Ipea quer ampliar debate sobre inflação
Publicado em 27/10/2011 - Última modificação em 22/09/2021 às 03h03
Publicado em 27/10/2011 - Última modificação em 22/09/2021 às 03h03
Ipea quer ampliar debate sobre inflação
Equipe técnica do Instituto acha que é preciso analisar indexação dos preços controlados pelo governo
No seminário sobre a Carta de Conjuntura, no Rio, em 21/10, a diretora de Estudos e Pesquisas Macroeconômicas do Ipea, Vanessa Petrelli, parabenizou a equipe técnica do Grupo de Análise e Previsões (GAP) do Ipea “por retomar a tradição da Dimac no Rio de Janeiro no aprofundamento da discussão sobre a conjuntura a partir do questionamento dos indicadores comumente utilizados”. Para ela, o debate sobre inflação precisa ser ampliado para além do controle de preços exclusivamente através de movimentos na taxa básica de juros.
“É preciso avaliar o peso do setor de serviços na explicação da inflação mensal. Tem muito a ver com a indexação dos preços administrados: a variação dos preços das tarifas de transporte, passagens aéreas”, disse. Monitorados pelo governo federal, os preços administrados são de vários tipos, como o do gás encanado, gasolina, Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU), taxas de água e esgoto, tarifas de telefonia, pedágio, transporte público e até jogos em loteria. Esses preços passam por um sistema de reajuste - a indexação - de acordo com os índices oficiais de variação de preços.
Petrelli enfatizou que “nem indexação nem choque de custos podem ser corrigidos pela alta da taxa básica de juros”. Ela fez referência ao choque de custos em preços como os das commodities. “O choque de preço de commodities é uma mudança que parece despercebida na operacionalidade da política monetária”, acrescentou o diretor-adjunto de Estudos e Políticas Macroeconômicas do Ipea, Cláudio Amitrano.
Já o economista Franklin Serrano, do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, IE-UFRJ, lembrou que elevações da taxa básica de juros sem a valorização do câmbio não produziram efeitos desejados sobre a inflação: "A desaceleração provocada pelo pacote fiscal foi excessiva, na minha opinião, e o impacto sobre a inflação foi reduzido" . Segundo ele, é fundamental estudar melhor as causas de aumentos de preços. A diretora Vanessa Petrelli lembrou que este mês, o ministro da Economia da Argentina, Amado Boudou, recomendou a leitura de textos do brasileiro Franklin Serrano, convidado especial do seminário no Ipea.
A plateia também contou com uma síntese dos principais indicadores da economia brasileira, realizada pelo Coordenador do Grupo de Análise e Previsões do Ipea, Roberto Messenberg. Para ele, após as medidas macroprudenciais, a desaceleração da economia ocorreria independentemente do quadro de crise internacional. Apesar deste cenário, destacou Messenberg, a absorção de poupança externa na forma de investimento direto estrangeiro continua forte, mas com indícios da ocorrência de arbitragem regulatória para aplicações em renda fixa. Ainda, segundo ele, é de se esperar que a taxa agregada de investimentos produtivos desacelere na economia.
“A desaceleração do crédito tem sido moderada, portanto os níveis de consumo estão ainda em patamares elevados, mas em trajetória de acomodação”, acrescentou o coordenador do GAP. Messenberg explicou ainda que “o nível de utilização de capacidade instalada da indústria mostra que estamos perto da média histórica, mas também com tendência a uma desaceleração”. Messenberg falou também sobre massa salarial real habitualmente recebida, evolução diária da taxa de juros, expectativas da inflação para 2011 e 2012, entre outras questões.