A 75ª edição do boletim Radar: tecnologia, produção e comércio exterior, lançada nesta segunda-feira (29/04) pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), dá continuidade à temática "produção do futuro 2", iniciada na edição anterior. Os estudos exploram novas formas de produção, consumo e distribuição de riqueza, em resposta aos crescentes desafios socioambientais. A publicação busca fornecer uma visão abrangente sobre as inovações necessárias para um desenvolvimento sustentável.

O editor do boletim Radar e coordenador de Estudos em Cadeias Produtivas e Micro e Pequenas Empresas do Ipea, Mauro Oddo Nogueira, considera urgente repensar o modelo econômico vigente desde a Revolução Industrial. "Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 não são apenas metas para um futuro melhor, mas condições essenciais para a existência futura da humanidade", comentou Oddo. Ele destaca a relevância do boletim Radar na resposta a questões sobre a estrutura produtiva e as políticas públicas fundamentais para o Brasil nesse contexto.

O primeiro artigo, assinado por Marcos Hecksher, José Gustavo Féres e Eric Jardim Cavalcante, mostra a correlação entre inovação ambiental e produtividade na indústria brasileira. Utilizando dados da Pesquisa de Inovação (Pintec) e da Pesquisa Industrial Anual (PIA), os autores avaliaram 37 setores industriais e verificaram que os mais produtivos, em média, tendem a ser também aqueles em que o percentual de empresas que inovam em favor do meio ambiente é maior e cresce mais.

Em seguida, o estudo de Nelson Siffert e Katia Rocha evidencia como o leilão H2Global impulsiona o mercado de hidrogênio verde no Brasil. Os autores recomendam o mecanismo de leilão duplo para a equalização de preços entre o hidrogênio verde e o cinza, promovendo a eficiência no uso de recursos públicos e servindo como um suporte temporário até que o hidrogênio verde se torne mais competitivo. O artigo orienta que, além das vantagens em geração renovável, também é necessário o desenvolvimento de arranjos institucionais específicos públicos e privados para tornar a indústria de hidrogênio verde competitiva no Brasil.

O terceiro artigo, de Daise Rosas Natividade, Mauro Oddo Nogueira e Mylena da Silva Gomes Barreto, propõe a cadeia produtiva da moda como modelo para políticas públicas alinhadas aos ODS. O estudo sugere uma agenda de pesquisa para compreender melhor essa cadeia e promover a chamada "moda sustentável".

O quarto artigo, de Cláudio Araújo e José Gustavo Féres, avalia os efeitos da suspensão da inspeção de exportações de produtos de madeira nativa entre fevereiro de 2020 e maio de 2021, e seu impacto no desmatamento da Amazônia e na exportação de madeira de origem irregular. O estudo enfatiza a necessidade de aprimorar o rastreamento da cadeia produtiva do setor madeireiro para assegurar uma produção sustentável e o uso eficiente dos recursos naturais, em linha com os ODS. Os autores apontam que a rastreabilidade é essencial para evitar dificuldades no acesso aos mercados internacionais, especialmente diante das legislações estrangeiras contra a importação de madeira ilegal.

Fernanda De Negri, diretora de Estudos e Políticas Setoriais, de Inovação, Regulação e Infraestrutura, apresenta uma análise da pesquisa científica sobre a Amazônia. Ela observou que o número de artigos publicados anualmente sobre o bioma aumentou dez vezes, passando de 361 em 2000 para mais de 3.500 em 2023. O Brasil é o líder mundial em pesquisas sobre a Amazônia (54%, cerca de 19 mil trabalhos), seguido dos Estados Unidos, com 31% das publicações. O artigo ressalta o papel relevante do Brasil no avanço do conhecimento sobre a biodiversidade do bioma e sua interação com o clima global. Por isso, De Negri defende uma agenda de pesquisa no país sobre a Amazônia consistente, com financiamento contínuo e significativo.

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