Helio Montferre/Ipea

“No Brasil, queremos melhorar a educação, saúde, mercado de trabalho, oportunidades de trabalho, segurança pública e esforços de reparação. Precisamos entender que a igualdade racial e étnica precisa estar realmente incorporada em cada instituição do nosso país com participação política ativa da sociedade civil em um processo transparente das nossas práticas governamentais para uma sociedade mais justa e equitativa”, ressaltou a presidenta do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Luciana Mendes Santos Servo, durante o Fórum Político de Alto Nível (HLPF), nesta terça-feira (16), na sede da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York. Ela também destacou a importância da luta contra o racismo para implementar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis (ODS) até 2030, nos quais o Brasil precisa cumprir 169 metas de desenvolvimento sustentável distribuídas em 17 ODS.

Durante sua participação no evento paralelo brasileiro do Fórum, intitulado “Incorporando a Luta contra o Racismo nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável”, a presidenta do Ipea abordou as dificuldades, trajetória e esforços para integrar o combate ao racismo nos ODS. Além disso, mencionou a criação do ODS de número 18, uma iniciativa voluntária do Brasil voltada ao combate ao racismo como centro dos esforços para o desenvolvimento sustentável.

Luciana ainda apresentou os resultados de diversos ODS que estão em fase de cumprimento no Brasil. No que diz respeito ao ODS 1, que visa acabar com a pobreza em todas as suas formas, o indicador 1.1, que dispõe sobre erradicar a pobreza extrema, revelou que 3,5% das pessoas que vivem em situação de extrema pobreza são brancas, enquanto 7,7% são pretas.

No contexto do ODS 4, que aborda a educação inclusiva e equitativa e promove oportunidades de aprendizagem ao longo da vida, o indicador 4.1 sobre a conclusão do ensino médio gratuito, equitativo e de qualidade até 2030, mostrou que 86,9% dos jovens brancos completaram o ensino médio entre 18 e 24 anos, enquanto 82,7% dos jovens pretos concluíram nesta mesma faixa etária. O indicador também revelou disparidades na entrada no ensino superior aos 25 anos de idade, no qual 70,5% dos alunos são brancos e apenas 56,3% são pretos.

A presidenta do Ipea apontou que as dimensões das desvantagens sociais não são independentes entre si e destacou a importância das abordagens interseccionais para enfrentar a desigualdade racial no Brasil. “Não é apenas falar sobre desigualdade de forma geral, mas precisamos trazer a raça para o centro desse debate. Não há desenvolvimento em nenhum país, sem focar as conversas em gênero, raça e desigualdade. É impossível atingir desenvolvimento se não reconhecermos que a maior parte da nossa população é negra, jovem; são jovens negros, é por isso que o ODS 18 traz essa conversa para o centro das nossas iniciativas, colocando como objetivo e desafio trabalhar com a raça para cada um dos ODS”, concluiu Luciana. 

Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 18

O ODS 18 é uma iniciativa voluntária do Brasil para colocar o combate ao racismo no centro dos esforços para o desenvolvimento sustentável e para o alcance da Agenda 2030. A iniciativa é liderada pela Comissão Nacional para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (CNODS) e pelo Ministério da Igualdade Racial (MIR).

A apresentação do ODS 18, sobre igualdade étnico-racial, foi conduzida pela Secretaria-Geral da Presidência da República, destacando a experiência brasileira na criação deste Objetivo de Desenvolvimento Sustentável, com o apoio do Ipea e de outros órgãos. O evento paralelo organizado pelo governo brasileiro em Nova York teve por objetivo as parcerias e o processo de construção voluntária do ODS 18, suas metas e indicadores, estabelecendo vínculos diretos entre a sustentabilidade econômica, ambiental e social e o combate às desigualdades étnico-raciais.

Participaram do evento o ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Marcio Macedo; a secretária-executiva do Ministério da Igualdade Racial, Roberta Eugênio; o representante permanente alterno do Brasil junto à ONU, embaixador Norberto Moretti; a assessora internacional do Geledés Instituto da Mulher Negra, Letícia Leobet; e a diretora regional adjunta do PNUD para América Latina e Caribe, Linda Maguire.

Assista o evento: https://webtv.un.org/en

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