Ipea e Abin discutem como identificar agendas de políticas públicas e mapear riscos
Seminário discutiu levantamento que antecipa o calendário político-institucional até dezembro deste ano
Publicado em 06/08/2024 - Última modificação em 08/08/2024 às 16h53
Helio Montferre/Ipea
Quais questões de política pública podem ser antecipadas no calendário de ações e decisões do Estado brasileiro? A resposta está em três textos para discussão publicados pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), de autoria do técnico de planejamento e pesquisa Antonio Lassance. O trabalho foi debatido em um seminário intitulado “Um Passo Adiante – Antecipando a Agenda do Estado Brasileiro até dezembro de 2024”, realizado na sede do Ipea na última segunda-feira (5).
Esse panorama sobre a agenda do Estado apresenta um calendário mês a mês, com eventos rastreados a partir de informações públicas oficiais. A análise identifica as agendas mais evidentes e promissoras, bem como aquelas que têm sido reiteradamente travadas, além de destacar questões que podem envolver alguns riscos a serem monitorados. Segundo Lassance, além da publicação anual, o trabalho deve ser atualizado com notas técnicas mês a mês.
Desde 2011, o Ipea tem realizado esse tipo de levantamento. Em um desses trabalhos, por exemplo, foi emitido um alerta sobre a possibilidade de manifestações contra o preço das passagens de transporte coletivo, ainda em fevereiro de 2013. Esse alerta, apresentado no estudo "Temas Relevantes da Agenda Federativa para março de 2013", precedeu as mobilizações que ocorreram em praticamente todos os estados, principalmente nas capitais, exigindo a redução do preço das passagens do transporte coletivo.
O evento de discussão dos textos contou com a participação de Fábio de Sá e Silva, técnico de planejamento e pesquisa; Marco Aurélio Chaves Cepik, diretor-adjunto da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e professor titular de Relações Internacionais e Política Comparada da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS); Anna Cruz, diretora da Escola de Inteligência da Abin; e Vito Drummond, coordenador-geral de Relações Institucionais e Comunicação da Abin.
Marco Cepik destacou a importância de uma metodologia antecipatória mais analítica, afirmando: "Ela é crucial para construirmos uma perspectiva mais transversal das políticas públicas". E acrescentou: "A política externa e a política de inteligência, por exemplo, raramente são tratadas como políticas públicas, o que pode levar ao isolamento dessas áreas decisórias e à falta de debate público. A metodologia que estamos utilizando ajuda a integrar essas áreas e proporciona uma visão mais ampla dos desafios enfrentados”, disse.
Anna Cruz, diretora da Escola de Inteligência da Abin, mencionou uma das inovações previstas, que é a entrega de um documento ostensivo (aberto) e prospectivo, composto por três blocos: 1) transições globais – climática, demográfica e econômica; 2) o Brasil no mundo; e 3) desafios da inteligência do país, incluindo espionagem, segurança das instituições democráticas, segurança cibernética, experiência de inteligência em setores estratégicos, mercados ilícitos e crime organizado. Este será um documento inédito, com o objetivo de dar transparência e comunicar à sociedade a importância do trabalho de inteligência no país, além de fomentar o diálogo com outras organizações do Estado e da sociedade civil, recolhendo sugestões e críticas de especialistas.
Lassance explicou a importância de antecipar eventos e temas relevantes da agenda, afirmando que é possível prever grande parte do que acontecerá, embora nem tudo. O futuro é um organismo mutante, e surpresas são inevitáveis e imprevisíveis. O técnico do Ipea ressaltou que se trata de um trabalho sistemático de pesquisa, que começa com uma fundamentação teórica, passa pela operacionalização metodológica, segue com o levantamento empírico e depois revisa e verifica se os resultados projetados ocorreram conforme o previsto. "O levantamento feito em novembro e dezembro de 2023 trazia eventos previstos para os meses de janeiro a julho de 2024, hoje já superados. Agora, estamos antecipando o calendário até dezembro e revisando se acertamos no que rastreamos para os seis primeiros meses do ano".
Ele também enfatizou a importância de o setor público antecipar eventos e temas críticos. Ao contrário da célebre frase "no Brasil, até o passado é incerto", ele demonstrou que o futuro, principalmente no curto prazo, é bastante previsível, e algumas agendas mais resilientes permanecem estruturais, projetando-se no longo prazo. Ele concluiu: "Se não entendemos o que ocorre no curto prazo, não há futuro", disse o pesquisador do Ipea.
De acordo com Lassance, pelo menos cinco ministros e ministras recebem esse estudo atualmente, além de quase vinte secretários de Estado e assessorias. O trabalho agora é público. O mais importante é oferecer uma metodologia aberta, adaptável e replicável que possa ser utilizada por dirigentes e gestores públicos na tomada de decisões e no planejamento do futuro.
Comunicação – Ipea (61) 2026-5501 (21) 3515-8704 / (21) 3515-8578 Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.
Nós usamos cookies para melhorar sua experiência de navegação no portal e, ao utilizá-lo, você concorda com a política de monitoramento de cookies. Para ter mais informações sobre como isso é feito, acesse Declaração de Privacidade de Dados Pessoais. Se você concorda, clique em ACEITO.