IA: Infraestrutura e capacitação são as maiores necessidades atualmente, alertam especialistas em debate no Ipea
Setor privado, uso em empresas públicas e investimentos em educação foram temas explorados em um dos seminários comemorativos dos 60 anos do Instituto
Publicado em 15/10/2024 - Última modificação em 16/10/2024 às 11h26
Foto: Ramon Vellasco
Durante o seminário ‘Inteligência Artificial – Desafios e Oportunidades para o Brasil’, que ocorreu nesta segunda-feira (14) no Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), especialistas e pesquisadores da área destacaram que infraestrutura e capacitação de mão de obra são as principais demandas para que o Brasil avance em relação à pauta. O evento debateu as necessidades do setor no Brasil, os obstáculos da regulação e como o país pode (ou não) se espelhar em exemplos da América do Norte e da Ásia para avançar na legislação em mercado de IA. A organização do encontro foi da Diretoria de Estudos e Políticas Setoriais, de Inovação, Regulação e Infraestrutura (Diset/Ipea).
Luciana Mendes Santos Servo, presidenta do Ipea, destacou os trabalhos que o instituto vem desenvolvendo na área, enfatizando estudos de autoria de Luis Claudio Kubota, coordenador de Métodos, Dados e Projeções Microeconômicas na Diset/Ipea, que desenvolve sobre Inteligência Artificial no Brasil, principalmente tratando do impacto da automação no mercado de trabalho.
“Embora a IA possa aumentar a produtividade e criar novos tipos de emprego, ela também tem o potencial de substituir postos de trabalho, especialmente os de baixa qualificação. A requalificação da força de trabalho, investimento e educação digital serão fundamentais para garantir uma transição justa para a economia da Inteligência Artificial”, defende.
Luciana destaca também a importância da cooperação internacional. “A Inteligência Artificial tem que ser pensada de forma global e, efetivamente, este é um dos grandes desafios colocados. Tivemos várias discussões de T20 e G20, mas ainda precisamos avançar nessas discussões dentro do Brasil, lançando o desenvolvimento das tecnologias nessa relação dos Estados Unidos, China e Brasil, além de intensificar o diálogo com o Brics, que será presidido pelo Brasil no ano que vem. São a troca de experiências e engajamento em colaborações internacionais que mostrarão que o Brasil não apenas acompanha as inovações, mas também participa ativamente de uma criação de agenda global para o uso ético e inclusivo em IA”, reforçou a presidenta do Ipea.
Kubota é o autor do livro ‘Digitalização e Tecnologias da Informação e Comunicação no Brasil’, sendo que um dos capítulos da obra trata dos determinantes da adoção da Inteligência Artificial para as empresas brasileiras. Fernanda de Negri, diretora de Estudos e Políticas Setoriais de Inovação, Regulação e Infraestrutura, que mediou a conversa, questionou os destaques do trabalho e o grau de disseminação da IA no país.
“O que esse texto nos alerta, e quem é do setor sabe, é que a IA é a estrela da vez, mas ela faz parte de um guarda-chuva de tecnologias. Então, por exemplo, determinantes que a gente encontrou, no caso das empresas brasileiras, foram principalmente Sensores IoT, Segurança da Informação, Big Data e Nuvem. Na própria definição do plano brasileiro, está a questão de grande volume de dados. Fazendo uma parábola futebolística: há um centroavante ao fundo, que é a IA, mas você precisa do goleiro e dos zagueiros, que são as seguranças cibernéticas, os volantes e o meio-campo, que são a big data,a nuvem e os sensores, para dar a bola ao atacante”, reflete o pesquisador.
“O Brasil precisa avançar na capacitação de pessoas. É preciso capacitar pessoas em todos os níveis, desde o fundamental, até aumentar a quantidade de pesquisadores especializados no Brasil. A gente tem também que investir em infraestrutura, pois o Brasil não tem uma infraestrutura computacional para a inteligência artificial. Temos um problema muito grande de investimento em infraestrutura”, declarou Eliana Emediato – coordenadora-geral de Transformação Digital da Secretaria de Empreendedorismo e Inovação do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).
Ainda sobre capacitação e também no debate sobre regulação da IA no Brasil, Nina da Hora, cientista da computação e diretora no Instituto Da Hora, enfatizou a necessidade de se pensar ética e legislação na área saindo do padrão das ciências exatas, além de criar ambientes de discussão em que o Brasil, antes de se espelhar em países como EUA e China, olhe para dentro de suas relações socioeconômicas. “A gente tem um ponto dessa discussão sobre todos esses países que estão sendo citados aqui: primeiro eles pensaram em si próprios, na própria soberania. E aí eles conseguem escalar. E o Brasil, na minha perspectiva, já começa a pensar ao contrário: primeiro tenta fazer essa escala e depois pensar a soberania nacional. Eu acho que isso complica um pouco a discussão”, avalia.
Ao citarem o exemplo de carros autônomos, veículos planejados para operarem sem intervenção humana e um dos grandes debates dentro de IA no mundo, a ativista defendeu que a discussão deve ir além. “A questão é que a formação na computação só foca nas ciências exatas. Eu tive sorte e proatividade de fazer disciplinas nas ciências sociais, na teoria política, na sociologia. Não é porque eu quero passear por todas as áreas, mas é porque a área em que eu escolhi me dedicar, que é a ética, ela não pode ser de uma visão só de matemáticos, engenheiros e cientistas na computação. Isso vai influenciar a discussão da regulação, porque, agora, a regulação tem sido discutida somente por juristas, e não chamam as pessoas que trabalham no dia a dia da IA”, reforça Nina.
Eduardo Paranhos, líder do grupo de Trabalho de Inteligência Artificial da Associação Brasileira das Empresas de Software (Abes), também classificou a capacitação e a infraestrutura como necessidades principais para além do campo público. “São pontos centrais também para o setor privado, mas precisam ser mais estratégicos do que puramente com o investimento, inclusive com um perfil de continuidade, uma capacitação que não se insere ali com um programa, tem que ser um momento contínuo. Na questão de capacitação, a gente precisa olhar também com uma visão crítica e positiva que se construiu até aqui. A capacitação incremental muitas vezes tem um resultado de efetividade no curto prazo muito mais difícil de se perceber do que a capacitação de mão de obra, desde preparada e do zero, e [precisa] qualificar na última tecnologia quântica e ágil”, alerta.
Disruptiva, inacessível ou essencial, a IA é uma realidade e parte do cotidiano, e os especialistas defendem seu uso e aplicações, seja no setor público ou privado. “Eu acho que a demanda (em IA) existe em três camadas e em diferentes perspectivas. Por exemplo, existe a demanda do uso da IA para ver as desigualdades do país, poder oferecer saúde, educação, qualidade em todas as coisas e para todas as camadas sociais. A demanda é que a pessoa não possa nem saber que tem IA envolvida ali, só ter acesso ao serviço e a melhor qualidade. A segunda demanda é saber distinguir os riscos dos benefícios da inteligência artificial. A pessoa não saber usar IA, mas saber que tem que existir, [para] ficar fácil o que ela não pode fazer. A terceira demanda é de quem que vá usar a IA de algum modo no dia a dia. É preciso ter uma capacitação profissional da pessoa para que ela use IA”, define André Carlos Ponce de Leon Ferreira de Carvalho – professor titular e diretor do Centro de Aprendizado de Máquina em Análise de Dados da Universidade de São Paulo (USP).
A conversa abordou os planos do governo para a inteligência artificial, como o setor privado está se preparando para o mercado de IA, as principais dificuldades enfrentadas pelas empresas do setor, estímulo para pesquisa no país e os potenciais vieses da tecnologia.
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