Foto: Helio Montferre/Ipea
A presidenta do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Luciana Mendes Santos Servo, alertou para os desafios enfrentados pelas mulheres na ciência e no serviço público durante o seminário “Diversidade Sexual e de Gênero no Serviço Público”. O evento foi realizado na segunda-feira (4/11), em comemoração ao Dia da Servidora e do Servidor, na sede do Instituto, em Brasília.
Servo apontou a baixa representatividade feminina entre os bolsistas do CNPq, onde apenas 35% são mulheres. Ela observou que, à medida que o nível acadêmico aumenta, a presença feminina diminui, um padrão que se repete nos programas de mestrado e doutorado. A presidenta criticou o “produtivismo na ciência”, que beneficia homens devido à diferença nas cargas horárias de cuidado e prioriza a quantidade e a classificação das publicações acadêmicas em detrimento do seu conteúdo. E propôs a ressignificação do papel da mulher no mercado de trabalho, ressaltando a necessidade de uma política nacional de cuidados. “Temos que nos questionar por que reproduzimos paradigmas que colocam determinados grupos em situações vulneráveis, inclusive em situações de opressões generalizadas. Daí a importância dos incentivos institucionais para orientar aonde a instituição deve ir”, afirmou.
Servo lembrou que, apesar do aumento da participação feminina no serviço público, onde elas ocupam cerca de 45% dos cargos, a representação em posições de liderança ainda é baixa. E advertiu que as mulheres negras enfrentam desafios ainda maiores, progredindo mais lentamente na carreira.
Em seguida, Silvia Badim Marques, coordenadora do Núcleo de Estudos da Diversidade Sexual e de Gênero da Universidade de Brasília (UnB), questionou a lógica da competitividade masculina que permeia as relações acadêmicas e reproduz violência no ambiente universitário. Silvia sublinhou que é preciso repensar as normas, em vez de se adequar a elas.
Gabriela Freitas da Cruz, técnica de planejamento e pesquisa da Diretoria de Estudos e Políticas Sociais (Disoc/Ipea), avaliou a necessidade de aumentar a presença feminina em posições de liderança não só por questão de representatividade, mas para transformar o ambiente de trabalho. Ela enfatizou a criação de políticas públicas feitas por e para mulheres, uma vez que o trabalho reprodutivo é invisibilizado e precisa ser valorizado. Para isso, recomendou mudanças nas regras do mercado de trabalho, com jornadas menores e mais flexíveis, que considerem o ciclo de vida das mulheres.
Luana Simões Pinheiro, diretora de Economia do Cuidado do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS), defendeu a estruturação de uma política de cuidados. Ela argumentou que é preciso avaliar a produtividade levando em conta essa política e relatou experiências de assédios morais relacionadas à questão das atividades de cuidado. “As instituições, em geral, não acolhem nem reconhecem a necessidade das mulheres de compatibilização das responsabilidades de cuidado com a vida profissional. Além do cuidado com as crianças, com o envelhecimento populacional, essa é uma questão que explode o espaço da administração pública,” sinalizou.
Ela salientou a importância da presença feminina nas decisões, para que suas perspectivas sejam consideradas, e informou que 40% das mulheres ocupam cargos de DAS, mas enfrentam dificuldades a partir do nível 4 - especialmente as mulheres negras, que são progressivamente excluídas.
Ana Carolina Lessa Dantas, técnica de planejamento e pesquisa da Diretoria de Estudos e Políticas do Estado, das Instituições e da Democracia (Diest/Ipea), assinalou o papel do Ipea em pautar a sociedade sobre a desigualdade de gênero e alertou que o serviço público e as políticas podem tanto reduzir quanto perpetuar essas desigualdades.
Ana Paula Moreira da Silva, presidenta da Afipea – entidade representativa dos servidores do Ipea –, apontou que o instituto é a quarta instituição com mais servidores homens no Executivo Federal, com apenas 20% de servidoras, segundo o Painel Estatístico de Pessoal do Ministério da Economia. Ela anunciou o lançamento do “Podcast 20%”, em março de 2025, com narrativas de mulheres sobre suas trajetórias e desafios no Ipea. As histórias serão divulgadas nas redes sociais da Afipea.
Por fim, Tony Gigliotti Bezerra, técnico de planejamento e pesquisa da Diretoria de Estudos Internacionais (Dinte/Ipea), discutiu os direitos LGBTIA+ no mundo e os desafios dessa agenda no Brasil.
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