Administração Pública. Governo. Estado

Seminário debate a importância dos bioinsumos para a sustentabilidade da produção agropecuária no Brasil

Apesar de causar menos impacto ao meio ambiente e danos à saúde humana, a produção de insumos de origem biológica ainda está muito aquém do seu potencial, sendo necessárias ações para fomentar a sua expansão

Helio Montferre/Ipea

A contribuição dos bioinsumos para a sustentabilidade da produção agropecuária no Brasil, bem como sua importância, os desafios e suas potencialidades, foram debatidos na última terça-feira (30), durante seminário promovido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Os estudos que embasaram o seminário foram conduzidos pela Diretoria de Estudos e Políticas Regionais, Urbanas e Ambientais.

Regina Helena Rosa Sambuichi, coordenadora de Estudos e Políticas de Desenvolvimento Rural no Ipea, explicou que os bioinsumos, também chamados de insumos de origem biológica, estão na vanguarda das estratégias tecnológicas voltadas para a promoção da sustentabilidade dos sistemas agroalimentares no mundo. “O modelo de intensificação agrícola baseado no uso maciço de insumos químicos, como fertilizantes e pesticidas, apresenta sinais de exaustão devido à resistência das pragas, às mudanças climáticas e à crise dos fertilizantes”, detalhou Sambuichi em sua apresentação.

De acordo com Sambuichi, “apesar de os bioinsumos se mostrarem como uma alternativa estratégica para a promoção da sustentabilidade da agropecuária brasileira, durante a pesquisa foram observados desafios que precisam ser superados, como, por exemplo, o número de registros de produtos biológicos, que ainda é irrisório quando comparado com produtos de média e alta toxicidade”, disse ela.

Além disso, a concentração da produção de bioinsumos no eixo Sudeste-Sul do Brasil reforça o problema de logística e distribuição desses produtos, uma vez que se perde o potencial de fontes nacionais de insumos que poderiam estar inseridas no mercado brasileiro. “O desenvolvimento e uso dos produtos biológicos ainda estão muito aquém do seu potencial, sendo necessárias ações para fomentar a sua expansão”, alertou Mariana Aquilante Policarpo, pesquisadora bolsista no Ipea.

A debatedora do evento, Adriana Maria Magalhães de Moura, coordenadora de Estudos e Políticas de Sustentabilidade Ambiental do Ipea, destacou que o controle biológico passou a ser intensivo em tecnologia, com o emprego de formulações específicas de microorganismos e o uso de macroorganismos selecionados, além da aplicação em grandes áreas com o auxílio de drones. “Temos exemplos bem-sucedidos nesse sentido; a Embrapa, por exemplo, criou um bioinseticida para combater as larvas do mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue, um produto inofensivo à saúde humana e ao meio ambiente”, comentou.

Para Aristides Monteiro Neto, diretor de Estudos e Políticas Regionais, Urbanas e Ambientais, o tema do seminário é uma prioridade no mundo, e, portanto, no Ipea, tendo em vista a preocupação com a preservação dos ecossistemas. “A agricultura brasileira é um caso de sucesso na expansão da sua produção e exportação, não apenas de alimentos na forma de grãos, mas também na exportação de animais, base de carnes. Hoje o Brasil se tornou o segundo maior produtor e exportador de grãos e de carne do mundo, mas esse caso de sucesso vem com problemas ambientais preocupantes, como o consumo excessivo de recursos hídricos, exaustão do solo e uso excessivo de fertilizantes e agrotóxicos”, ponderou.

“Por isso, essa nova fronteira tecnológica, que propõe o uso de biofertilizantes com tecnologias menos impactantes e que não usam agrotóxicos no sentido clássico, para o tratamento de espécies vegetais. Este tema de pesquisa tem sido visto como muito relevante no plano de trabalho do Ipea, que está em constante interlocução com as demandas de políticas públicas ambientalmente sustentáveis do atual governo”, finalizou o diretor.

Políticas públicas 

O estudo apresentou sugestões que podem ser implementadas como políticas públicas, como o fortalecimento da produção, armazenamento, logística e distribuição de bioinsumos em todo o país, desenvolvimento de estratégias integradas para incentivar a expansão e distribuição mais equitativa das unidades de produção em todas as regiões brasileiras, e implementação de regulamentações que dificultem a monopolização do mercado.

Além disso, a pesquisa sugere o fomento à implantação de pequenas e médias biofábricas no Brasil, assim como o apoio aos processos de incubação dessas unidades, visando facilitar as conexões entre produtores e compradores. Sugere-se também o foco no desenvolvimento territorial e a publicação de editais específicos para o fomento e a ampliação territorial - com foco no atendimento das regiões Norte e Nordeste - da rede de laboratórios de análise para suprir demandas relacionadas aos bioinsumos. Neste sentido, organizar o financiamento e a capacitação de municípios para a disseminação de biofábricas em modelo de startups pode constituir um esforço oportuno.

 

 

Comunicação – Ipea
(61) 2026-5501
(21) 3515-8704 / (21) 3515-8578
Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.