como atividade para o centro do governo é um aspecto motivador de toda a discussão que fazemos, de uma agenda que pensa uma outra forma de organização desse Estado. Essa parceria com o Ministério do Planejamento é um dos grandes destaques dessa agenda que apresentamos hoje”, declarou Luciana durante a solenidade.
A perspectiva de construção de pontes e parcerias é, segundo Luciana, um estímulo que norteia a própria agenda estratégica do Ipea, apresentada oficialmente nesta manhã. “O motivador dessa agenda que apresentamos é pensar de forma estratégica como vamos construir essa parceria com o ministério e todas as demandas que temos, que vêm de outros órgãos do setor público. Essa apresentação tem esse objetivo, trazer o resultado da discussão dos últimos seis meses e pensar um processo de organização e coordenação de 2024 a 2026”, resumiu a presidenta do Ipea.
Além de membros da diretoria colegiada do Ipea, participaram da solenidade o secretário-executivo do Ministério do Planejamento e Orçamento, Gustavo José de Guimarães e Souza, a secretária nacional de planejamento, Leany Barreiro de Sousa Lemos, e os assessores especiais da ministra, Juliana Damasceno de Sousa e João Victor Villaverde de Almeida. Também esteve presente ao ato o assessor especial da presidência do IBGE, Denis Maracci Gimenez.
A secretária Leany reforçou o coro da ministra sobre ter o Ipea como um parceiro no contexto de elaboração do PPA. Ela falou brevemente sobre o histórico recente de resgate do ministério e da relação com o instituto. “Foi muito importante, ao chegar, ter o Ipea como grande parceiro. A participação dos membros do Ipea nas 125 oficinas. Tenho de agradecer”.
Agenda estratégica 2024-2026
Perguntada sobre a agenda estratégica do Ipea e já falando sobre a perspectiva da apresentação realizada pela presidenta da entidade, a ministra respondeu que há convergência e sintonia com a agenda estratégica do governo. "Primeiro, porque a agenda do governo foi feita e elaborada em parceria e com o apoio do Ipea. Pelo menos essa agenda de médio prazo. Não só a nossa, do PPA, quanto a agenda de planejamento estratégico para 2024-2026. Aproveito para parabenizar a diretoria colegiada do Ipea. Essa apresentação foi feita como fruto do trabalho de vocês e é impactante para quem olha. Um órgão que tem uma importância tão grande, com uma estrutura tão pequena, ser capaz de apresentar tanto em tão pouco tempo. Não é para qualquer um”, avaliou a ministra.
Ao longo da apresentação do documento do Ipea, Luciana explicou que o trabalho foi realizado a partir de algumas questões que vêm sendo debatidas há muito tempo pela entidade, como o desenvolvimento sustentável e inclusivo, por exemplo. “Nesta conjuntura, quisemos reforçar que o desenvolvimento vai muito além de uma discussão econômica stricto sensu. Economia é uma parte do desenvolvimento. A inclusão e a sustentabilidade são fundamentais. É muito difícil construir um processo de desenvolvimento sem pensar em como vai funcionar e em qual regime trabalhamos, que é uma democracia. Então, rediscutir a democracia e recolocar as questões democráticas era algo fundamental para nós. Por isso, nosso chamado desta agenda tem esse destaque, que é o trabalho para uma agenda de desenvolvimento inclusivo, sustentável e democraticamente construído”, disse a presidenta.
Luciana lembrou ainda como os resultados do novo Censo Demográfico representam novos desafios para o planejamento estratégico do país. Não só na discussão com o Ministério do Planejamento, mas no diálogo direto com o IBGE. “Temos de pensar quais são as questões que o censo trouxe depois de anos de trabalhos feitos a partir de dados de 2010. Para fazermos nossas análises, temos todo um novo conjunto de informações, mas, mais do que isso, um conjunto de desafios para pensar”. A presidenta do Ipea salientou questões com o envelhecimento populacional que, segundo ela, deve ser visto como uma oportunidade.
Concurso do Ipea
Ao final da solenidade, a presidenta do Ipea ressaltou respeito institucional da ministra para com o Ipea: “Esse respeito que a ministra Simone Tebet tem demonstrado pelo Ipea tem sido fundamental. É um respeito imenso. Queria reforçar um dos respeitos que é entender que precisamos de um concurso. Assim que a gente sentou aqui, ela falou que compreendia. Já foi enviado o projeto da carreira e temos de avançar porque essa questão da carreira é um outro aspecto. Então, tem coisas institucionais, para além da agenda estratégica, que são fundamentais para a instituição funcionar. Temos tido o apoio da secretaria executiva e da ministra para construir essa instituição mais fortalecida, não só na sua agenda externa, mas na sua discussão interna”, disse Luciana.
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A atuação das plataformas digitais e a “uberização da economia” são um dos assuntos mais discutidos atualmente no mundo. O seminário sobre Reforma Trabalhista na Espanha e Regulamentação das Plataformas Digitais, realizado nesta quinta-feira (28) no Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), apresentou estudos sobre a temática. O evento contou com palestras do professor titular da Faculdade de Ciências Econômicas e Empresariais da Universidade Autônoma de Madri, Julimar da Silva Bichara, e do professor-doutor de direito do trabalho e seguridade social da Universidade Autônoma de Madri, Luis Gordo Gonzáles, com mediação do pesquisador do Ipea, José Aparecido Carlos Ribeiro.
Com uma legislação pioneira e a regulação do trabalho por “algoritmo” e seguindo orientação da Organização Internacional do Trabalho (OIT), a Espanha reconheceu, em 2022, vínculo empregatício entre entregadores e as plataformas digitais. Os trabalhadores passaram a ter direito à informação sobre as decisões tomadas com base no gerenciamento das decisões das plataformas. A norma permite que os sindicatos tenham acesso às regras laborais sobre as quais as empresas baseiam os algoritmos. Com essa nova relação trabalhista estabelecida, os colaboradores das plataformas de “delivery” tiveram os direitos trabalhistas assegurados por serem considerados empregados e não mais autônomos na prestação de serviço.
Para Bichara, a reforma do mercado de trabalho espanhol contraria à tendência de desregular e flexibilizar a legislação, que reduz os direitos dos trabalhadores. O governo atual, que é de centro esquerda, tomou medidas que recuperaram os direitos e a qualidade das relações de trabalho, sem que prejudicasse a dinâmica da economia espanhola e o crescimento econômico.
A reforma de 2022 foi em contraposição à mudança realizada na gestão anterior, que aconteceu em 2012 em meio a pressões da União Européia por maior austeridade, e reduziu a proteção propiciada pela legislação e diminuiu o poder de negociação dos sindicatos. A recente reforma limitou a flexibilidade e devolveu o poder de negociação dos sindicatos, favorecendo os convênios setoriais e criou mecanismos de ajuste a crises cíclicas visando a manutenção dos postos de trabalho e o nível de emprego.
O professor Bichara acredita que outra medida que precisa ser destacada é a valorização do salário mínimo, que cresceu mais de 30% desde 2018, sem gerar desemprego. A taxa de desemprego na Espanha caiu de 17% para 12%. “É importante analisar o caso espanhol porque mostra evidência de que a política de emprego pode perfeitamente proteger o trabalhador sem que isso aumente o desemprego”, disse Bichara.
A nova lei passou por negociações entre as partes interessadas que são o Ministério do Trabalho, grupos empresariais e sindicatos que representam os trabalhadores. Segundo os autores não foi fácil fechar o acordo, pois as empresas alegavam que o trabalho dos entregadores era autônomo. A justiça espanhola interpretou que havia relação de emprego entre as partes. Foram três os critérios para se afirmar que existia vínculo de emprego: fazer atividades de entrega ou distribuição; a empresa exercer poder de direção via plataforma digital; e o uso de algoritmo para determinar as condições de trabalho e a gestão do serviço.
Com a intenção de apontar que há controle da empresa sobre o trabalhador, o professor Gonzáles trouxe depoimentos de várias pessoas que mostraram que há sinais de dependência entre as partes. Primeiro, o trabalho nas plataformas digitais é pessoal e por meio de um aplicativo acessado com nome de usuário e senha. Uma entregadora disse que o aplicativo media os comportamentos que a empresa classificava como bons ou ruins. Outro detalhe relatado pelos trabalhadores era de que a empresa aplicava sanção, retirando horas de atividade, caso a pessoa não trabalhasse às sextas-feiras, sábados e domingos. As plataformas defendem que é essencial trabalhar aos finais de semana.
Havia sinais de alienação, como o uso de bolsa térmica e roupas com logomarca da empresa. Os trabalhadores precisam pagar para a empresa e usar esses itens, sem eles, não podem iniciar a entrega das mercadorias. Para mostrar que a empresa tem controle, os defensores da lei perguntam se os trabalhadores podem negociar a remuneração. Como é impossível, se definiu que não há autonomia na tarefa. Outro ponto analisado é a supervisão eletrônica e se o trabalhador tem alguma consequência ao recusar um serviço.
Trabalho por aplicativo entre os brasileiros
No Brasil, os trabalhadores por aplicativo não têm direitos reconhecidos pela Consolidação das Leis do Trabalho. Segundo dados do Ipea, no período de 2016 a 2021, cerca de 1,5 milhão de trabalhadores em atividade no setor de transporte de passageiros e de mercadorias no Brasil estavam inseridos na chamada “Gig Economy”, sendo 945 mil motoristas de aplicativo e taxistas (61,2%). Gig Economy é a relação de trabalho entre funcionários e empresas que contratam mão de obra para realizar serviços temporários e sem vínculo empregatício.
Assista a íntegra do seminário
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Helio Montferre/Ipea
A população de menor renda é mais negativamente afetada pelos congestionamentos de trânsito quando busca acessar vagas de trabalho. A conclusão é do estudo “Os Impactos Desiguais do Congestionamento Urbano no Acesso a Empregos”, publicado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) nesta quinta-feira (28). O trabalho avalia os impactos dos congestionamentos no acesso a oportunidades de empregos nas 20 maiores cidades do Brasil. O levantamento aborda a questão num prisma pouco explorado na literatura sobre os efeitos de engarrafamentos e busca analisar quais classes sociais são mais impactadas pelo trânsito lento.
De acordo com o estudo, as cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília são as mais afetadas pelas limitações impostas pelos congestionamentos na perspectiva de acesso a postos de trabalho. A redução da quantidade média de empregos acessíveis nesses municípios por causa do trânsito carregado é de 40,7%, 35,1% e 24,6% respectivamente. Por outro lado, Goiânia, Campo Grande e São Gonçalo (RJ) são as cidades menos afetadas pelos congestionamentos nesse contexto. A redução de acesso às oportunidades de trabalho nessas cidades é de 0,6%, 2,1% e 3,2% respectivamente, na comparação com os horários de trânsito livre.
O levantamento realizado aponta que embora os congestionamentos afetem a todas as classes sociais, eles têm um impacto maior sobre populações de baixa renda. Nas cidades com mais desigualdades entre aquelas abrangidas no trabalho, São Paulo e Belo Horizonte, a população mais pobre tende a ser aproximadamente entre três e onze vezes mais impactada pelos congestionamentos do que a população mais rica. Na capital paulista, por exemplo, no horário de pico, os grupos de maior renda deixam de acessar 20% das vagas que acessaria com trânsito livre. Para os grupos de menor renda, 56% dos empregos tornam-se inacessíveis por causa dos congestionamentos.
A diferença que limita o acesso de ricos e pobres em picos de congestionamento está associada à combinação de dois fatores: os padrões espaciais de localização de empregos e classes sociais e os padrões espaciais de congestionamento. Resumidamente, os terrenos mais próximos dos centros de empregos, muitas vezes próximos ao próprio centro das cidades, são mais caros. Por isso, segmentos de maior renda têm mais chance de ocupar espaços próximos a esses locais.
Em contrapartida, populações de baixa renda tendem a habitar áreas periféricas, onde os terrenos são mais baratos. Esses segmentos acabam sofrendo mais com os congestionamentos por terem de percorrer distâncias maiores, por meio de ruas e avenidas com maiores engarrafamentos, para chegar a áreas centrais, onde estão localizados os empregos.
O estudo esclarece que, embora as áreas centrais e mais próximas de centros de empregos sejam as que concentram grande parte do sistema viário com maiores índices de lentidão no trânsito, as distâncias percorridas dentro desses perímetros pelas pessoas que ali residem são menores. O tempo gasto nesses deslocamentos é bem menor porque as distâncias são relativamente pequenas e podem ser percorridas por modos alternativos, como as bicicletas, ou mesmo a pé. Assim, a população de maior renda consegue acessar mais vagas de trabalho porque enfrenta congestionamentos por menos tempo em trajetos mais curtos.
Um outro elemento agravante da situação de exclusão da população de baixa renda verifica-se nas áreas mais remotas das periferias, ocupadas por populações em situação de extrema pobreza. Nessas áreas, o estudo mostra que o impacto dos congestionamentos é relativamente mais baixo. O motivo é que essas regiões são tão afastadas dos centros que seus habitantes não têm oportunidade de acesso a empregos mesmo com trânsito livre (considerando o intervalo de tempo de viagem analisado no estudo, de 15 a 45 minutos de viagem de carro). “A situação desse grupo de renda pode ser descrita como um deserto de oportunidades”, resumem os pesquisadores e autores da publicação.
Método
O levantamento usou a base de dados de tráfego StreetMap Premium, baseado nos dados de speed profiles da HERE. As matrizes de tempo de viagem com fluxo livre foram calculadas com partida às 4h da madrugada. Para as matrizes de hora-pico, utilizou-se a mediana dos tempos de viagem considerando múltiplas partidas a cada quinze minutos no período que vai das 6h às 8h. O motivo desta abordagem é que se procurou diminuir possíveis vieses gerados por uma escolha arbitrária de um único horário de partida.
Já os dados de localização de empregos formais foram obtidos do Relatório Anual de Informações Sociais (Rais) de 2019 do Ministério do Trabalho. Essas vagas de trabalho foram então geolocalizados por meio das informações de endereço com o software proprietário ArcGIS Pro e a API do Google Maps.
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