Ipea e Socicom discutiram políticas de comunicação
Publicado em 25/11/2009 - Última modificação em 22/09/2021 às 04h55
Publicado em 25/11/2009 - Última modificação em 22/09/2021 às 04h55
Ipea e Socicom discutiram políticas de comunicação
Jornalistas e pesquisadores se reuniram na capital pernambucana e debateram propostas para a 1ª Confecom
O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em parceria com a Federação Brasileira das Sociedades Científicas da Comunicação (Socicom), promoveu na segunda-feira, dia 23, na capital pernambucana, o seminário Encontro Brasil Ipea 45 anos: Um Novo Ciclo de Pensamento Nacional - Uma reflexão sobre a 1° Conferência Nacional de Comunicação (Confecom).
O evento, parte das comemorações dos 45 anos do Instituto, contou com o apoio da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), da Associação dos Correspondentes Estrangeiros (ACE) e do Sindicato dos Jornalistas do Estado de Pernambuco (SJPE). Das 9h às 16h, o debate reuniu pesquisadores, jornalistas e estudiosos, que discutiram as políticas nacionais de comunicação na sede da Fundaj, em Recife (PE).
José Marques de Melo, presidente da Socicom, abriu o evento ressaltando que "esse é um acontecimento singular da história nacional, em que celebramos a convergência de três segmentos da sociedade brasileira que permaneceram incomunicáveis durante muito tempo". Segundo o professor e doutor, finalmente o Estado, a academia e a sociedade civil se encontram para dialogar sobre as políticas nacionais de comunicação, tema crucial para a consolidação da democracia.
O assessor-chefe de Comunicação do Ipea, Daniel Castro, revelou que a proposta é transformar o debate realizado no seminário em livro. Segundo Castro, para o Ipea, o evento também é um fato histórico, na medida em que é o primeiro seminário aprofundado sobre o tema promovido pelo Instituto. "Vamos rediscutir e olhar a comunicação como algo que é estudado também por economistas, um passo fundamental para quem pensa as políticas de comunicação no Brasil", afirmou.
Políticas de comunicação no mundo
Jan Rocha, ex-correspondente da BBC no Brasil, inaugurou o primeiro painel, Comunicação, o debate lá fora. Rocha apresentou a tradicional empresa de comunicação britânica e destacou o papel da BBC em procurar ser uma fonte objetiva de notícias, mas chamou a atenção para o fato de que os documentários estão perdendo espaço para programas populares, e a BBC começa a ceder às pressões comerciais.
Ao final, Rocha citou o pesquisador Pedro Guareschi, defensor de que "a comunicação deve fazer parte da cesta básica do brasileiro, assim como o arroz e o feijão". Jan sugeriu que, como na Inglaterra, houvesse no Brasil um esforço de tornar os projetos e políticas acessíveis à população em geral. "Se você vai ao médico, há panfletos explicando os programas de saúde do governo com uma linguagem simples", exemplificou.
A jornalista peruana Verônica Goyzueta, da Associação dos Correspondentes Estrangeiros (ACE), sediada em São Paulo, contou que a democracia na comunicação já está se fazendo em outros países da América Latina, como na Argentina, onde o Parlamento votou uma lei que reviu as concessões a empresas de comunicação que concentravam grande poder econômico e ideológico, como o grupo Clarín. Na Venezuela, foi o presidente, Hugo Chávez, quem cortou concessões à RCTV, apenas se utilizando da aplicação de uma lei que não era cumprida.
"Falta o Brasil fazer o mesmo, revendo concessões de empresas de comunicação ligadas a famílias de políticos, como os Sarney e os Magalhães, por exemplo", comentou a jornalista, preocupada com os grupos econômicos que compram veículos de comunicação de referência. Goyzueta argumentou também que, em outros países, ou é obrigatório o diploma para exercer o jornalismo, ou há a necessidade de um conselho, uma organização da profissão. Hoje, o Brasil não adota nenhuma das alternativas.
Wu Zhihua, correspondente do Diário do Povo, o maior jornal da China, comentou os novos desafios e oportunidades para as imprensas chinesa e brasileira. O jornalista citou pesquisas que mostram que 80% dos jovens na China leem notícias pela internet e explicou que os jornais da China buscam ser empresas fortes e consolidadas, de forma a enfrentar o desafio de se adaptar às novas tecnologias. Também investem na diversificação das notícias, na setorização, na ênfase nos jornais locais para se aproximarem mais dos leitores e atenderem várias camadas sociais.
O correspondente do Diário do Povo terminou sua exposição apontando que, no Brasil, os jornais locais não têm espaço para crescer e faltam jornais setorizados. Para ele, enquanto na China há jornais pioneiros publicados somente para estudantes, com linguagem e conteúdo voltado para eles, no Brasil falta a transmissão de conhecimento em todos os setores.