Foto: Ramon Vellasco
O racismo causa perdas econômicas significativas ao limitar o pleno potencial de participação de indivíduos na economia, sem qualquer argumento econômico racional, mas com base em preconceitos equivocados sobre raça e cor da pele. É o que reforça a pesquisa Utilizando Modelos SIR no Estudo da Propagação e da Prevalência do Racismo no Brasil, apresentado no seminário Agenda 2030 e ODS 18: Construindo Futuros Racialmente Justos e Inclusivos, realizado na terça-feira (3). A pesquisa utiliza modelos de epidemiologia matemática conhecidos como SIR (Susceptible/suscetível; Infected/infectado; Recovered/recuperado) para construir cenários da trajetória temporal da discriminação racial no país. Ele também recomenda intervenções estatais focadas na regulação de redes sociais, internet, jogos eletrônicos e outras mídias, espaços que amplificam o racismo em larga escala. Tais recomendações seriam complementares a outras ações essenciais na luta antirracista, como avanços nas áreas de educação, cultura, política, justiça e legislação, entre outras.
Com a aplicação de modelos SIR muito exploratórios, foi possível construir cenários em que, dependendo das hipóteses sobre os dados referentes ao racismo, e na ausência de eficaz atuação do Estado brasileiro, essa chaga social poderá nos afligir por muito tempo, com consequências catastróficas. Em alguns modelos, a convergência para níveis baixos de racismo é extremamente demorada. Como as consequências negativas do racismo também perduram por muito tempo, o Brasil poderá conviver com essas mazelas e prejuízos econômicos e sociais por muitas décadas.
Alexandre Marinho, técnico de planejamento e pesquisa do Ipea e autor do estudo, apresentou o trabalho no seminário, destacando o racismo como uma doença social, e indicou as perdas do produto interno bruto (PIB) do país diante da discriminação racial. “O racismo é elemento desorganizador da sociedade, porque ele discrimina pessoas, ele não ordena corretamente o processo produtivo e não dá reconhecimento e socialização equânime para cada ser humano. Então, o racismo é uma disfunção social. Uma sociedade racista é uma sociedade doente”, explica Marinho.
O modelo SIR tenta explicar, matematicamente, como uma doença infectocontagiosa se propaga e evolui em uma população, a partir do contato entre indivíduos suscetíveis e infectantes. Em resumo: pessoas “doentes” contaminam pessoas “saudáveis” através de suas ações e discursos, muitas vezes de forma inconsciente. “Com o passar do tempo (que pode variar muito, dependendo da dinâmica da doença), algumas pessoas se recuperam e, após um certo período (mais ou menos longo), a doença tenderia a desaparecer nos modelos das epidemias usuais, pois todos os sobreviventes adquirem alguma imunidade, ao contrário do que ocorre no racismo. Em nosso caso, os doentes seriam os racistas e os saudáveis seriam os não racistas. Mas a cura do racismo, que é difícil e demorada no mundo real, somente será possível se toda a sociedade for tratada, pois o tratamento individual não é eficaz”, exemplifica Marinho. Para o pesquisador, a atuação estatal deve ser multifatorial, pois o racismo é estrutural e multifatorial, com origem psicológica, política e sociológica.
O estudo – ancorado no conjunto ainda pequeno de trabalhos de pesquisadores negros que desenvolveram um arcabouço utilizando o modelo SIR – busca mensurar melhor a evolução do racismo no Brasil, avaliando suas implicações econômicas ao longo do tempo. “O ser humano discriminado não é visto como ser humano normal. Ele é colocado no extremo inferior da distribuição prevista de dotações para a vida econômica e social feita pela sociedade. Então, ele é excluído ou segregado ao longo da vida por uma série de razões”, diz Marinho.
Leia aqui o estudo na íntegra
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