Desafios e necessidades no processo de transplante de órgãos no Brasil
Debate revela complexidade na distribuição de órgãos e tempos de espera
Publicado em 25/09/2023 - Última modificação em 27/09/2023 às 13h14
Debate revela complexidade na distribuição de órgãos e tempos de espera
Publicado em 25/09/2023 - Última modificação em 27/09/2023 às 13h14
A oportunidade de vida de milhares de pessoas anualmente no Brasil e no exterior depende do delicado processo de transplante de órgãos. Geralmente, os transplantes são a última alternativa para indivíduos que enfrentam falência definitiva de órgãos vitais ou tecidos. A complexidade desse processo, seus desafios e a necessidade urgente de doadores foram destacados durante seminário realizado na última quarta-feira (20) pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
Na abertura do seminário "A distribuição dos tempos de espera nas listas para transplantes de coração no sistema nacional de transplantes",o pesquisador do Ipea Alexandre Marinho, indicou que o Brasil possui uma grande quantidade de órgãos e tecidos que podem ser doados, incluindo córneas, coração, pulmão, fígado e pâncreas. "As doações podem ocorrer tanto de cadáveres para seres humanos quanto entre vivos, com regulamentação nacional. Entretanto, questões como a compatibilidade do tipo sanguíneo, tamanho do órgão e qualidade do órgão doado influenciam significativamente o sucesso dos transplantes", enfatizou.
Ainda de acordo com o Marinho, um dos desafios enfrentados pelo sistema brasileiro de transplantes é a disposição das famílias em autorizar a doação de órgãos de seus entes falecidos. Cerca de 40% a 50% das famílias optam por negar a doação, muitas vezes por razões diversas, incluindo medo, convicções religiosas, falta de confiança no sistema de saúde ou mitos urbanos.
O diagnóstico da morte encefálica é fundamental para determinar a viabilidade da doação, e o tempo é crucial, já que os órgãos precisam ser preservados para doação. Além disso, a distribuição de órgãos em um país de dimensões continentais como o Brasil requer uma logística complexa para a preservação dos órgãos até o momento do transplante.
Marinho destacou que a distribuição de órgãos não é apenas uma questão de primeiro a chegar, primeiro a sair. "Critérios de compatibilidade, gravidade e adequação do órgão desempenham um papel importante na alocação", destacou. As listas de espera são organizadas em nível estadual, embora, em casos excepcionais, órgãos excedentes possam ser doados para outros estados, concluiu
O pesquisador ainda pontuou que o Brasil enfrenta um desafio significativo em relação à oferta de órgãos em comparação com a demanda. Embora seja um dos países que mais realiza transplantes no mundo, ainda há uma escassez considerável de órgãos em relação à quantidade de pessoas que aguardam por eles. O acesso igualitário aos transplantes é afetado por desigualdades socioeconômicas, e a renda e as condições de saúde de um paciente podem influenciar a rapidez com que ele é atendido.
A transparência nas listas de espera é um fator essencial para construir confiança no sistema de transplantes. Em países como os Estados Unidos, informações sobre o tempo de espera e a distribuição de órgãos são amplamente acessíveis ao público, permitindo uma avaliação mais precisa e informada da situação. No Brasil, a falta de transparência pode levar a questionamentos e preocupações sobre a justiça no processo de alocação de órgãos, destacou em sua apresentação.
Presente no evento como debatedora, a economista do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro, Vivian Vicente, abordou a complexidade de traduzir indicadores de saúde em números compreensíveis para o público e lidar com temas sensíveis, como a fila de espera por órgãos para transplante, pode ser desafiador, mas essencial para promover o debate público e conscientizar sobre desigualdades no sistema de saúde. O Sistema Nacional de Transplantes é um indicador do sucesso da sociedade, mas também revela as desigualdades que permeiam o acesso à saúde, destacou. A transparência e a divulgação de dados são essenciais para melhorar o sistema e chamar a atenção para as áreas que precisam de maior atenção e recursos. Além disso, a importância de lidar com questões relacionadas à morte, mesmo que sejam desconfortáveis, para promover melhorias no sistema de transplantes é necessária, concluiu Vicente.
Por fim, Marinho enfatizou a importância de se realizar pesquisas científicas e disponibilizar dados detalhados sobre transplantes no Brasil. "O acesso a informações como tempos médios, medianos, mínimos e máximos de espera, estratificados por idade, gênero, raça e outros critérios, pode ajudar a aprimorar o sistema e garantir que a distribuição de órgãos seja mais equitativa", disse.
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