Índice calculado pelo Ipea permanece na zona de instabilidade, mas subiu mais de cinco pontos entre abril e maio
O Índice de Qualidade do Desenvolvimento (IQD) referente a maio teve evolução positiva, o que comprova a trajetória de melhoria observada desde março. Embora ainda permaneça na zona de instabilidade, o índice calculado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) subiu mais de cinco pontos entre abril e maio, chegando a 232,52. Para o país atingir uma qualidade de desenvolvimento considerada "boa", é preciso passar dos 300 pontos.
Dentre os três subíndices que compõem o IQD, o que mais colaborou para o desempenho observado em maio foi o Índice de Qualidade do Bem-Estar (305 pontos). Esse bom resultado se explica pela queda de 1,1% no desemprego, ao aumento em 0,5% do número de pessoas com rendimento superior a R$ 1.660,00, e à diminuição em 1,1% do Índice de Gini (usado para mensurar a desigualdade social).
Já o Índice de Qualidade do Crescimento, que em abril havia registrado 200,92, evoluiu no mês seguinte para 201,59. O terceiro subíndice, o de Qualidade da Inserção Externa, passou da classificação "ruim" para a "instável" ? de 195,95 pontos em abril para 202,70 em maio. Essa melhoria, de acordo com o boletim, é justificada pela evolução nas reservas internacionais e a variação dessazonalizada de -1,2% na renda líquida enviada ao exterior.
Embora ainda esteja longe do patamar alcançado em novembro de 2007, antes da crise internacional (334,20 pontos), o IQD dá demonstrações claras de que as condições de desenvolvimento reagem à turbulência econômica nos países ricos. O índice é calculado todos os meses, e as fontes utilizadas para sua elaboração foram o IBGE, o Banco Central, a FGV, o Inpe e o próprio Ipea.
Leia o IQD referente ao mês de maio
Comunicado da Presidência analisa a propagação da crise nas cinco regiões do Brasil
Comércio Exterior, Difusão Inter-Regional da Crise Internacional no Brasil e as Perspectivas foi o tema do 26º Comunicado da Presidência do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), divulgado na quinta-feira, dia 13, em Brasília. No documento, a crise mundial foi analisada segundo os seus diferentes impactos nas regiões do Brasil. Liana Carleial, diretora de Estudos Regionais Urbanos (Dirur) do Instituto, iniciou a apresentação dizendo que "a crise se instalou inicialmente na região Sudeste e foi se disseminando pelas outras regiões do país".
No período de janeiro a julho de 2009 foi observada a diminuição das exportações brasileiras, sobretudo as de produtos industrializados, devido à crise que se iniciou nos Estados Unidos. Isso impactou, num primeiro momento, a região Sudeste do Brasil, afetando em cadeia as demais localidades. Rodrigo Pereira, coordenador de Estudos sobre a Crise, observou, no entanto, que regiões do país foram atingidas de forma diferenciada pela crise. "O nosso objetivo é investigar o padrão espacial da propagação da crise".
A queda na produção industrial do estado de São Paulo, por exemplo, foi maior do que a média nacional. Isso se deve à maior integração da região Sudeste com o resto do mundo. Segundo Pereira, "o impacto da crise que atingiu a região Sudeste afetou indiretamente as outras regiões". Isso explica as maiores taxas de queda na produção industrial em estados como Minas Gerais, Espírito Santo e São Paulo. O Nordeste foi a região que menos sofreu com a queda na produção na região Sudeste, o que seria um sinal de menor integração.
Recuperação
Os dados de maio de 2009, última observação até a elaboração do estudo, apontam para uma recuperação da produção industrial no Brasil em todas as regiões. Para Marcelo Piancastelli, técnico de Planejamento e Pesquisa do Ipea, nessa crise, o Brasil apresenta a maior resistência às diversidades vindas do exterior. "Iniciada a crise, tivemos redução no emprego e na renda, porém, o impacto sobre as classes menos favorecidas ou na renda foi menor, até porque a inflação continuou baixa", enfatizou. Para o técnico, o fato de as reservas internacionais não terem sido abaladas, a inflação estar sobre controle e a relação dívida/PIB manter-se estável são fatores extremamente favoráveis em relação às crises anteriores enfrentadas pelo Brasil.
Piancastelli disse ainda que o mercado interno aquecido, por meio de medidas anticíclicas e políticas sociais do governo, e a exportação de commodities, com o aumento das exportações para a China, foram responsáveis pelo menor impacto da crise internacional no país.
O Comunicado da Presidência nº 26 teve transmissão on-line pelo site www.ipea.gov.br, sendo acompanhado por jornalistas de todo o país.
Emprego reage aos poucos, mas massa salarial encolhe
Boletim de Mercado de Trabalho revela possível desaquecimento no consumo das famíliasO desempenho do mercado de trabalho no primeiro semestre de 2009, não foi satisfatório, mas ficou acima das expectativas no início da crise nas economias doméstica e internacional. As evoluções dos níveis de ocupação e rendimento são bem inferiores às registradas no mesmo período de 2008, revela o Boletim de Mercado de Trabalho nº 40, publicação da Diretoria de Estudos Sociais (Disoc) do Ipea.
Outros indicadores não reagiram tão mal, como foi o caso das taxas de desemprego e de informalidade. Além disso, no mês de junho registrou-se melhora em praticamente todos os indicadores, o que vem sendo interpretado por muitos analistas como uma possível evidência de que as maiores dificuldades já teriam ficado para trás.
A má notícia fica por conta dos rendimentos dos trabalhadores. Aqueles com pelo menos ensino médio completo experimentam a maior perda salarial (3,9%) e representam o grupo com maior participação na população ocupada (em torno de 57% no primeiro semestre de 2009).
O boletim chama a atenção para dois fatos com relação à massa salarial: ela sofreu uma queda contínua de janeiro a maio (aproximadamente 3%), e o nível que ela atingiu no segundo trimestre é inferior ao registrado no último trimestre de 2008. Segundo a publicação, esses são fatos preocupantes porque sugerem um possível desaquecimento do consumo das famílias, o que poderia dificultar uma possível recuperação da economia e do mercado de trabalho, ao menos no curto prazo. A intensidade dessa recuperação no segundo semestre de 2009 vai depender, portanto, da velocidade na retomada dos investimentos. O boletim traz ainda diversas notas técnicas. A primeira delas, de Marcelo Azevedo, da Confederação Nacional da Indústria (CNI), apresenta o índice de medo do desemprego, elaborado e divulgado pela CNI. Essa estatística reflete as expectativas do comportamento do mercado de trabalho no curto e médio prazos.
A segunda nota trata do impacto da crise sobre as mulheres e conclui que elas foram mais afetadas na evolução do nível de ocupação. Carlos Henrique Corseuil, Rodrigo Dias, Miguel Foguel, e Daniel Santos, pesquisadores e bolsistas do Ipea, assinam a terceira nota, que discute o custo da perda de um emprego formal no Brasil.
Os autores usam episódios de demissões nos dados da Relação Anual de Informações Sociais do Ministério do Trabalho e Emprego (Rais/MTE), entre 2000 e 2006, para analisar tanto o tempo que o indivíduo leva para se reempregar no setor formal, como para comparar o salário de reemprego com aquele que vigorava no momento da demissão.
Os resultados apontam que 38% dos indivíduos não conseguem se reempregar no setor formal num prazo de até um ano, e que há uma perda salarial de aproximadamente 13% associada à demissão.
A proposta da última nota técnica é verificar em que nível se dá a contribuição do seguro-desemprego para atenuar os efeitos da crise no mercado de trabalho. Os autores Brunu Amorim e Roberto Gonzalez, também pesquisadores do Ipea, contrastam a cobertura e a taxa de reposição desse mecanismo com a duração do desemprego. Os resultados indicam que seguro-desemprego atua como mecanismo de estabilização eficaz, mas apenas por um período relativamente curto.
Leia o Boletim de Mercado de Trabalho nº 40
Presidente do Instituto de Sociologia da China afirma, no Ipea, que trabalhadores do interior são os mais satisfeitos com o governo
Os trabalhadores migrantes da China trabalham mais e ganham menos do que os trabalhadores urbanos, mas acreditam no crescimento econômico como oportunidade de progredir e beneficiar os melhores profissionais. Essa é uma das conclusões da pesquisa apresentada pelo sociólogo chinês Li Peilin durante o seminário "Migração de trabalhadores e transformação social na China", realizado nesta quinta-feira, dia 30, na sede do Ipea em Brasília.
Li Peilin atua nas áreas de pesquisa de organização de empresas, estratificação social, reforma institucional e desenvolvimento da China. Desde 1995, tem lançado várias publicações sobre as transformações socioeconômicas pelas quais o país asiático vem passando. Seu último trabalho, Nova sociologia chinesa, foi traduzido e publicado na França.
Segundo o sociólogo, os trabalhadores urbanos da China são beneficiados por uma legislação que lhes permite cumprir uma jornada de oito horas diárias e ainda ter garantias de aposentadoria. Embora ingressem no mercado informal, sem qualquer tipo de garantia, quando chegam às cidades os migrantes das zonas rurais não entram em qualquer desacordo com o governo, pois veem o crescimento econômico como o criador de oportunidades para melhorias individuais.
"Os migrantes são mais satisfeitos com o governo", disse Li. Sua pesquisa apontou que eles têm grande crença na força da economia e no sucesso individual. Para eles, disse o pesquisador, "é o progresso da economia que oferece oportunidades; se a pessoa não está em melhor posição, o problema é dela".
A pesquisa mostra que esses trabalhadores têm baixo nível educacional, perspectivas menores em relação ao futuro e carecem de senso de direito e participação política. No entanto, eles não se veem como uma classe mais baixa. Na interpretação dos dados apresentados, o sociólogo concluiu que os chineses acreditam em igualdade e melhoria de qualidade de vida para todos, mas que é mais fácil satisfazer os migrantes do que os trabalhadores urbanos, com maior nível educacional.
"Os migrantes têm senso maior de subordinação e são insensíveis aos conflitos de interesses dentro de grupos sociais", observou Li, doutor em sociologia pela Université de Paris - Sorbonne, presidente e pesquisador sênior do Instituto de Sociologia da China.
Ipea lança boletim Radar na Fiesp
Publicação analisa a participação das commodities na pauta de exportação brasileira e a retomada do emprego
A Diretoria de Estudos Setoriais do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) lançou nesta segunda-feira, dia 6, às 14h30, na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, a segunda edição do boletim Radar: Tecnologia, Produção e Comércio Exterior.
Com análises bimestrais de produção, tecnologia e comércio exterior, a segunda edição do Radar enfoca a crise e o padrão de especialização comercial brasileiro, destacando a relação das commodities na pauta de exportação brasileira, com os seguintes enfoques:
Participação percentual dos diferentes grupos de produtos, segundo intensidade tecnológica, na pauta de exportações brasileira (2004 a 2008); variação dos índices de preços e quantum das exportações, segundo intensidade tecnológica (2008); evolução dos índices de preços de exportação para grupos de produtos selecionados (commodities, baixa intensidade tecnológica e outros produtos) em 2008; variação dos índices de quantum das exportações, segundo intensidade tecnológica, nos últimos trimestres de 2008 e 2007 (em relação ao terceiro trimestre); e participação dos diferentes grupos de produtos na pauta de exportações brasileira: primeiros quadrimestres entre 2000 e 2009.
O Radar também traz uma análise sobre o mercado de trabalho brasileiro, sob o ponto de vista do aumento no emprego formal para trabalhadores celetistas, após um período de queda brusca no nível de empregados. Entre os enfoques estão: número de empregos criados nos últimos 12 meses; e o número de empregos criados por grau de instrução.
O terceiro artigo do Radar analisa a economia brasileira e seu preparo para o pós-crise, sob um ambiente competitivo no mercado internacional mais acirrado do que no período anterior à crise.
A publicação Radar foi apresentada à imprensa pelo diretor de Estudos Setoriais (Diset) do Ipea, Marcio Wohlers, e a diretora-adjunta e coordenadora de política industrial da Diset, Fernanda De Negri.
Nota técnica avalia políticas de incentivo à P&D e inovação
Análise é o primeiro resultado da parceria entre o Ipea e o Cedeplar/UFMGA nota técnica Avaliação das políticas de incentivo à P&D e inovação tecnológica no Brasil, de autoria de João Alberto De Negri e Mauro Borges Lemos, é o primeiro resultado da parceria entre o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e ao Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar/UFMG). Ela analisa de que forma o País se enquadra em um contexto global em que nações consideradas líderes em Ciência e Tecnologia são também potências econômicas, e aquelas com forte crescimento econômico apresentam matrizes cada vez mais complexas.
Elaborada para subsidiar a reunião do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia (CCT) de março de 2008, a nota da Diretoria de Estudos Setoriais (Diset) revela que as atividades de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) nacionais têm uma agenda defasada, "ainda pouco estruturada e já fora de foco da disputa tecnológica". O texto ressalta, porém, os avanços realizados nos últimos anos, como o aumento de gastos com P&D induzidos pelos programas de incentivos fiscais - distribuídos por toda a base produtiva, mas regionalmente concentrados.
Os progressos na política brasileira de inovação tecnológica nas empresas ocorreram especialmente a partir de 2003, com incremento relevante dos recursos destinados ao sistema de C&T e a efetivação de novos instrumentos legais, como a Lei de Inovação e a Lei do Bem. No entanto, segundo a nota técnica, é preciso fazer muito mais, e a avaliação dos Fundos Setoriais será especialmente importante para melhorar a atuação do Estado no fomento à Ciência, Tecnologia e Inovação (C,T&I).
Leia a nota técnica de julho
Debate no Rio discute representação jurídica das agências
Presidente do Cade, juristas e outras autoridades participaram da edição especial da Jornada de Estudos da Regulação, promovida pelo Ipea
A edição especial da Jornada de Estudos da Regulação - Judicialização e Independência, na quarta-feira, dia 29, lotou o auditório do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) no Rio de Janeiro. Participaram o presidente do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), Artur Badin, diversos juristas e dirigentes de agências de regulação, como a Agência Nacional de Petróleo (ANP), a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), e a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), entre outras.
Na primeira mesa de debates, com o tema "A representação judical das agências e seus limites", além de Badin, estavam Alexandre Aragão, professor de direito administrativo da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) e procurador do estado do Rio de Janeiro, Celso Campilongo, professor das faculdades de direito da Universidade de São Paulo (USP) e da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), além de Gustavo Binenbojm, professor adjunto de direito administrativo da Faculdade de Direito da Uerj.
As opiniões se polarizaram a favor ou contra as agências e o Cade se fazerem representar na Justiça pela Advogacia Geral da União (AGU), devido à Portaria 164/2009, publicada em fevereiro pela AGU. Com a portaria, contestações na Justiça sobre decisões das agências e do Cade não poderão ser realizadas por meio de suas próprias procuradorias jurídicas.
"O processo de reestruturação da AGU é bastante meritório e fortalece a defesa judicial de órgãos da administração indireta. A defesa desses órgãos é que está sendo centralizada na AGU. Isso fortalece a defesa na grande maioria dos casos. Agora, eu acho que em algumas hipóteses especiais, sobretudo nas agências reguladoras, no Cade e na CVM (Comissão de Valores Mobiliários), que são órgãos independentes, aqueles cujas decisões não podem ser revertidas pelo Poder Executivo, é importante que esses órgãos tenham representação judicial vinculada à AGU, mas guardando alguma independência em relação ao presidente da República", afirmou Badin.
A segunda mesa de debates, com o tema "O cotidiano judiciário e a representação das agências em um contexto de judicialização", contou com Furlei Martins Riccio de Oliveira, membro da AGU e professor da Ucam, Mauro Grinberg, presidente do Instituto Brasileiro de Estudos de Concorrência, Consumo e Comércio Internacional (Ibrac), Neide Malard, professora do mestrado em Direito do UniCEUB, e Sérgio Bruno, presidente do Conselho Deliberativo do Ibrac.
Presidente do Ipea afirma que o Brasil pode exercer liderança no mundo pós-crise e defende novo padrão civilizatório
O presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Marcio Pochmann, participou na quinta-feira, 6 de agosto, do Simpósio Internacional sobre Desenvolvimento Social, que termina dia 7 no Brasília Alvorada Hotel. Promovido pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, o evento conta com a presença de autoridades e pesquisadores brasileiros e internacionais que debatem o tema do encontro, "Políticas Sociais para o Desenvolvimento: Superar a Pobreza e Promover a Inclusão", e analisam, no contexto da crise econômica mundial, os modelos e políticas públicas colocadas em práticas em países da Europa, África, América Latina e Ásia.
Por meio da apresentação de seis painéis, o simpósio pretende avaliar os avanços e desafios encontrados pelos países emergentes na superação da pobreza e da desigualdade, além do papel que as nações vêm desempenhando para melhorar as condições de vida de suas populações.
Pochmann apresentou o painel "Promover o Desenvolvimento Social no Contexto da Crise: Desafios para o Estado e as Políticas Públicas". A mesa foi coordenada pelo ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, e era formada pelo presidente do Ipea, por Joan Subirats (da Universidade Autônoma de Barcelona, Espanha) e Fernando Filgueira (da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe, Cepal).
O ministro destacou que é fundamental o peso das consequências da crise econômica não cair sobre os mais pobres. "Mesmo nesse contexto, é possível seguir o trabalho de redução de desigualdade e pobreza, como revelam os estudos do Ipea. Certamente sempre se pode fazer mais, melhorar as reflexões, e esta mesa apontará ideias."
Pochmann afirmou que o mundo pós-crise será muito diferente do mundo pré-crise. "Há uma mudança na hierarquia mundial, um deslocamento do centro de polaridade; e o Brasil pode ter a liderança em um programa de desenvolvimento que não seja a reprodução do passado".
Ele mencionou que o Brasil é a nona economia do mundo, mas poderia ser a terceira se tivesse mantido o ritmo de crescimento dos anos 1930. Destacou também o descompasso nos avanços econômicos que não foram acompanhados por avanços sociais. Mas, no contexto da crise, Pochmann lembrou que apesar da queda da produção e o aumento do desemprego, houve redução da pobreza e da desigualdade nas principais regiões metropolitanas. "É preciso repensar o sistema de proteção social para que não seja deslocado da esfera econômica e da sustentabilidade ambiental", acrescentou.
Segundo o presidente do Ipea, o desafio é construir um padrão civilizatório do século XXI. "Foram quatro séculos de transição da sociedade agrária para a urbana industrial. A mudança agora é da sociedade urbana industrial para a pós-industrial." A complexidade desse novo cenário, disse Pochmann, pede um mercado de trabalho com jornadas menores e gerando um produto imaterial, o conhecimento. "A riqueza imaterial é pouco contabilizada, sofre uma concentração em poucos grupos, uma riqueza que não está sendo nem tributada", disse Pochmann.
Comunicado da Presidência do Ipea revela que, mesmo em meio à instabilidade, houve melhora histórica nos indicadores
O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) apresentou nesta terça-feira, 4 de agosto, o Comunicado da Presidência nº 25, Desigualdade e Pobreza no Brasil Metropolitano Durante a Crise Internacional: Primeiros Resultados. O estudo revela que, ao contrário de outros períodos de grave manifestação de crise econômica no Brasil (1982-1983, 1989-1990 e 1998-1999), que causaram mais pobreza nas regiões metropolitanas, desta vez houve diminuição do empobrecimento no país desde o último trimestre de 2008. A melhora é considerada histórica.
O Comunicado da Presidência foi divulgado às 14h, na sede do Ipea (SBS, Qd. 1, Ed. BNDES), pelo presidente do Instituto, Marcio Pochmann. Houve transmissão on-line pelo site www.ipea.gov.br, e jornalistas interessados em fazer comentários ou perguntas puderam participar pelo e-mail Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo..
Em junho, o índice de Gini alcançou nas seis principais regiões metropolitanas do Brasil seu menor patamar (0,493), em conformidade com a Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O índice é usado para medir desigualdade e varia de 0 a 1 (quanto mais próximo de 1, mais desigual é a sociedade). As regiões analisadas foram as de Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre.
Entre dezembro de 2002 (considerado o mês de mais alta medida de desigualdade no país) e junho de 2009, o índice caiu 9,5%. Desde janeiro deste ano, a queda foi de 4,1% - a mais alta desde 2002, quando o IBGE introduziu nova metodologia à PME. De acordo com o Comunicado da Presidência, a redução do índice de Gini "pode estar relacionada tanto à perda de valor real das maiores rendas do trabalho como à proteção do conjunto dos rendimentos na base da pirâmide ocupacional nas regiões metropolitanas".
Pochmann mencionou alguns fatos que explicam essa diminuição da desigualdade no país. "De um lado, a crise se manifestou de forma mais concentrada no setor industrial, que geralmente paga os melhores salários. De outro lado, temos a proteção da renda na base da pirâmide social brasileira, com aumento do salário mínimo e políticas de transferência de renda previdenciárias e assistenciais", afirmou o presidente do Ipea. No entanto, ele acrescentou que a melhora continua sendo insuficiente. "Um índice de Gini acima de 0,4 ainda representaria péssima distribuição de renda. Há uma tendência de queda, mas ainda estamos longe de chegar a algo comparável a países mais avançados."
O estudo também destaca a redução na taxa de pobreza nas regiões metropolitanas e conclui que a velocidade de queda foi diferente em cada uma: São Paulo, Salvador e Recife tiveram desempenho pior que Belo Horizonte, Porto Alegre e Rio de Janeiro. Entre março de 2002 e junho de 2009, a taxa de pobreza caiu 26,8% nessas regiões metropolitanas, passando de 42,5% para 31,1%. Em termos absolutos, nesse período de pouco mais de sete anos, 4 milhões de brasileiros deixaram de ser pobres.
Leia a íntegra do Comunicado da Presidência nº 25
Veja os gráficos referentes ao Comunicado nº 25
Por Annie Nielsen, do Rio de Janeiro
Falta de segurança, antes um fenômeno dos grandes centros, se espalha por pequenas cidades País afora. Regiões de fronteira são as mais violentasNos grandes centros do país, poucos pais dormem tranquilos quando os filhos saem à noite. São raros os motoristas que respeitam sinal de trânsito em áreas desertas. Em todas localidades, diante da profusão de notícias de atos violentos, reina uma sensação de medo e insegurança. A taxa nacional de homicídios é de 23,7 casos por 100 mil habitantes, um índice alto considerados os padrões internacionais. A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera "zonas epidêmicas" aquelas com taxas superiores a 10 assassinatos por 100 mil habitantes.
O pior é que os estudos indicam que a violência no Brasil não está mais restrita aos grandes centros urbanos. Ela se alastrou pelo interior e por pequenas cidades, deixando um rastro de destruição de vidas e de prejuízos econômicos. Estima-se que o País gaste em torno de 5% do Produto Interno Bruto (PIB) com a violência. Enquanto isso, crescem os negócios das empresas de segurança privada.
O "Mapa da violência dos municípios brasileiros 2008", produzido pela Rede Informação Tecnológica Latino-americana (Ritla), Instituto Sangari e os ministérios da Justiça e da Saúde, mostrou que o número de homicídios no país a partir de 2003 caiu 8,5% de 2003 para 2006. Mesmo assim, foram 46.660 homicídios em 2006, o que corresponde a uma taxa duas vezes superior ao padrão mundial. Entre a população jovem de 15 a 24 anos, a queda foi de 13%. O coordenador do estudo, Julio Jacobo Waisenlfisz, acredita que o resultado tenha sido reflexo da campanha do desarmamento e da regulamentação de uso, compra e porte de armas.
Outro ponto revelado pelo estudo foi o deslocamento da violência das grandes capitais e metrópoles para cidades menores, nas regiões de fronteira e no interior, que chegam a ultrapassar 100 homicídios por 100 mil habitantes. Em geral, as taxas são alarmantes em locais que não contam com a presença do Estado. São áreas de desmatamento ou dominadas pelo contrabando de armas e tráfico de drogas. "Nessas áreas há ausência total do poder público e impera a lei do mais forte", afirmou Waisenlfisz na época da divulgação do estudo.
De acordo com o Mapa, 556 cidades - o equivalente a 10% do total de municípios do Brasil - concentraram 73,3% dos assassinatos ocorridos em 2006. São municípios com média de 143,9 mil habitantes, que reúnem 44% da população brasileira. A lista das cidades com as mais altas taxas médias de homicídios no País - levando-se em conta o número de mortes e o tamanho da população - é encabeçada por Coronel Sapucaia (MS), com 107,2 homicídios em 100 mil habitantes. Localizada próxima à fronteira com o Paraguai, o município concentra ações de grupos de contrabando de armas, tráfico de drogas e de roubo de carros.
O mesmo ocorre com Foz do Iguaçu (PR), que ainda despontou como a campeã de vítimas de homicídios entre a população jovem de 15 a 24 anos, com uma taxa de 61,3 homicídios por 100 mil habitantes. Cidades na lista como Colniza (MT), Itanhangá (MT) e Cumaru (PA) apresentaram taxas entre 80 e 100 mortes por 100 mil habitantes.
Entre as capitais, Recife foi a primeira a figurar na lista das cidades com as mais altas taxas de homicídios no "Mapa da Violência dos Municípios Brasileiros". Tráfico de drogas, ações de grupos de extermínio e crimes relacionados a acerto de contas e ao consumo de álcool teriam sido os principais motivos que levaram a capital pernambucana a ocupar o nono lugar no ranking das cidades mais violentas, com taxa de 90,5 casos por 100 mil habitantes. Vitória e Maceió apareceram pouco depois, em 13º e 22º lugares, com taxas de 87 e 80,9 casos por 100 mil habitantes, respectivamente. Embora tradicionalmente associado a altos índices de violência, o Rio de Janeiro ocupou a 205ª posição, com taxa de 44,8 casos por 100 mil habitantes, e São Paulo, a 491ª posição, com taxa de 31,1.
Mapa da violência Na cidade do Rio de Janeiro, entre 2002 e 2006, houve 13.727 homicídios. Desse total, 25% morreram em confronto com a polícia. A maior parte das vítimas morava em favelas ou conjuntos habitacionais populares. Essas informações constam do estudo "Segregação territorial e violência no município do Rio de Janeiro", das técnicas do Ipea Patrícia Rivero e Rute Rodrigues. Dados preliminares foram apresentados ao público no auditório do Ipea, no Rio de Janeiro, no dia 3 de junho deste ano, durante o seminário Áreas de Concentração de Violência no Município.
De acordo com os técnicos, o cruzamento de dados de registros de óbitos com outras informações mostra que a maioria dos assassinatos ocorreu nas zonas norte (43,5%) e oeste (30%), áreas com maior número de favelas. Na zona sul, área mais nobre da cidade, a taxa de homicídios foi de 7%. Bonsucesso, bairro da zona norte que engloba as favelas do Complexo do Alemão e da Maré, deteve o maior número de ocorrências: 585 homicídios em cem mil habitantes.
levantamento feito pelas técnicas também permitiu ver que o confronto com a polícia resulta em mais mortes zona norte do que na zona sul. De acordo com Patricia Rivero, "a polícia tem uma ação mais letal na zona norte e oeste (excluindo a área litorânea da Barra). Já as ações não letais, como prisões e apreensões de drogas, são mais frequentes na zona sul", explica.
Na avaliação do professor Luiz Antônio Machado, do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj), o fato de haver mais prisões nas zonas abastadas e mais mortes nas zonas pobres significa que o estado está presente em todas as regiões. "O problema é a natureza dessa presença", observa Machado, crítico do modelo de segurança pública baseado apenas na repressão e na exclusão.
"Enquanto predominar a mentalidade de apenas afastar os 'outros' (negros, pobres e favelados) que nos ameaçam, teremos sempre o que está aí (essa situação de violência)", afirma. O modelo é questionado também pela ex-diretora do Instituto de Segurança Pública do Rio de Janeiro e pesquisadora da Universidade Federal Fluminense, Ana Paula Miranda. Segundo ela, as estratégias operacionais da polícia não são voltadas contra o crime, e sim contra os criminosos, "quase sempre pobres, negros e favelados". "Essa estratégia só funciona no sentido de manter as coisas como estão", diz.
Para Ana Paula Miranda, as classes média e alta acham que podem resolver o problema da segurança pública de uma forma "classista". Ela explica que quando houve crise na educação, a classe média botou os filhos na escola particular. Diante do caos da saúde pública, migrou para os planos de saúde privados. "Mas com segurança pública não dá. Ou um morador da favela tem tanta segurança quanto eu, moradora da zona sul, ou nenhum de nós terá segurança. Esse é o cenário do Rio, aliás, esse é o cenário do Brasil", sentencia.
Rute Rodrigues lembra que, além dos efeitos devastadores sobre as vítimas e suas famílias, a violência também acarreta outros de ordem prática. "Locais violentos muitas vezes não dispõem de serviços essenciais adequados como água, luz, saneamento, postos de saúde. E os governos têm dificuldade em arranjar gente disposta a trabalhar lá", comenta.
"Algumas ruas de favelas nem existem oficialmente", informa o diretor do Instituto Pereira Passos, Fernando Cavallieri. Segundo o diretor, a oficialização é condição essencial para que os moradores desses locais possam reivindicar a prestação de serviços.
Para o pesquisador do Ibase Itamar Silva, falta continuidade das políticas públicas: no Rio, o programa de urbanização Favela-Bairro foi interrompido em muitos locais. "Nas favelas, muitos equipamentos novos ou melhorias acabam se tornando alvo de disputas internas, particulares. Quem tem força leva", conta.
Na ausência do poder público, os criminosos assumem o controle dessas áreas. Esse é um dos principais problemas da segurança pública, na avaliação do tenente coronel da Polícia Militar do Rio de Janeiro Antonio Carlos Blanco. "Do ponto de vista matemático, não vejo outra solução que não seja mediante a mobilização das Forças Armadas", reconhece.
Neste ano, dados divulgados pelo Instituto de Segurança Pública (ISP) revelaram que o número de homicídios na cidade do Rio de Janeiro, no primeiro trimestre de 2009, havia aumentado 8% em relação ao mesmo período de 2008. De 1.570 assassinatos passou para 1.695. Mas a quantidade de mortes em confrontos com a polícia foi 24% menor do que no mesmo período de 2008.
Os dados revelam ainda que a violência em 2008 concentrou-se no interior do estado. Na Região dos Lagos, com sete municípios e um dos principais pontos de veraneio, despontara como a área com maior taxa de homicídios: 36,91 para cada 100 mil habitantes. Além disso, outros dois pontos do interior chamaram atenção: a região de Macaé e os cinco municípios do entorno, com 35,47 homicídios para cada 100 mil habitantes, e o litoral sul fluminense (entre Mangaratiba e Parati), com 35,37 para cada 100 mil. Para os especialistas, as taxas da Região dos Lagos e as da área de Macaé seriam resultado do crescimento desordenado dessas duas regiões, sobretudo em função da exploração de petróleo na bacia de Campos.
Violência em São Paulo A pesquisadora do Núcleo de Estudos da Violência da USP Maria Fernanda Tourinho Peres acredita que a redução das mortes violentas em São Paulo, de 2002 a 2006, pode ter diversas causas, entre elas a campanha do desarmamento, os trabalhos sociais de organizações não-governamentais (ONG) em regiões periféricas de São Paulo e mudanças nas políticas públicas, antes voltadas apenas para o combate aos efeitos da violência. Além disso, o governo estadual aumentou os investimentos em segurança pública, o que permitiu aparelhar melhor a polícia, oferecer cursos de capacitação e remunerar melhor os policiais, e o uso de sistema de análise de dados pela Secretaria de Segurança Pública.
O secretário Nacional de Segurança Pública, Ricardo Balesteri, concorda com as hipóteses levantadas e acrescenta mais uma à lista: o envelhecimento populacional. "Em todos os países em processo de envelhecimento da população, há uma tendência à redução da criminalidade", afirmou. De acordo com o secretário, à medida que as pessoas envelhecem e fincam raízes nos locais em que vivem, as ondas de migração para os grandes centros diminuem, o que costuma contribuir para uma situação de menos conflitos.
A migração causada pela expectativa de abertura de novas vagas de empregos em Caraguatatuba e Guarujá, principalmente nos terminais de processamento de gás da Petrobras, foi um dos motivos apontados por especialistas para o aumento da violência nessas cidades em 2008. As duas foram responsáveis por quase um terço dos assassinatos no litoral, embora concentrem apenas 20% da população dessa região. Nas 16 cidades que compõem a costa paulista, o número de homicídios passou de 253 em 2007 para 270 em 2008, um aumento de 6,72%.
Segundo estatísticas da Secretaria de Segurança Pública (SSP), a taxa de homicídios dolosos (com intenção de matar) no terceiro trimestre de 2008, no estado de São Paulo, chegou a 10,3 casos por 100 mil habitantes. O número encontra-se próximo do de países desenvolvidos, cuja taxa de mortes considerada aceitável pela OMS é de 10 por 100 mil habitantes. A tendência de queda registrada, porém, não durou muito. Em março deste ano, números divulgados pela SSP comprovavam que não apenas os casos de homicídio, mas os de roubos, estupro e latrocínio haviam voltado a subir. Entre o primeiro trimestre de 2008 e o primeiro trimestre de 2009, os roubos subiram 19%, os estupros 33,5%, os latrocínios 36% e os homicídios, 0,7%.
Causas da violência Pobreza, precariedade de condições de vida, desigualdade social e densidade populacional costumam ser apontados como possíveis causas para a escalada da violência. A pesquisadora da USP Maria Fernanda Tourinho Peres afirma que "é difícil identificar causas precisas, em geral são vários fatores combinados".
No livro "Transições negadas: homicídios entre os jovens brasileiros", o técnico do Ipea Hélder Ferreira avalia como uma série de fatores relacionados à violência poderia ter influenciado na elevação do número de homicídios no País, sobretudo de jovens do sexo masculino, nos últimos vinte anos do século 20. Muitas das hipóteses levantadas para explicar a violência continuam válidas.
Em primeiro lugar estariam fatores estruturais que, embora não determinem, criam bases para que o comportamento violento se manifeste. É o caso da desigualdade urbana. Embora não exista consenso de que ela cause violência, não resta dúvida de que pessoas de maior poder aquisitivo têm condições de se proteger mais por meio da compra de bens e serviços para a sua segurança e da escolha de residência em áreas mais tranquilas. Outros fatores estruturais capazes de influenciar a geração de atos violentos incluem a dificuldade de jovens com nível médio de estudo em conseguir emprego, a frustração por não poder adquirir determinados bens de consumo, a redução da capacidade das religiões de influenciar o comportamento individual e conter os atos violentos e o menor controle social das famílias sobre os filhos. Algumas mães que saem para trabalhar não têm com quem deixar os filhos. Sem essa proteção familiar, muitas crianças começam a frequentar as ruas cedo e acabam mais vulneráveis à influência de infratores ou grupos violentos.
Algumas questões culturais e circunstâncias desfavoráveis como a maior densidade em áreas pobres também poderiam levar a manifestações de violência. Afinal, a convivência estreita em espaços reduzidos aumenta a possibilidade de geração de conflitos entre familiares e vizinhos que resultam em agressões físicas graves. A segregação urbana, decorrente da falta de planejamento e do aumento da densidade em certas áreas, também seria um ponto a se considerar, visto que poderia produzir territórios fáceis de serem controlados por grupos criminosos. Há ainda a cultura da "masculinidade", cujas regras incluem aceitar confrontos, arriscar-se e não demonstrar medo, o que favoreceria ações violentas e exposição ao perigo. Por fim, existe o mercado local de drogas e a impunidade. Quadrilhas disputam a conquista e a defesa de territórios de pontos de venda de drogas com violência, aliciam jovens "com disposição para matar", executam traidores ou oponentes, praticam extorsões e subornam autoridades. Os lucros do tráfico, o poder dos criminosos e a alta impunidade acabam por exercer atração sobre alguns jovens, que enxergam naquela atividade a possibilidade de enriquecer e conquistar respeito e reconhecimento.
No terceiro grupo da lista de fatores capazes de influenciar a escalada da violência ou torná-la mais danosa figuram o aumento das armas de fogo entre a população, o consumo de álcool e a inabilidade de expressar sentimentos de raiva verbalmente. Pessoas com essa dificuldade para dizer o que sentem poderiam recorrer ao uso da violência física, o que não deixa de ser uma forma de comunicação.
Um último e determinante fator para a maior incidência de atos violentos é a ausência ou a ineficiência do Estado, que não garante aos moradores pobres das periferias, em particular, serviços indispensáveis na área da segurança, saúde, lazer, moradia, trabalho e acesso aos bens de consumo. Além disso, o estado de direito se encontra fragilizado. Predomina a impunidade, o que torna remota a ameaça de castigo pelas infrações cometidas e estimula a população a apoiar grupos de extermínio ou organizações semelhantes em bairros dominados por quadrilhas. Por outro lado, o próprio Estado desrespeita a lei ao agir com truculência contra suspeitos, infratores e testemunhas de violência policial.
Custos da violência Determinar as causas da violência ainda é uma questão sujeita a debate, porém, não resta dúvida de que seus efeitos sobre a sociedade e a economia são devastadores. A dor, o sofrimento e as sequelas psicológicas deixadas nos parentes e amigos de vítimas de homicídios são incalculáveis. Do ponto de vista econômico, cada pessoa assassinada significa perda de investimento em capital humano (o quanto a pessoa poderia gerar para a economia durante a vida) e da capacidade produtiva.
Ter uma estimativa real do custo da violência no Brasil e mostrar a importância de dados para que gestores de segurança pública possam alocar recursos de forma racional foram os principais objetivos do estudo "Análise dos custos e consequências da violência no Brasil", feito pelos pesquisadores do Ipea Daniel Cerqueira, Alexandre Carvalho e Rute Rodrigues, além de Waldir Lobão, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Publicado em 2007, o estudo revelou que o custo da violência para o País, em 2004, chegou a R$ 92,2 bilhões, o equivalente a 5,09% do PIB ou um valor per capita de R$ 519,40. Desse total, o setor público arcou com cerca de um terço (R$ 31,9 bilhões), e o privado, com o restante (R$ 60,3 bilhões). A maior parte dos gastos no setor público se destinou à área de segurança pública (R$ 28,1 bilhões). Outros R$ 2,8 bilhões foram para o sistema prisional e R$ 998 milhões para o sistema de saúde. Nas contas do setor privado, também se computou o custo social gerado ao País com a perda de capital humano: R$ 23,8 bilhões. Mais R$ 14,3 bilhões foram gastos com segurança privada, outros R$ 12,7 bilhões com seguros, R$ 12,7 bilhões com seguros e R$ 9,4 bilhões com transferências por roubos e furtos.
Entre 1997 e 2007, a segurança privada no País cresceu 73,9% e passou a representar 45,5% do sistema de serviços de segurança, de acordo com o artigo "Evolução da ocupação no sistema de segurança no Brasil", escrito pelo técnico do Ipea André Gambier Campos. No texto, Campos chama a atenção para o fato de que os trabalhadores na área de serviços privados de segurança são menos qualificados, porém trabalham mais e em condições piores do que os que atuam na segurança pública. Tal situação leva o autor a perguntar se esses indivíduos na área privada são capazes de proporcionar proteção às pessoas que contratam seu serviço.
Novas ações Numa tentativa de reverter a atual situação da segurança pública em que muitas cidades se tornaram perigosas em função de ausência do Estado, crescimento desordenado e o baixo nível de investimentos na área de segurança, o governo adotou duas novas medidas: a Força Nacional de Segurança Pública (FNSP) e o Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (Pronasci).
A FNSP atende às necessidades emergenciais dos estados, quando se torna necessário uma intervenção maior do poder público ou se detecta a urgência de reforço em locais tomados pela criminalidade. Criada em 2004, tem atualmente um contingente de oito mil homens e já atuou em diversos estados para restaurar a ordem pública, conter rebeliões em presídios, realizar ações de inteligência e até mesmo para combater desmatamento.
"A FNSP é uma ideia que deu certo", afirma o secretário Nacional de Segurança Pública, Ricardo Balestreri. "Ela presta apoio à polícia local em casos especiais, mas não a substitui. Além disso, se revelou muito eficaz na luta conta o desmatamento", completa.
Lançado em agosto de 2008, o Pronasci visa articular políticas de segurança com ações sociais, priorizando a prevenção, e busca atingir as causas que levam à violência. Entre os principais eixos do programa destacam-se a valorização dos profissionais de segurança pública, a reestruturação do sistema penitenciário, o combate à corrupção policial e o envolvimento da comunidade na prevenção da violência. Devido à sua dimensão, recebeu o apelido de PAC da Segurança, numa alusão ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do governo federal.
Com um total de R$ 6,7 bilhões para investir até 2012, o programa foi criado para atender inicialmente a 11 regiões metropolitanas com os mais altos índices de violência no Brasil: Maceió, Belo Horizonte, Recife, São Paulo, Porto Alegre, Curitiba, Belém, Vitória, Salvador, Rio de Janeiro e o entorno do DF. Hoje já conta com a adesão de 96 prefeituras espalhadas por todo o país.
No momento, o Pronasci está na fase de instalação dos Territórios de Paz, o que significa a retomada pelo Estado de um território dominado pelo crime. "É a presença do Estado naquela região possibilitando, inclusive, a chegada de serviços básicos como água, luz, energia", explica o secretário nacional do Pronasci, Ronaldo Teixeira.
Nesses Territórios de Paz se instalam os Gabinetes de Gestão Integrada Municipais, responsáveis por articular junto aos órgãos competentes ações integradas de combate à violência e por em prática uma série de projetos sociais como o Mulheres da Paz e Protejo (Programa de Proteção de Jovens). O primeiro é formado por mulheres escolhidas na comunidade, que ficam encarregadas de identificar jovens em situação de risco e trazê-los para projetos do Pronasci. Para isso, recebem uma bolsa de R$ 190 do governo federal. Os jovens em conflito com a lei, por sua vez, são levados ao Protejo, projeto que pretende afastálos da marginalidade por meio de noções de direitos humanos e cidadania, além de oferecer oportunidades de participar de atividades culturais, esportivas e sociais, dando-lhes uma bolsa de R$ 100.
Segundo o secretário Ronaldo Teixeira, "o Pronasci está voltado à promoção dos direitos humanos para intensificar uma cultura de paz. Não queremos mais enfrentar a violência tão somente com a repressão, pois sabemos que violência gera violência. O Pronasci vai retomar a presença do Estado nas regiões conflagradas voltando a oferecer direitos básicos do cidadão", resume.