Economia. Desenvolvimento Econômico

Ipea discute papel do financiamento climático no crescimento econômico

Seminário reuniu especialistas para debater como os gastos públicos verdes podem impulsionar o desenvolvimento sustentável no Brasil

Foto: Helio Montferre/Ipea

De forma transversal, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) tem reforçado sua atuação na agenda de clima e meio ambiente. Na última quinta-feira (14), pesquisadores das diretorias de Estudos e Políticas Macroeconômicas (Dimac) e de Estudos e Políticas Regionais, Urbanas e Ambientais (Dirur) se reuniram para o seminário Como o financiamento climático e os gastos públicos verdes podem impulsionar o crescimento econômico sustentável?.

Com o diálogo entre diferentes diretorias, o Ipea avança em uma agenda estratégica. “A proposta é definir quais temas consideramos relevantes para discutir com o governo e a sociedade brasileira no âmbito de um projeto de desenvolvimento sustentável”, explica o diretor de Estudos e Políticas Macroeconômicas, Claudio Amitrano.

Já a coordenadora de estudos em sustentabilidade ambiental da Dirur, Adriana Moura, destacou a importância de discutir o tema, especialmente diante da proximidade da COP30, que terá a mudança do clima como uma das principais pautas de debate.

Recentemente, a Secretaria-Geral da Presidência solicitou ao Ipea uma proposta de nacionalização das metas globais dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). No caso do ODS 13, que trata da mudança do clima e reúne metas sobre diferentes dimensões da agenda climática, uma delas é a de financiamento internacional, que estabelece o compromisso dos países desenvolvidos em apoiar financeiramente as nações em desenvolvimento. Essa meta, até então considerada não aplicável ao Brasil, foi reavaliada pelo Ipea.

A análise mostrou que ela pode e deve ser incorporada ao contexto brasileiro, sob a ótica de país recebedor desses recursos. Para isso, é necessário mensurar o montante total de financiamento climático que chega ao país, informação que atualmente é apenas parcial. “Avançar nesse conhecimento não significa apenas garantir mais transparência, mas também fortalecer o planejamento estratégico nacional”, opinou Ana Flávia Rodrigues, coordenadora de projetos da Presidência do Ipea.

Financiamento – O seminário foi marcado pela apresentação de dados sobre o financiamento climático do Sul Global pelos professores Cláudio Puty e Douglas Alencar, da Universidade Federal do Pará (UFPA). os dois são pesquisadores do Centro de Financiamento Climático do Sul Global (CFC-GS), um think tank baseado em Belém.

Para Cláudio Puty, a próxima COP terá como um de seus pontos centrais o balanço do financiamento climático. Ele destacou algumas iniciativas do CFC-GS, como o desenvolvimento de um tracker de financiamento climático, que mapeia os fundos, identifica seus destinos e filtra as informações por países. “Em resumo, nossa agenda política é promover esse debate a partir do Sul Global, com foco no papel dos governos locais”, afirmou o pesquisador.

O tracker é uma plataforma interativa que reúne, organiza e disponibiliza dados atualizados sobre os fluxos globais de financiamento climático com objetivo de ampliar a transparência, facilitar o acesso à informação e apoiar gestores públicos, tomadores de decisão, pesquisadores e a sociedade civil no acompanhamento de compromissos e desembolsos relacionados à ação climática.

O pesquisador Douglas Alencar apresentou os resultados de pesquisas recentes sobre a relação entre financiamento climático, gasto público verde e crescimento econômico. Um dos artigos propõe uma extensão do modelo pós-kaleckiano de crescimento econômico, incorporando a poluição como variável endógena na função de investimento. Os pesquisadores buscaram avaliar qual o papel do financiamento climático e do gasto público verde na dinâmica do crescimento quando se considera o impacto da poluição.

O principal resultado mostra que, se a taxa de crescimento do financiamento climático não superar a taxa de crescimento da economia, o modelo torna-se instável — sinal de que o volume atual de recursos destinados à agenda verde é insuficiente para garantir sustentabilidade no longo prazo. “Se não conseguirmos aumentar esse ritmo, os resultados são preocupantes. E, afinal, ninguém quer que o mundo acabe”, resumiu o pesquisador.

Um segundo trabalho aplica essa abordagem teórica ao caso brasileiro, examinando dados de 1990 a 2021 de fontes como Ipeadata, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG).

A análise empírica investigou variáveis como investimento, taxa de utilização da capacidade produtiva, participação dos lucros na renda e emissões de CO₂. Os resultados mostram que choques positivos na utilização da capacidade aumentam o investimento, enquanto a elevação da poluição provoca retração.

Segundo Alencar, esse conjunto de pesquisas aponta para um mesmo caminho: ampliar o financiamento climático é condição necessária não apenas para conter os efeitos da poluição, mas também para promover inovação verde e sustentar o crescimento econômico no futuro.

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