Comércio Internacional

Especialistas debatem os investimentos chineses em energia renovável

Publicação do Ipea também homenageia o economista norte-americano Albert Fishlow

Helio Montferre/Ipea

Os investimentos e financiamentos chineses em energia renovável na América Latina foram tema de debate durante o seminário de lançamento da edição nº 35 do Boletim de Economia e Política Internacional (Bepi) do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) na última segunda-feira (4/9). No evento, os pesquisadores Marco Aurélio Alves de Mendonça, Ticiana Gabrielle Amaral Nunes e Carlos Ungaretti apresentaram o artigo “Financiamentos chineses de projetos de energias renováveis na América Latina: uma análise à luz dos desafios das mudanças climáticas”.

Para a pesquisadora Ticiana Gabrielle Amaral Nunes, “os chineses têm grande contribuição tanto na agenda de combate às mudanças climáticas, como no agravamento do problema. A China é a economia que mais contribui para o crescimento econômico mundial, mas também é o maior emissor de poluentes. Ao mesmo tempo, é um país que investe muito em transição energética e em tecnologias verdes”, disse.

Existe um debate na comunidade internacional sobre quem pagará os custos para colocar em prática as medidas de mitigação para atingir a meta de limitar, em até 1,5º C, a elevação da temperatura do planeta em relação ao patamar pré-industrial. O objetivo foi proposto em 2015, no art. 2º do Acordo de Paris. Países em desenvolvimento defendem o princípio de responsabilidades comuns, mas diferenciadas, segundo o qual devem pagar a maior parte dos reparos aqueles países que mais contribuíram para a criação do problema e os que contam com a capacidade de arcar com os custos da implementação da agenda climática. Segundo o relatório das Nações Unidas que foi apresentado durante a COP-27, até 2030 cerca de US$ 2 trilhões anuais serão necessários para ajudar os países em desenvolvimento a reduzir suas emissões e prevenir perdas e danos sociais e econômicos gerados pelo avanço da crise climática.

Nesse cenário de reparo ambiental aparece a China, que atualmente é o segundo maior emissor mundial em termos históricos, correspondendo a cerca de 200 bilhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2) emitidas até 2019, o equivalente a 12% das emissões cumulativas globais. Os chineses foram, durante muito tempo, avessos à adoção de qualquer compromisso concreto em relação à temática climática, porém nos últimos anos tem adotado uma posição proativa para construir uma agenda internacional de mitigação.

No evento, Mendonça ressaltou que o artigo apresentado é a sequência de um projeto de pesquisa sobre investimentos e financiamentos chineses que o grupo de pesquisadores desenvolve no Ipea desde 2021. “Ao apresentar o papel da China neste seminário, a ideia é pensar como o país, que sempre teve status de vilão em assuntos de meio ambiente, com histórico de obstrução nas discussões do clima, passa a ter uma visão que busca construir uma agenda internacional para diminuir essas mudanças climáticas que estamos vivendo. A China criou o Livro Branco para avançar de uma transição global da economia fóssil para os investimentos em energias renováveis e outras tecnologias de baixo carbono”, mencionou o pesquisador. Mendonça ressaltou ainda que a China atualmente participa ativamente das discussões do clima, produz tecnologias que podem acelerar a transição energética global, e isso interessa ao Brasil e à América Latina.

Os debatedores do seminário foram o professor de Relações Internacionais e Economia da Universidade Federal do ABC (UFABC), Giorgio Romano, e o professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA), Diego Pautasso. Romano ressaltou que embora as energias renováveis venham aumentando sua participação relativa na matriz energética da China, o país continua a expandir o uso de fontes fósseis em termos absolutos. Segundo ele, a China vive um trilema, que consiste em buscar, simultaneamente, o desenvolvimento econômico, a segurança energética e a sustentabilidade ambiental. Pautasso, por sua vez, chamou a atenção para o fato de que o desenvolvimento precede a transição para um modelo mais sustentável, ou seja, somente após atingir um certo grau de desenvolvimento um país consegue reunir as condições tecnológicas, produtivas e fiscais para realizar a transição para energias mais limpas pois estas têm custos não triviais.

Ainda durante o evento, o editor do Bepi e pesquisador do Ipea, André Pineli, falou que o boletim completa 13 anos e é uma referência na área internacional, juntamente com a revista Tempo do Mundo, que também aborda temas internacionais. “O Bepi tem enfoque maior em políticas públicas. Essa linha estamos desenvolvendo há três anos, desde que assumi a edição. Quando recebemos um artigo de enfoque acadêmico, solicitamos aos autores que busquem relacionar o artigo a alguma discussão de política. Algumas edições do Bepi são temáticas. A edição 34 foi sobre meio ambiente, por exemplo. A edição atual tem artigos com temas variados”, disse Pineli.

A edição nº 35 traz seis artigos com temas variados que mostram, entre outros assuntos, como os países do Mercosul se relacionam com países de fora do bloco e como as medidas não tarifárias afetam o comércio internacional. Um dos textos faz homenagem ao economista norte-americano Albert Fishlow, considerado um dos fundadores do Ipea nos anos 1960. Ele teve papel de destaque, também, no debate sobre o aumento na desigualdade de renda no Brasil, identificada no Censo de 1970, ao afirmar que uma parcela de responsabilidade cabia às políticas salariais adotadas pelos governos militares.

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