Meio Ambiente. Recursos Naturais

Ipea abre seminário preparatório para COP30 com debates sobre liderança climática, financiamento sustentável e inovação tecnológica

Primeiro dia do evento reuniu especialistas e autoridades que discutiram como o Brasil pode transformar conhecimento em ação climática, unindo economia, sociedade e meio ambiente

O seminário “Do Conhecimento à Ação – Diálogo Estratégico para a COP30” reuniu, nos dias 9 e 10 de outubro, em Brasília, representantes do governo federal, da academia, de organismos internacionais e da sociedade civil para debater temas centrais à pauta climática. Promovido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o evento marca uma etapa importante de diálogo preparatório para a Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), que será realizada em Belém, em novembro.

Na abertura, a presidenta do Ipea, Luciana Mendes Santos Servo, destacou o papel da instituição na reconstrução da agenda climática nacional e na qualificação técnica do debate. “O principal processo do Ipea foi a capacitação para entrar no diálogo; hoje praticamente todas as diretorias trabalham com essa pauta”, afirmou.

Luciana ressaltou que o Brasil vive um momento histórico, ao retomar o protagonismo internacional e integrar a pauta climática às estratégias de desenvolvimento. “A liderança do país começa em 2023, com a presidência do G20, e se estende agora à presidência do Brics e da COP30. O desafio é imenso, mas também é uma oportunidade de consolidar uma ação coordenada entre essas agendas”, observou.

A diretora-executiva da COP30, Ana Toni, enfatizou que o evento climático “não é mais um momento isolado, mas um processo contínuo de amadurecimento das instituições”. Segundo ela, o Acordo de Paris — que completará 10 anos em 2025 — ajudou a fortalecer os aparelhos de Estado e a integração entre economia e meio ambiente. “Temos agora o desafio de usar esses instrumentos. O casamento entre o Ministério da Fazenda e o do Meio Ambiente mostra que economia e combate à mudança do clima andam juntos”, afirmou.

Viviane Vecchi Mendes Muller, secretária de Assuntos Internacionais e de Desenvolvimento do Ministério do Planejamento e Orçamento (MPO), elencou três desafios centrais da agenda climática: assegurar o financiamento adequado aos projetos, estruturar iniciativas com qualidade técnica e definir prioridades de forma articulada entre os níveis de governo. Já o secretário nacional de Mudança do Clima, Aloísio Lopes Pereira de Melo, reforçou a confiança internacional na capacidade do Brasil de liderar o diálogo multilateral.

Na perspectiva da política econômica, Carolina Grottera, diretora de programa da Secretaria-Executiva do Ministério da Fazenda, ressaltou o esforço de incorporar aspectos climáticos ao centro das decisões financeiras. “Sabemos que não vamos alcançar nossos objetivos se não trocarmos os sinais econômicos, fiscais e regulatórios que direcionam as decisões dos agentes públicos e privados”, disse.

Representantes da sociedade civil também marcaram presença na mesa de abertura. Denise Dora, enviada especial de direitos humanos e transição justa da COP30, destacou a importância da transparência e da participação social nos processos decisórios. “O regime climático é um regime que abarca obrigações dos Estados com seus povos e com o mundo. É preciso abrir o diálogo com as comunidades e garantir que as decisões sejam conhecidas e acompanhadas pela sociedade”, afirmou.

Para Marília Closs, coordenadora de projetos da Plataforma Cipó, o Brasil tem condições de inovar na forma de governar a ação climática. “A agenda de ação é apaixonante e desafiadora. Precisamos de novos arranjos multissetoriais e de imaginação política para enfrentar os desafios ambientais e sociais que vivemos”, disse. Cintya Feitosa, do Instituto Clima e Sociedade (ICS), destacou o papel da sociedade civil e da pesquisa como forças complementares ao Estado.

Bancos de desenvolvimento e o desafio do financiamento climático

O Painel 1, moderado por Aline Conti, coordenadora de Financiamento Internacional para o Desenvolvimento Sustentável no Ipea, tratou dos desafios do financiamento climático e do papel dos bancos de desenvolvimento como agentes estratégicos na transição para uma economia sustentável.

A gestora do Banco da Amazônia, Samara Farias, falou sobre a importância de fortalecer a capacidade técnica e institucional das instituições financeiras públicas. “Ainda enfrentamos desafios operacionais e regulatórios para captar recursos internacionais e alinhar nossos mecanismos financeiros às novas exigências climáticas. É essencial preparar profissionais e políticas para esse novo contexto”, disse.

O diretor de Estudos e Políticas Macroeconômicas do Ipea, Claudio Amitrano, apresentou uma análise crítica sobre o sistema financeiro internacional e sua limitação em prover os recursos necessários à transição ecológica. “Precisamos de um sistema financeiro estável e funcional, capaz de lidar com riscos climáticos e macroeconômicos. Isso requer coordenação internacional, políticas de regulação mais firmes e incorporação dos custos da inação nos cálculos fiscais”, explicou.

Representando o Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF), José Rafael Neto destacou a necessidade de tornar o financiamento mais acessível a estados e municípios. “Há recursos disponíveis, mas faltam mecanismos que permitam que o dinheiro chegue à ponta. Municípios menores enfrentam dificuldades técnicas e burocráticas para acessar crédito internacional”, observou.

O subsecretário de Finanças para o Desenvolvimento Sustentável do Ministério da Fazenda, Ivan Oliveira, ressaltou que o Brasil tem levado sua experiência doméstica às discussões internacionais, especialmente no G20.

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Inteligência artificial e clima: inovação com governança democrática

O Painel 2, moderado por Luis Claudio Kubota, técnico de planejamento e pesquisa do Ipea, abordou o papel da inteligência artificial (IA) na sustentabilidade e na governança democrática.

Sérgio Queiroz (Ipea) destacou que o Brasil possui instituições públicas de ponta em modelagem ambiental, como o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), mas alertou para os riscos de dependência tecnológica. “Mesmo com data centers e dados no país, se o software for estrangeiro, continuaremos vulneráveis. É preciso garantir autonomia tecnológica e transparência nos modelos de IA”, afirmou.

Os debatedores também ressaltaram a importância de evitar vieses e práticas de greenwashing nas soluções digitais aplicadas à agenda climática, garantindo que a tecnologia sirva à sociedade e não apenas a interesses privados.

Modelagem macroambiental e impactos econômicos da política climática

Encerrando o primeiro dia, o Painel 3 discutiu os efeitos econômicos dos instrumentos de política climática sobre a economia e as emissões de carbono no Brasil, com base em modelos macroambientais. A sessão foi moderada por Gustavo Luedemann, técnico de planejamento e pesquisa do Ipea.

A professora da Universidade de Greenwich (Reino Unido), Maria Nikolaidi, explicou como os modelos macroambientais permitem projetar cenários de transição verde com maior precisão, considerando as interações entre crescimento, emprego, inflação e emissões. “Essas ferramentas ajudam a entender como políticas fiscais e de investimento podem reduzir emissões sem comprometer o crescimento econômico. O equilíbrio entre estabilidade e sustentabilidade é essencial”, observou.

O professor da Unicamp, Marcelo de Carvalho Pereira, enfatizou o papel dos modelos baseados em agentes na formulação de políticas públicas. “Esses modelos simulam o comportamento de famílias, empresas e instituições, permitindo identificar gargalos e efeitos distributivos da política climática”, explicou.

Para Cristina Fróes de Borja Reis, subsecretária de Desenvolvimento Sustentável do Ministério da Fazenda, a transição climática precisa ser pensada como política de desenvolvimento. “É preciso usar a modelagem econômica para embasar escolhas públicas que sejam fiscalmente responsáveis e socialmente inclusivas”, afirmou.

Durante o debate, o diretor de Estudos e Políticas Macroeconômicas do Ipea, Claudio Amitrano, destacou que a modelagem macroambiental é uma ferramenta essencial para mensurar custos e benefícios das políticas climáticas. “Sem modelos robustos, as decisões de governo ficam presas a percepções. A economia do clima precisa ser orientada por evidências, incorporando a dimensão ambiental à análise macroeconômica tradicional”, concluiu.

Para saber mais sobre as discussões do segundo dia de evento, clique aqui.

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