Neoprotecionismo verde é debatido em evento internacional
Especialistas do Instituto e do ODI analisaram o impacto de políticas ambientais no comércio internacional e as estratégias para promover o desenvolvimento sustentável
Publicado em 24/06/2024 - Última modificação em 08/07/2024 às 15h13
Na última sexta-feira (21), o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em parceria com o Overseas Development Institute (ODI), um think tank do Reino Unido e membro do Conselho Consultivo Internacional do T20, promoveu o seminário Desafios do Neoprotecionismo Verde: Navegando Eficazmente em Novas Medidas Comerciais Verdes e Evitando o “Green Squeeze”. O evento reuniu pesquisadores do Ipea e do ODI para aprofundar a discussão sobre as restrições unilaterais impostas aos países em desenvolvimento, em meio à crescente preocupação com a sustentabilidade ambiental e a limitação de recursos convencionais para financiar medidas de mitigação das mudanças climáticas e adaptação a essa realidade.
Durante o seminário, destacou-se que a principal tarefa de cada país é, em primeiro lugar, a mitigação, ou seja, reduzir as emissões de gases de efeito estufa o mais rápido possível, para evitar que o aquecimento global ultrapasse os níveis atuais. Além disso, foram discutidas estratégias de adaptação, que envolvem a implementação de medidas para ajustar e lidar com os efeitos inevitáveis das mudanças climáticas, garantindo assim a resiliência dos países em desenvolvimento frente a esses desafios ambientais.
Fabio Veras Soares, diretor de Estudos Internacionais do Ipea, falou sobre as preocupações dos países em desenvolvimento em relação ao impacto de medidas ambientais no comércio, investimento e desenvolvimento econômico. Fernando José Ribeiro, coordenador de Estudos de Comércio Internacional do Instituto, ressaltou a posição do Brasil como uma potência exportadora no agronegócio e criticou o que chamou de "protecionismo disfarçado" por parte dos países desenvolvidos. "O Brasil tem adotado uma posição crítica a essas medidas, que não raro representam um protecionismo disfarçado", afirmou Ribeiro.
O coordenador do Ipea destacou que 35% das medidas ambientais que afetam o comércio, notificadas à Organização Mundial do Comércio (OMC), referem-se ao setor agrícola, em comparação com 30% que afetam as manufaturas. Ele também defendeu uma maior proatividade da OMC na discussão dos temas de comércio e meio ambiente, promovendo a negociação de acordos que estabeleçam regras e padrões mais claros quanto à adoção de medidas ambientais, para evitar prejuízos aos países menos desenvolvidos. "A ideia é promover o desenvolvimento de atividades produtivas sustentáveis que estimulem o comércio internacional e o desenvolvimento econômico", concluiu.
Marcelo Nonnenberg, pesquisador do Ipea na área de comércio internacional, abordou os principais desafios para os países em desenvolvimento em relação aos esforços de mitigação e adaptação, evitando o que ele chamou de "green squeeze". "Atender a esses objetivos não é fácil. Em primeiro lugar, o desmatamento é causado principalmente por atividades humanas que seguem incentivos econômicos", explicou Nonnenberg. Ele destacou a necessidade de reverter esses incentivos e tornar o valor das florestas em pé mais alto do que o proporcionado por outros usos da terra. O "green squeeze" refere-se às pressões econômicas e comerciais enfrentadas pelos países, especialmente os em desenvolvimento, devido à implementação de políticas ambientais rigorosas.
Nonnenberg também falou sobre a transição energética para usinas solares e eólicas, afirmando que, apesar do progresso, ainda há um longo caminho a percorrer para tornar os biocombustíveis e outras fontes competitivas com os combustíveis fósseis. Por fim, ele mencionou os esforços para o desenvolvimento de novas tecnologias agrícolas que podem contribuir significativamente com a mitigação de impactos ambientais.
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