Cooperação Internacional. Relações Internacionais

Conferência debate integração e cooperação regional entre Brasil e Caribe

Evento no Ipea, às margens da Cúpula Brasil-Caribe, reúne especialistas e autoridades para discutir relações estratégicas entre o Brasil e a região caribenha

Foto: Helio Montferre/Ipea

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) sediou, na última quinta-feira (13), a conferência O Presente e o Futuro das Relações entre o Brasil e o Caribe, realizada às margens da Cúpula Brasil-Caribe, em Brasília. Participaram autoridades internacionais e especialistas em integração regional, como a embaixadora Noemí Espinoza, secretária-geral da Associação de Estados do Caribe (AEC), e a embaixadora Daniela Benjamin, diretora do Departamento de Integração Regional do Ministério das Relações Exteriores (MRE) do Brasil, e pesquisadores do Ipea.

A diretora de Estudos Internacionais (Dinte) do Ipea, Keiti da Rocha Gomes, inaugurou a mesa destacando a importância da reaproximação entre o Brasil e os países caribenhos. Ela destacou a trajetória do Instituto na produção de estudos sobre integração regional e reforçou que a temática Caribe é objeto de pesquisas contínuas no âmbito da Dinte. “Essa é uma agenda histórica para o Instituto. Temos publicado artigos, textos de discussão e mantido parcerias institucionais com países e organizações da região, incluindo acordos com a República Dominicana, o Suriname, a Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (Cepal), o Sistema Econômico da América Latina e Caribe (Sela), entre outros.”

Segundo Keiti, as relações econômicas entre Brasil e Caribe ainda são limitadas. “Mesmo em setores em que o Brasil tem liderança mundial, como grãos e carnes, nossas exportações para os países caribenhos ainda são exíguas. Iniciativas como esta conferência são fundamentais para pensar caminhos de maior aproximação e cooperação estruturada.”

A embaixadora Noemí Espinoza Madrid, subsecretária geral da Associação dos Estados do Caribe (AEC), destacou os desafios ambientais, geopolíticos e sociais enfrentados pela região, defendendo uma governança oceânica participativa. “O mar é muito mais que um espaço físico – é uma plataforma de encontro, um bem comum que devemos cuidar, proteger e governar em conjunto.”

Ela enfatizou que o mar do Caribe é essencial para a estabilidade climática e o desenvolvimento sustentável, e que o Brasil tem papel estratégico na promoção de energias limpas, conectividade regional e valorização das raízes históricas comuns. “Como cantava Dorival Caymmi, ‘o mar, quando quebra na praia, é bonito, é bonito’. Este mar que nos une será também o mar que nos projeta um futuro comum, justo e sustentável”, discursou.

Pedro Silva Barros, técnico de planejamento e pesquisa do Ipea, enfatizou que o Brasil precisa conhecer melhor o Caribe e investir em pesquisas estratégicas voltadas à integração regional. Ele apresentou o estudo sobre a Ilha das Guianas, destacando o canal Casiquiare como elo natural entre as bacias do Amazonas e do Orinoco, ignorado por décadas. Citou o interesse histórico de potências extrarregionais, como a invasão dos EUA em Granada nos anos 1980, e defendeu o fortalecimento da presença brasileira e a integração regional para garantir que a região permaneça uma zona de paz.

Barros também abordou a situação de brasileiros que vivem na Guiana e no Suriname em condições precárias. "São brasileiros que vivem sem acesso a políticas públicas, com baixa expectativa de vida e educação precária, mas que também movimentam a economia local e indicam onde há atividade econômica viável", explicou. Para ele, é necessário um projeto “disruptivo”, nos moldes de Itaipu ou do gasoduto com a Bolívia, que consolide laços duradouros e reforce a interdependência como estratégia de dissuasão frente a ingerências externas.

Felippe Ramos, encarregado da Diretoria de Cooperação e Mobilização de Recursos da Associação dos Estados do Caribe (AEC), ressaltou a importância de fortalecer a cooperação entre o Brasil e os países caribenhos para a construção de projetos concretos. Ele citou um problema urgente, que é o avanço do sargaço — uma alga marinha que se acumula em grandes volumes nas praias da região, impactando diretamente o turismo, principal atividade econômica de muitos desses países.

Esse fenômeno afeta o meio ambiente, a pesca, a saúde pública e provoca prejuízos financeiros significativos em destinos que dependem do turismo de sol e mar. Segundo Ramos, o Brasil tem expertise técnica e capacidade institucional para colaborar em soluções conjuntas, com estudos, desenvolvimento de sistemas de alerta e projetos de mitigação que poderiam ser estruturados em parceria com organismos multilaterais de financiamento.

A embaixadora Daniela Benjamin, diretora do Departamento de Integração Regional do Ministério das Relações Exteriores, afirmou que é necessário estruturar de forma mais eficaz o diálogo regional em torno da conectividade e da infraestrutura física e digital. Segundo ela, têm sido realizados esforços conjuntos entre governos, centros de pesquisa e o setor privado para avançar em projetos como o Observatório de Infraestrutura e as rotas de integração regional.

A embaixadora brasileira também defendeu uma agenda coerente que articule temas prioritários como energia, economia azul, turismo sustentável e combate ao sargaço. Ela ressaltou ainda a importância da convergência entre iniciativas existentes e do fortalecimento da cooperação regional, com apoio de bancos de desenvolvimento e organismos multilaterais.

2025\6\12Conferência: O presente e o Futuro das Relações Entre o Brasil e o Caribe

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