Cooperação Internacional. Relações Internacionais

Visita presidencial ao Chile reforça iniciativas abordadas em seminário realizado pelo Ipea

Estudo apresentado em evento aponta novas propostas para melhorar infraestrutura, aumentar o comércio e aproximar o país andino e a África

Na próxima segunda-feira, dia 5 de agosto, o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, realizará uma visita de Estado ao Chile, onde se reunirá com seu homólogo Gabriel Boric para tratar dos temas da agenda bilateral – e ampliá-la –, bem como do Corredor Rodoviário Bioceânico. A temática do encontro está alinhada com as prioridades da política externa brasileira discutidas durante o seminário “Relação Bilateral com Vocação Regional – Integração de Infraestrutura Produtiva e Comercial entre Brasil e Chile”, realizado no último dia 25 de julho na sede do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em Brasília, para apresentação de um estudo que leva o mesmo nome.

O evento contou com a participação do diretor de Estudos Internacionais do Ipea, Fábio Véras; do chefe da Divisão de Argentina, Uruguai e Chile do Ministério das Relações Exteriores, ministro Carlos Cuenca; da diretora de Negócios da ApexBrasil, Ana Paula Repezza; e do embaixador da República do Chile no Brasil, Sebastián Depolo. O estudo foi apresentado por Pedro Silva Barros, coordenador do projeto "Integração Regional: o Brasil e a América do Sul", do Ipea, e pelos pesquisadores bolsistas Julia Borba Gonçalves e Helitton Christoffer Carneiro.

Carlos Cuenca ressaltou que a publicação é mais uma demonstração da capacidade do Ipea de responder tempestivamente às oportunidades e desafios do Brasil na agenda externa com foco regional. O texto para discussão “Relação Bilateral Com Vocação Regional: Integração de Infraestrutura Produtiva e Comercial entre Brasil e Chile” traz aportes ao debate público e para os gestores governamentais, apresentando três novidades para a agenda bilateral: a inclusão do modal dutoviário para o aproveitamento multimodal das rotas de integração; a projeção do Chile ao continente africano através das redes logísticas já estabelecidas pelo Brasil no Atlântico; e a melhoria da governança do Corredor Rodoviário Bioceânico.

Atualmente, o petróleo bruto é o principal produto exportado pelo Brasil ao Chile (mais de US$ 3 bilhões anuais) e seu transporte é realizado pela via marítima. A construção dutoviária, aproveitando o traçado do Corredor Rodoviário Bioceânico e as Rotas de Integração Sul-Americana, contribuiria para a descarbonização do transporte desse produto e geraria oportunidades para a exportação de biocombustíveis. Além do petróleo e do cobre, existe um comércio diversificado entre o Brasil e o Chile, que contempla bens industriais, proteínas animais (bovina, aves e miudezas e salmão) e vinhos transportados majoritariamente por vias interiores (estradas).

Em 2023, a África representou 2,8% do comércio mundial. O continente africano representou 3,5% do comércio exterior brasileiro e apenas 0,5% do chileno, ou seja, o peso da África é sete vezes maior para os fluxos comerciais do Brasil em relação ao Chile. No período de maior aproximação entre Brasil e África, o peso do continente africano era ainda maior, equivalente a 7% do comércio exterior brasileiro. A partir das redes logísticas brasileiras no Atlântico e da maior aproximação entre Brasil e África, a consolidação de uma rede de infraestrutura interoceânica permitiria ao Chile aumentar seu comércio exterior com a África e fortalecer as relações entre os dois continentes.

Os autores do estudo destacaram que o Corredor Rodoviário Bioceânico é o projeto de integração de infraestrutura de maior destaque na agenda bilateral devido ao seu grau de institucionalização, como visto no Grupo de Trabalho do Corredor Rodoviário Bioceânico. Esse tema e os desafios para a governança deste corredor bioceânico, como a maior participação dos governos subnacionais e o tratamento de temas sociais, ambientais e de segurança fronteiriça, foram abordados no texto para discussão 2901, resultado do convênio de cooperação entre o Ipea e a Universidad Católica del Norte (UCN), de Antofagasta, no Chile.

Além disso, os especialistas sugerem que a experiência do Corredor Rodoviário Bioceânico sirva de exemplo para a governança dos demais corredores bioceânicos, como os que estão previstos na iniciativa Rotas de Integração Sul-Americana, do Ministério do Planejamento e Orçamento. Foram debatidas as perspectivas desse corredor para a projeção do Brasil à Ásia a partir do Chile e a projeção do Chile à África a partir do Brasil.

Julia Borba Gonçalves, doutoranda em Relações Internacionais na Universidade de Brasília (UnB), apontou que Brasil e Chile possuem uma relação bilateral com vocação regional, ou seja, os dois países têm o potencial de alavancar a agenda de integração regional sul-americana através de sua própria agenda bilateral, o que dá sentido à relação entre os dois países e estabelece um horizonte de ação conjunta.

Ana Paula Repezza, diretora de Negócios da ApexBrasil, destacou que os temas abordados pelo estudo estarão presentes no encontro empresarial organizado pela ApexBrasil, que vem promovendo reuniões empresariais à margem das visitas presidenciais. Ela ressaltou que o encontro proporcionará um espaço para debater oportunidades e desafios para empresas brasileiras e chilenas, e que a proposta do Ipea sobre a projeção chilena ao mercado africano via portos brasileiros é uma oportunidade interessante. A executiva apontou a importância do restabelecimento da governança da infraestrutura regional para melhorar a eficiência das exportações e as potencialidades para o comércio bilateral com perspectiva de gênero.

Por fim, Sebastián Depolo, embaixador do Chile no Brasil, destacou o papel do Ipea ao trazer evidências para a formulação de políticas públicas por meio de seus estudos. Depolo apontou que Brasil e Chile não são competidores, mas complementares, e que é necessário promover maior integração entre os países, agregando valor com cadeias produtivas regionais.

Confira outras publicações:

1) Integração econômica bilateral Argentina-Brasil: reconstruindo pontes​

2) Brasil-Venezuela : evolução das relações bilaterais e implicações da crise venezuelana para a inserção regional brasileira (1999-2021)

3) Corredor bioceânico de Mato Grosso do Sul ao pacífico: produção e comércio na rota da integração sul-americana

4) Redes de actores y su rol en el desarrollo de corredores: diagnóstico y propuesta de gobernanza para el corredor bioceánico vial Mato Grosso do Sul–puertos del norte de Chile

5) Redes de atores e o seu papel no desenvolvimento de corredores: diagnóstico e proposta de governança para o Corredor Rodoviário Bioceânico Mato Grosso do Sul-Portos do Norte do Chile

6) Uma Nova agenda de infraestrutura para a América do Sul

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