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Apesar do grande potencial para mudar o mundo, humanidade sabe pouco sobre inteligência artificial

Desafios da IA na sociedade foi tema de debate na Conferência Inicial do Science (S20), realizada no Rio de Janeiro nesta segunda-feira (11/03)

Marcos André Pinto/ Academia Brasileira de Ciências


Enquanto a inteligência artificial (IA) se torna cada vez mais presente no cenário midiático e em diversos círculos sociais, o conhecimento sobre seus detalhes e impactos permanece bastante limitado. Esta foi uma contradição apontada pela diretora de Estudos e Políticas Setoriais, de Inovação, Regulação e Infraestrutura (Diset) do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Fernanda De Negri, durante palestra na Conferência Inicial do Science (S20), realizada no Rio de Janeiro nesta segunda-feira (11/03). O S20, um dos 13 grupos de engajamento que estão sob a abrangência do Grupo dos Vinte (G20), reúne as academias de ciências dos países do G20 que busca fomentar o diálogo entre a comunidade científica e os formuladores de políticas.

Durante sua apresentação, sob o título “Inteligência Artificial: desafios para a democracia e a sociedade”, De Negri destacou como a discussão acadêmica em torno da IA tem se intensificado recentemente. Ela salientou que, em 2023, foi atingida a marca de aproximadamente 300 mil trabalhos acadêmicos sobre o tema foram publicados. “A maioria desses trabalhos, porém, foi produzida nos últimos três ou quatro anos. Ou seja, nosso conhecimento ainda é limitado e seu desenvolvimento bastante recente. Sabemos muito pouco sobre os impactos da IA nas atividades econômicas e na sociedade de forma geral”, disse a diretora do Ipea.

Um dos pontos abordados foi a interação entre IA e democracia, considerada ainda mais incerta do ponto de vista da análise acadêmica. De Negri ressaltou que o que podemos dizer sobre os impactos da IA na democracia é ainda menos do que poderíamos falar sobre outros efeitos dessa tecnologia. “Não temos respostas definitivas a respeito disto. Sabemos que a IA é capaz de gerar fake news, deep fake e informação enganosa. Porém, os canais pelos quais tudo isso escoa e se espalha na sociedade não são as IAs propriamente, mas as plataformas de mídias sociais. Por isso, ainda não temos respostas sobre quais seriam os impactos sobre a democracia da disseminação da IA”, ponderou ela.

De Negri também abordou a questão do impacto da IA especificamente no trabalho e no emprego. Ela citou trabalhos de alguns pesquisadores para ilustrar um cenário em que a IA agrega em termos de fomento de produtividade, mas ameaça postos de trabalho gerando um dilema sobre o qual pouco se pode concluir a este ponto.

Além disso, a diretora tratou as condições que permitiram a emergência e o crescimento da IA nos anos recentes. Ela ainda salientou que o crescimento recente da IA foi direcionado pelo aumento exponencial da capacidade de desenvolvimento de dados que se tornou possível graças à internet e à digitalização de muitas atividades cotidianas. O crescimento da capacidade de produzir e processar informação tem sido insumo para essa nova tecnologia.

Por fim, De Negri ressaltou a respeito de como a concentração da capacidade computacional de altíssima performance em poucos países, como Estados Unidos e China, e seus impactos na científica e tecnológica relacionada à IA. “A concentração na produção de dados e na capacidade de processamento tem causado uma enorme concentração na produção científica e tecnológica relacionada com IA”, disse.

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