Trabalho de cuidado e condições de ocupação são debatidos em seminário do Ipea
Estudo abordado no evento destaca perfil das trabalhadoras do setor e impactos das novas formas de intermediação do trabalho
Publicado em 14/02/2025 - Última modificação em 14/02/2025 às 14h47
Foto: Helio Montferre/Ipea
O Seminário das Quintas, promovido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), por meio da Diretoria de Estudos e Políticas Sociais (Disoc), discutiu as condições do trabalho de cuidado no Brasil, abordando seu reconhecimento como ocupação e os impactos das novas formas de intermediação do trabalho. O evento, realizado nesta quinta-feira (13), apresentou os principais pontos de um estudo conduzido por uma equipe multidisciplinar do Ipea, liderada pela técnica de planejamento e pesquisa Ana Amélia Camarano, com a participação da bolsista Stephanie Burille e de outros especialistas do instituto.
Na ocasião foram apresentados os principais resultados da pesquisa conduzida entre março e agosto de 2024. De acordo com os responsáveis, a pesquisa é uma semente que começa a germinar e tem grande relevância no contexto das plataformas digitais e das novas relações de trabalho. A investigação desse tema teve início em 2022, com a interlocução de representantes de associações de cuidadores e sindicatos de trabalhadores domésticos, visando compreender as preocupações e demandas de quem atua diretamente no setor.
Um dos pontos centrais abordados foi a característica do trabalho de cuidado como uma atividade de reprodução social, majoritariamente exercida por mulheres. Dados da PNAD 2023 mostram que 93% dos trabalhadores do setor são mulheres, sendo 65,4% delas negras. Atualmente, 6,4 milhões de pessoas atuam nessas atividades no Brasil. A pesquisa também revelou que apenas 30% dessas trabalhadoras têm acesso a direitos trabalhistas formais, e que a maioria enfrenta jornadas extensas, chegando a ultrapassar 60 horas semanais em alguns casos.
Outro ponto analisado foi o impacto da intermediação do trabalho de cuidado por plataformas digitais. Segundo o estudo, houve um crescimento expressivo do trabalho mediado por aplicativos, especialmente em serviços de cuidadores de idosos e crianças. Entre 2020 e 2024, a participação dessas plataformas cresceu cerca de 45%, alterando significativamente a forma como esses serviços são ofertados e remunerados. A mudança tem gerado desafios, como a precarização dos contratos e a falta de garantias trabalhistas.
Ana Amélia Camarano aproveitou o momento de apresentação dos dados e expôs reflexões sobre desigualdades dentro da mesma ocupação, como no tempo de deslocamento das trabalhadoras. "As trabalhadoras negras levam, em média, 40% mais tempo para se deslocar até o trabalho do que as trabalhadoras não negras, seja na função de trabalhadora doméstica ou de cuidadora", afirmou. Essa disparidade impacta diretamente na qualidade de vida dessas profissionais e na possibilidade de conciliação entre trabalho e vida pessoal.
A síntese dos resultados apresentados indica que o trabalho de cuidado continua sendo uma atividade essencial para o funcionamento da sociedade, mas permanece subvalorizado e precarizado. A pesquisa demonstrou que, além da baixa remuneração e da falta de acesso a direitos trabalhistas, muitas profissionais enfrentam instabilidade nas relações de trabalho, principalmente aquelas que atuam por meio de plataformas digitais.
A falta de regulamentação adequada e as desigualdades raciais e de gênero afetam diretamente as condições de trabalho dessas profissionais. O estudo reforça a necessidade de ações coordenadas entre o poder público, sindicatos e associações para garantir melhores condições e reconhecimento desse tipo de trabalho.
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