Em evento paralelo do T20, Ipea propõe modelos alternativos para combater crise climática
Workshop ‘Influenciando as respostas às mudanças climáticas, cuidados, financiamento e crises da dívida’ foi sediado no BNDES, no Rio de Janeiro
Arquitetura financeira internacional, mudanças climáticas, cenários de transformação verde e descarbonização foram alguns dos temas debatidos no workshop “Influenciando as respostas às mudanças climáticas, cuidados, financiamento e crises da dívida”, realizado nos dias 22 e 23 de outubro, na sede do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), no Rio de Janeiro. O evento foi organizado pela Rede Sul-Americana de Economia Aplicada (Red Sur) e contou com a participação Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, reforçando o alinhamento de estratégias aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), com foco no G20 e de olho na COP 30.
De acordo com José Eduardo Brandão, diretor-adjunto de Estudos Internacionais do Ipea, o encontro, que se soma aos side events do T20 (grupo de reflexões dentro do G20), parte de uma série de esforços com apoio de organizações como o Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri) e a Fundação Alexandre de Gusmão (Funag). Além dos resultados esperados, como a entrega de policy briefs e do Communiqué do T20, o grupo produziu mais de 350 documentos e continua publicando comentários. Brandão enfatiza a importância de se passar das discussões acadêmicas para soluções práticas, com foco na implementação de políticas sustentáveis.
“Temos que lembrar que os países, principalmente aqueles que vão ser mais impactados com as mudanças climáticas, não terão capacidade de pagar esses financiamentos, porque a sua produção vai estar impactada. O mesmo ocorre com as prefeituras aqui no Brasil. Algumas prefeituras também não vão ter capacidade de arrecadar recursos, porque estão nos seus limites. Alguns estados já estão dessa forma e, também, não vão ter capacidade de pagar. Então, nós temos que pensar não só em um financiamento, mas também em formas de doação de recursos, de captação de recursos internacionais para isso”, declarou.
Desenvolvimento sustentável
Uma das sessões do evento tratou sobre ‘Desenvolvimento sustentável e cenários verdes’, com foco no alinhamento do trabalho de macromodelagem ambiental e na promoção de uma transição justa e sustentável. Esse momento contou com a participação de João Maria Oliveira, técnico de planejamento e pesquisa da Diretoria de Estudos e Políticas Macroeconômicas do Ipea. A mesa, que contou também com representantes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Universidade de Aalborg, da Dinamarca, foi mediada pelo diretor-adjunto do Ipea, Cláudio Amitrano.
João Maria expôs trabalhos do Ipea que estão voltados ao desenvolvimento de uma estratégia de macromodelagem que utiliza vários modelos, como DSGE (equilíbrio geral estocástico e dinâmico), CGE (equilíbrio geral computável), modelo de uso da terra, entre outros, para análises ambientais. A apresentação principal detalhou modelos dinâmicos recursivos, mostrando simulações de cenários de mudanças climáticas de 2025 a 2050, analisando impactos em setores como agricultura e pecuária, com destaque para as implicações econômicas e regionais no Brasil.
Dois cenários foram simulados: um cenário de referência, sem mudanças estruturais, e um cenário transformador. O pesquisador também ressaltou os desafios trazidos por novas regulamentações, como a tarifa de carbono, que pode afetar significativamente o PIB da pecuária brasileira e reduzir exportações.
“O Banco Central tem uma avaliação de risco para a demanda de investimento que o Brasil vai ter em função de como vamos mitigar as emissões do Brasil. Se vamos fazer investimento em tecnologia, de onde vai vir esse tipo de recurso? Essa é a grande preocupação do BC. A partir desses dados, estamos mostrando que o Carbon Border Adjustment Mechanism, que vai efetivamente gerar uma tarifa alta para a nossa pecuária, vai provocar, dado todo o resto constante, uma queda de PIB de 2,4 pontos percentuais até 2030, se efetivamente começar a funcionar em 2026”, explicou João Maria, ressaltando que mudanças exigirão mais reações urgentes para mitigar os impactos econômicos e ambientais.
Política Industrial Verde
Os desafios da transição verde, com destaque para a necessidade de equilibrar o crescimento econômico com a redução do impacto ambiental, foram os destaques da apresentação da diretora de Estudos e Políticas Setoriais de Inovação, Regulação e Infraestrutura (Diset/Ipea), Fernanda De Negri. Segundo ela, para incorporar uma parte significativa da população mundial aos padrões de consumo sem esgotar os recursos naturais, é necessário mudar tanto os padrões de consumo quanto de produção, principalmente por meio de novas tecnologias.
Fernanda abordou o conceito de decoupling, que defende dissociar o crescimento econômico do uso de recursos naturais. “A gente precisa de políticas coordenadas, políticas integradas. Não é uma política só, não é só política de ciência e tecnologia, não é só política regulatória. Precisamos de políticas de inovação, de ciência e tecnologia focadas e com objetivos muito claros. Estimular investimento em pesquisa e desenvolvimento e inovação em tecnologias sustentáveis, e aí vai desde hidrogênio verde, baterias, captura e armazenamento de carbono, estabelecimento de fundos de P&D [Pesquisa e Desenvolvimento] verdes, que alguns países estão fazendo e que pode ser uma alternativa interessante”, defendeu a pesquisadora.
Na mesma mesa de debates, chamada ‘Política industrial verde’, Mônica Mora y Araujo, diretora-adjunta de Políticas e Estudos Macroeconômicos do Ipea, atentou para a urgência sobre a crise climática, destacando a dificuldade de se estruturar o big push em meio ao processo de e desindustrialização em curso no Brasil. O desenvolvimento econômico e seus desdobramentos poderiam contribuir para a redução do ritmo de desmatamento, o que seria benéfico não só para o Brasil, mas também em termos globais argumentou a pesquisadora.
“Não adianta que os Estados Unidos, Europa ou China consigam fazer uma política industrial verde, que todos produzam de uma forma consistente, se isso não for alcançar também os países do Sul. Não adianta, será um esforço em vão, porque, afinal de contas, é necessário que esse esforço seja conjunto, é necessário que essas tecnologias sejam compartilhadas e sejam pensadas de uma forma global, e não individual”, ressaltou.
Papel do Ipea
O workshop contou com o discurso da presidenta do Ipea, Luciana Mendes Santos Servo, no encerramento. Ela destacou o papel do Instituto no T20 e na elaboração de políticas públicas, além de diferentes agendas que ganharam destaque, incluindo a capitalização e a arquitetura financeira internacional em meio à presidência do Brasil no G20, entre elas, a Aliança Global Contra a Fome.
“A Aliança Global [Contra a Fome] não é uma política que usa a lógica tradicional de ter um catálogo fechado de políticas em países e com a qual vem uma agenda de financiamento. Ela é o que os países fazem, o que eles conseguem fazer de bem e como é que, a partir disso aí, eu trago financiamento para essa agenda. E isso eu acho que é um exemplo do que a Aliança traz de discussões e que deve ser feito para outras coisas, inclusive para a agenda de política industrial e climática”, argumentou Luciana.
Participaram dos debates membros do Instituto de Pesquisa da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); Instituto de Pesquisa da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); Universidade Federal do Rio de Janeiro (IE/UFRJ); Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea); Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES); do Centro Internacional de Pesquisas para o Desenvolvimento (IDRC do Canadá); dos ministérios da Fazenda, do Meio Ambiente e da Indústria; e de agências executivas do Brasil, da América Latina e da África.
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