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Seminário debate o papel dos coletivos negros na construção da agenda pública e o impacto nas trajetórias individuais

Evento, promovido em parceria entre Ipea e Iphan, inaugura projeto liderado por coletivos de servidores das instituições

Foto: Helio Montferre/Ipea

Para celebrar o Mês da Consciência Negra, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) promoveram, nesta quinta-feira (28), o seminário “Presença Negra – Entre Mobilização Coletiva e Trajetórias Individuais”. O evento foi organizado por um coletivo de servidores e colaboradores de ambos os órgãos.

O evento reuniu pesquisadores, representantes de instituições públicas e de organizações da sociedade civil. “Esse evento já virou um projeto porque ele tem um propósito que não se esgota em um único dia. A ideia da atividade é trabalhar com a memória daquelas e daqueles que não tiveram o direito a um registro na história da cidade, do estado, do país em que a gente vive. De pessoas que não comparecem no discurso oficial como produtoras de história”, explicou Antônio Teixeira, técnico de planejamento e pesquisa do Ipea e um dos organizadores do evento.

A presidenta do Ipea, Luciana Mendes Santos Servo, compartilhou sua vivência enquanto mulher negra e celebrou o fato de o tema racial ter voltado a se movimentar e a criar raízes na instituição. “Acho fundamental revelar cada vez mais esse potencial de forma muito clara, forte, determinada. As mazelas da população negra estão estampadas o tempo todo, mas a potencialidade é pouco revelada”, destacou.

O presidente substituto do Iphan, Andrey Schlee, ressaltou a retomada, no ano passado, dos processos de tombamentos de terreiros de candomblé e a regulamentação do tombamento constitucional dos quilombos.

Coletivos negros, agenda pública e trajetórias individuais

Durante o seminário, os panelistas abordaram o papel dos coletivos negros na formação da agenda pública em momentos históricos, como a Constituinte e Conferência de Durban, além de discutirem como a atuação dos coletivos se entrelaça com as trajetórias individuais de negras e negros no Brasil.

No primeiro painel, Maria Luiza Junior, cofundadora do Movimento Negro Unificado no Distrito Federal, contou como o coletivo se organizou, protagonizou conquistas históricas e teve sua atuação apagada ao longo do tempo. Tornar racismo um crime inafiançável e imprescritível, além de prever a titulação das terras quilombolas aos remanescentes de quilombo, por exemplo, são proposições do relatório final da Convenção Nacional dos Negros pela Constituinte, da qual ela foi relatora. “Se pensar bem, a titulação das terras quilombolas é a única reforma agrária que houve nesse Brasil. Fomos nós, negros, reunidos naquela convenção, que propusemos. O que aconteceu com o movimento negro foi um apagamento proposital”, afirmou.

Nelson Inocêncio, professor do Departamento de Artes Visuais da Universidade de Brasília (UnB), destacou outro momento político em que a participação do movimento negro foi crucial: a Conferência de Durban, nome pelo qual ficou conhecida a Terceira Conferência Mundial contra o Racismo, a Discriminação Racial, a Xenofobia e Formas Correlatas de Intolerância, promovida pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2001.

De acordo com o professor e ativista, a delegação tinha muitos representantes da sociedade civil, o que foi fundamental para pressionar o Estado e, pela primeira vez neste tipo de fórum, sair com o compromisso de desenvolver políticas locais. “Havia uma conjuntura favorável. Não sei se a gente conseguiria fazer isso se Lula não tivesse sido eleito naquele momento. Precisamos entender que esse país tem idas e vindas, fluxos e refluxos, que são muito sérios”, disse.

O segundo painel tratou da maneira como a participação em coletivos negros se entrelaça às trajetórias individuais. Vilma Reis, assessora especial dos correios, e Vanessa Resende, do Senado Federal e cofundadora do Coletivo Maria Firmina, reforçaram o quanto as políticas afirmativas são importantes, mas também o quanto a organização coletiva é fundamental.

“Quando a gente está falando de cotas no serviço público, a gente está dizendo que é insuportável termos instituições na terceira década do século XXI sob o comando exclusivo de brancos”, afirmou Vilma Reis. Mas, a entrada em instituições públicas não exime a necessidade de enfrentamento de questões raciais. “Os negros que tentarem chegar e ficar escondidos em algum lugar... não tentem, porque o racismo vai te achar. Então, você tem que se organizar”, defendeu.

Vanessa Resende compartilhou da mesma visão. “A estrutura é adoecedora. Nossos ancestrais nos ensinaram isso: ou nós estamos em coletividade ou a gente adoece e é fatal o adoecimento”, declarou.

 

 

2024\11\28 Seminário: Presença Negra – Entre Mobilização Coletiva e Trajetórias Individuais

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