Helio Montferre/Ipea
Para apresentar aos novos servidores do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) os desafios do Estado brasileiro frente à agenda de igualdade racial, uma aula magna reuniu especialistas no tema, em Brasília, na quinta-feira (15). O evento, intitulado O Que Foi Feito Deveras (De Vera) – O Protesto Negro e a Agenda Antirracista do Estado Brasileiro, contou com a participação de Clara Marinho, analista de planejamento e orçamento, e Antônio Teixeira, técnico de planejamento e pesquisa do Ipea na área de Igualdade de Gênero e Raça.
Antônio explicou que o conjunto de demandas construídas ao longo da história pelo Movimento Negro tem exigido respostas efetivas do Estado brasileiro e, por isso, foi oportuno fazer desse momento de reflexão uma oportunidade para receber os servidores concursados. “Nossa intenção é apresentar a eles a casa e as perspectivas de trabalho em coletivo, de parceria, além dos desafios que esta instituição possui”, afirmou.
A presidenta do Ipea, Luciana Mendes Santos Servo, abriu a aula magna e destacou a importância da temática de igualdade de gênero e raça no Ipea. “Este momento é muito importante, em vários sentidos. De fato, precisamos construir o perfil de programas especiais de pesquisa no Ipea. Além disso, todas as áreas têm que trabalhar com gênero, raça e diversidade, porque se não fizermos isso ficaremos nos nichos de sempre, que provocam mudanças, mas não estruturais”, alertou.
A presidenta reforçou que toda forma de discriminação é inaceitável e que a desconstrução desse paradigma social começa com a pesquisa, de maneira criteriosa. Clara Marinho, coidealizadora da iniciativa “Elas no Orçamento”, endossou as palavras de Luciana fazendo referência às pesquisas desenvolvidas pelo Ipea. “Neste caminho de construção da desnaturalização das desigualdades e de construção de soluções de política pública, o Ipea deu um profundo suporte a esse movimento, não só com a produção de estudos separados para os temas, mas com a regularidade das publicações”, disse. Ela apresentou um desafio para os novos pesquisadores do Ipea referente à construção de políticas públicas e soluções para além das cotas.
Antônio falou aos novos pesquisadores sobre os requisitos para atuação na área de gênero e raça. “Só existem dois requisitos: não dá para ser covarde e não dá para ser medroso. São áreas que, durante muito tempo, talvez em toda a sua história, foram consideradas marginais dentro da cena pública. Esse segmento é aquele que figura nas estatísticas de morte, de encarceramento em massa, que é outra forma de matar, e figura nas piores estatísticas do mundo do trabalho, nas piores estatísticas de saúde”, definiu.
No segundo momento da aula magna, os servidores participaram das discussões com questionamentos e ponderações. Marcel Machado, da área de políticas públicas e sociedade, apresentou algumas angústias: “Temos que pensar em alguns fatores. Um é o enfrentamento real à violência policial, porque não tem como fazer política pública se você não estiver vivo. Sendo jovem negro, eu ainda estou dentro dessa categoria, considerada de muito risco. Mas a gente não vê esse enfrentamento. Vemos medidas simbólicas, falas, mas, na hora da política real, isso acaba sendo relegado. Outra medida importante é repelir o desmantelamento trabalhista. É só observar quem são os entregadores quando pedimos comida por aplicativo. Qual é a cor desses trabalhadores? Eu penso que algumas medidas de escala podem ser impactantes, mas é preciso ter opção política e esse enfrentamento passa pela esfera pública, pelo orçamento”.
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