Helio Montferre/Ipea
Compreender as diferentes dimensões da dinâmica social no Brasil, a estratificação e a mobilidade social brasileira são temas que compõem o livro “Dinâmica Econômica, Mudanças Sociais e Novas Pautas de Políticas Públicas”, lançado nesta quarta-feira (06/12), pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). A obra, ao longo de seus nove capítulos, busca apresentar uma variedade de trabalhos que abordam os aspectos teórico-metodológicos do uso de tipologias de classes.
Organizado pelos pesquisadores do Ipea, João Cláudio Basso Pompeu, André Rego Viana,Luis Carlos Garcia Magalhães, e Ana Paula Vasconcelos Gonçalves, professora adjunta no Departamento de Sociologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o livro é resultado de dois anos de pesquisas e debates.
“Uma parte da obra é essencialmente teórica, baseada em uma longa discussão que busca resgatar a importância do uso da estratificação social e das categorias de classe para o debate de política pública no Brasil. Apresenta uma série de estudos de caso que são relevantes a reflexão sobre impactos em diversas políticas públicas”, explicou André Rego Viana.
Viana também ressaltou que as duas visões abordadas pela obra são capazes de compor um cenário abrangente, aprofundando, por meio de análises, a pauta da educação, a questão racial e as repercussões das alterações que ocorrem nas rendas das diferentes classes sociais para quadros políticos diversos.
Educação relativa
O sexto capítulo, intitulado "Fundamentos e Aplicações de uma Tipologia de Classes para o Brasil", do autor André Ricardo Salata, procura argumentar em defesa da relevância e adequação de se considerar a educação como um bem posicional, medindo-a de modo relativo. A ideia central é que o importante não é a quantidade absoluta de educação que o indivíduo possui, mas sim quanto ele obtém em relação aos demais. Nesse sentido, o valor, do ponto de vista do investimento pessoal, da educação alcançada por alguém depende da quantidade de educação que os demais possuem.
Salata conclui que, entre outras coisas, por mais que a expansão educacional possa ter tornado as chances de acesso a determinados níveis de ensino menos desiguais, ela também acaba por enfraquecer a estrutura de oportunidades atrelada àqueles níveis. “É possível, então, que uma das principais consequências da expansão educacional seja não a redução da associação entre classe de origem e escolaridade alcançada, mas sim que os indivíduos precisem acumular cada vez mais anos de estudo, chegar a níveis de ensino cada vez mais altos, a fim de permanecerem na mesma posição social de seus pais, configurando uma verdadeira corrida posicional”, disse.
A primeira parte do livro, os quatro primeiros capítulos, debate os aspectos teóricos e metodológicos que fundamentam a relevância do uso da análise de classes sociais. Essa seção também abrange as limitações desse procedimento para a compreensão de diferentes fenômenos sociais da realidade do Brasil. A segunda parte da obra utiliza a análise de classe para elaborar diagnósticos de diferentes problemas que afetam o bem-estar da sociedade brasileira.
O livro sugere que o conceito de classe, em suas variadas dimensões, permanece importante para a compreensão de muitos fenômenos sociais. “Os mapas de classe posicionais ajudam a descrever e analisar as diversas formas de desigualdades que condicionam o padrão de consumo, o acesso à educação e saúde, as oportunidades de vida dos indivíduos e, ainda, as possibilidades e os limites da ação coletiva para alterar a estrutura de classe na qual se inserem”, afirmam os organizadores da obra em suas considerações finais.
Além dos organizadores da obra e de Salata, assinam também artigos na coletânea Marcela Fernanda da Paz de Souza, Natália Leão, Luiz Rubens Câmara de Araújo, Carla Rodrigues Costa de Araújo, Kolai Zagbaï Joel Yannick, Flavio Carvalhaes e José Alcides Figueiredo Santos.
Os capítulos teórico-metodológicos tratam de temas como: percursos metodológicos dos estudos sobre estratificação social no Brasil (capítulo 1); tipologias de classe aplicadas à realidade brasileira (capítulo 2); procedimentos metodológicos utilizados para a construção da tipologia de classes adotada na pesquisa dinâmica econômica, mudanças sociais e novas pautas de políticas públicas (capítulo 3); e a tipologia ocupacional erikson-goldthorpe-portocarero: uma avaliação analítica e empírica (capítulo 4).
A segunda parte da obra, na seção de aplicações de tipologias de classe, trata dos assuntos: fundamentos e aplicações de uma tipologia de classes para o Brasil (capítulo 5); classe de origem e resultados educacionais: uma análise considerando o caráter posicional da escolaridade (capítulo 6); interações entre origem de classe e raça na transmissão das desigualdades no Brasil (capítulo 7); desindustrialização e mudança na estrutura de classes no Brasil: evidências a partir das pesquisas domiciliares no período 2002-2015 (capítulo 8); e grupos ocupacionais na PNAD Brasil (2002-2015): mudanças e pistas para um mapa de classes a partir da renda (capítulo 9).
Acesse a íntegra do livro
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