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O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgou, nesta quarta-feira (20), a Visão Geral da Conjuntura, uma análise detalhada sobre o desempenho da economia brasileira no terceiro trimestre de 2023 e previsões para 2024. A expectativa é de que o produto interno bruto (PIB) avance 3,2% neste ano, especialmente devido à melhoria no consumo das famílias – sustentado pelo aumento consistente da massa salarial ampliada – e às exportações, ancoradas em produtos agropecuários e petróleo. No quarto trimestre, é esperado um crescimento de 3,0% frente ao mesmo período de 2022. Para 2024, a estimativa do PIB permaneceu em 2,0%, conforme a tabela abaixo:
A desaceleração do crescimento prevista para 2024 em relação a 2023 é justificada principalmente pela queda esperada do valor adicionado da agropecuária (-3,2%), penalizada por fatores climáticos adversos. Porém, outras commodities, como o petróleo, podem ter desempenho positivo, dada a competitividade das áreas do pré-sal, em especial se a expectativa de manutenção do ritmo de crescimento do PIB mundial em 2024 se concretizar.
O PIB estimado pelo Ipea para 2023 recuou 0,1 ponto percentual em relação à Visão Geral da Conjuntura divulgada em setembro, que previa 3,3%. O ajuste também se deveu também a uma adequação das previsões a revisões da série histórica do PIB, devido à atualização das Contas Anuais pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o que acaba suscitando revisões nas séries trimestrais, em termos de composição da oferta e demanda. Isso contribuiu para que o resultado do terceiro trimestre – avanço de 0,1%, na comparação com o período imediatamente anterior – fosse inferior aos 0,3% que eram esperados pelo Instituto.
Apesar da redução dos preços das commodities em 2023, o ritmo de crescimento das exportações se manteve, na medida em que houve aumento nas quantidades vendidas, resultando em forte impulso externo para o resultado do PIB. Já o desempenho do setor agropecuário, apoiado pela supersafra agrícola, e a expansão acima do esperado da produção do petróleo criaram as condições necessárias para o Brasil conquistar novos mercados, suprindo a demanda que antes era atendida por concorrentes.
A queda do preço das commodities, por sua vez, ajudou a reduzir a inflação. Como divulgado ontem (19/12), a previsão do Ipea para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2023 foi reduzida de 4,8%, para 4,6%. Os efeitos da desaceleração inflacionária mostraram-se mais intensos para as classes de renda mais baixas, pois ocorreram em bens com maior proporção no orçamento das famílias de baixa renda, como os alimentos. Além disso, a fragilidade financeira das famílias diminuiu no segundo semestre do ano, com menor comprometimento da renda para pagamento de dívidas.
Essa combinação de fatores alavancou os efeitos sobre o poder de compra da contínua elevação da massa de rendimentos do trabalho ampliada por benefícios sociais (consubstanciados em programas como o Bolsa Família e nos benefícios previdenciários, elevados com a política valorização do salário mínimo), contribuindo para explicar a elevada contribuição do consumo das famílias ao PIB. A ampliação do poder de compra das famílias foi canalizada para o setor de serviços e, com isso, é possível compreender o papel desempenhado pelo setor no crescimento do PIB de 2023.
A elevação da demanda interna tem sido explicada em todo ano pela expansão de um consumo de massa, aquele financiado pela elevação da massa de rendimento das famílias, incluindo não somente a renda do trabalho como também dos benefícios sociais, inclusive a previdência social. Essa expansão dinamiza o setor de serviços, abrangendo os de utilidade pública (classificados como pertencentes ao setor industrial), e o setor de bens não duráveis. Contudo, parte dessa expansão do consumo não se transforma em demanda à indústria manufatureira porque é dinamizada para as compras de importações, como é o caso de bens semiduráveis
A expansão do setor de serviços, tipicamente intensivos em mão de obra, ajuda a elucidar a sustentação do emprego. O Grupo de Conjuntura da Diretoria de Estudos e Políticas Macroeconômicas (Dimac) do Ipea projetou uma alta de 2,6% no setor de serviços em 2023 e de 2,1% em 2024, fazendo com que ele siga como um dos principais impulsionadores do PIB. Em relação à indústria, a alta deve ser de 1,4% neste ano e de 2,5% em 2024. A perspectiva para a agricultura é de um salto de 16,7% em 2023, seguido de retração de 3,2% no próximo ano.
O dinamismo da economia em 2023, no entanto, não teve como contrapartida o aumento da arrecadação. A queda do preço das commodities reduziu os lucros das empresas exportadoras e, com isso, houve queda nas receitas tributárias incidentes sobre o lucro e rendas da exploração de recursos naturais. Além disso, a deterioração da indústria, em um crescimento liderado por serviços e agropecuária, tende a diminuir a elasticidade da receita tributária com relação ao PIB, na medida em que a incidência tributária sobre a indústria é maior. A queda da arrecadação em um cenário de aumento de gastos, em linha com a proposta da PEC de transição (PEC 32/2022), ampliou o déficit fiscal, o que tende a ser revisto com a implementação do novo arcabouço fiscal em 2024.
Os técnicos de planejamento e pesquisa do Ipea também projetam um cenário de reação dos investimentos e do setor industrial no ano que vem, particularmente devido à elevada aprovação de financiamentos em infraestrutura por parte do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), a programas federais, como o Minha Casa, Minha Vida, e a programas de incentivo ao crédito do governo federal com sistema de garantias. Soma-se a isso a trajetória de queda prevista para a taxa de juros Selic.
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