Ocupações com maior qualificação e especialização são mais suscetíveis aos impactos da IA, diz estudo
Levantamento identificou uma tendência de aumento da desigualdade no longo prazo com avanço da inteligência artificial
Publicado em 09/10/2023 - Última modificação em 10/10/2023 às 17h24
Helio Montferre/Ipea
Postos de trabalho que demandam maior qualificação e especialização estão mais vulneráveis ao avanço da inteligência artificial. Essa é uma das conclusões de um estudo realizado pelo analista de informações pleno do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.BR), Thiago de Oliveira Meireles, durante o seminário “Inteligência Artificial - Impactos Sobre o Mercado de Trabalho e a Desigualdade de Renda”, promovido pela Diretoria de Estudos e Políticas Setoriais, de Inovação, Regulação e Infraestrutura (Diset), na tarde desta segunda-feira (09/10). O evento ocorreu no Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em Brasília, e foi mediado pelo diretor-adjunto da Diset, Pedro Miranda.
Meireles aponta que suas descobertas sobre a suscetibilidade das ocupações com maior especialização aos impactos da inteligência artificial a distinguem dessa tecnologia quando comparada a outros processos de automação. Isso ocorre porque outras formas de automação já conhecidas e consolidadas têm apresentado maiores influências em ocupações de baixa e média qualificação. Ele também identificou uma tendência de aumento da desigualdade no longo prazo.
A pesquisa sugere que a baixa produtividade do trabalho no Brasil e seu menor custo, além da desigualdade já presente na renda do trabalhador, poderiam resultar em uma menor correlação entre o impacto da inteligência artificial e o mercado de trabalho nacional. Portanto, o impacto se concentraria no topo da distribuição, justamente naquelas ocupações que demandam maior escolarização e especialização. Uma derivação desse cenário aponta que o número de postos de trabalho não teria uma redução considerável. Isso é relevante porque contradiz a ideia do fim do emprego, mas reafirma a possibilidade de aumento na desigualdade de renda do trabalho.
Durante a apresentação, Meireles explicou que sua pesquisa abordou três aspectos: o crescimento dos algoritmos de inteligência artificial, a adoção dela como a próxima tecnologia de uso geral e os desafios em termos de políticas públicas devido ao potencial impacto sobre o trabalho e a renda. “É importante tentarmos pensar um pouco mais sobre quais serão os efeitos gerados pela inteligência artificial no trabalho. Se será um efeito de substituição ou de complementariedade”, disse ele
O evento de apresentação do estudo contou também com a participação de Luis Claudio Kubota, coordenador de Métodos, Dados e Projeções Microeconômicas da Diset/Ipea, e Aguinaldo Maciente, especialista em Políticas de Emprego e Mercado de Trabalho na Organização Internacional do Trabalho (OIT).
Kubota destacou três aspectos técnicos que elevam a dificuldade ao realizar a análise que a pesquisa buscou. Primeiro, a ponderação do potencial de automação para cada ocupação. Além disso, a transposição de resultados do exterior para o cenário da Classificação Brasileira de Ocupações. Por fim, os desafios para a projeção da série temporal. Ele salientou ainda que dois cálculos fogem desse tipo de análise. Um, a questão regulatória. Por fim, do custo retorno, que pode ter um papel significativo no processo decisório de adoção de uma tecnologia por uma empresa. “O fato de uma tecnologia ser tecnicamente ‘automatizavel’ é muito diferente dela ser automatizada de fato porque esses dois fatores influenciarão o cálculo do capitalista”, resumiu Luis Claudio Kubota.
Ao comentar a pesquisa, Maciente, refletiu a respeito da dificuldade de teorizar sobre um assunto cuja dinâmica promove mudanças profundas tão rápida e repentinamente. “Falo por experiência própria. Provavelmente, nosso texto torna-se obsoleto mais rapidamente do que as ocupações que estamos tentando analisar”, afirmou. “A fronteira entre aquilo que é rotineiro e o que não é, entre o que é codificável pela tecnologia e o que pode ser classificado como uma tarefa de difícil codificação e que, portanto, tenderia a permanecer exclusiva dos humanos, é uma fronteira que está em constante modificação”, acrescentou.
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