Educação

Pesquisa em redes de ensino revela desafios no processo de implementação da reforma do ensino médio

As redes estaduais de educação do Ceará, Goiás e Paraná, mostra que os principais desafios

Helio Montferre/Ipea

A reforma do ensino médio, implantada por meio da Lei 13.415/2017, tem sido palco de acalorados debates desde sua concepção em 2016. A medida, que visava revitalizar um sistema educacional marcado por altas taxas de evasão e baixo desempenho, despertou opiniões divergentes entre especialistas, professores e estudantes. De acordo com o estudo “Novo ensino médio: Argumentos críticos e a experiência do Ceará, Goiás e Paraná na gestão e em escolas selecionadas” publicado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e apresentado durante seminário realizado na última quinta-feira (24) mostra que a implementação dessa reforma não tem sido simples e direta, conforme apontam os resultados realizados nas redes de ensino estaduais de diferentes regiões do país.

De acordo com o estudo dos pesquisadores, Carolina Esther Kotovicz Rolon e Milko Matijascic, a reforma do ensino médio, proposta em 2017, introduziu um modelo que visa à flexibilização curricular e à diversificação ao propor a especialização em áreas de conhecimento. No entanto, a pesquisa realizada com três redes estaduais de educação, sendo elas do Ceará, Goiás e Paraná, mostra que os principais desafios encontrados, destaca-se a oferta de diversificação curricular, necessária para incorporar as mudanças propostas.

Segundo Kotovicz Rolon, a pesquisa revela que a estruturação do novo ensino médio enfrenta dificuldades em oferecer uma carga horária suficiente para atender a todas as áreas de conhecimento na formação geral básica, definida por lei e que as redes são obrigadas a seguir o que pode comprometer a formação geral dos estudantes. “Durante a pesquisa em campo tanto alunos como professores indicaram que matérias complexas, como química e física, muitas vezes enfrentam reduções em sua presença no currículo, gerando preocupações quanto à qualidade do aprendizado”, pontuou.

Para o pesquisador Milko Matijascic, a diversificação é um dos pilares do novo modelo, permitindo que os alunos escolham itinerários formativos de acordo com seus interesses. No entanto, essa diversificação também se depara com desigualdades entre as redes e escolas. “A falta de recursos, infraestrutura e professores qualificados impacta diretamente a aplicação eficaz do modelo. Algumas escolas relataram dificuldades em oferecer todas as opções de itinerários, resultando em uma limitação da escolha dos estudantes”, destacou Matijascic.

De acordo com os pesquisadores, outra questão levantada é a formação dos professores para atuar nesse novo contexto. Os currículos das universidades ainda não estão completamente adaptados, o que gera uma defasagem na preparação dos educadores. Além disso, o estudo em campo mostra que a possibilidade de parcerias com organizações sociais e fundações levanta preocupações quanto à privatização do ensino público por parte da sociedade acadêmica, estudantes e sociedade, tornando imperativo o estabelecimento de mecanismos transparentes de controle.

“O novo modelo de ensino médio no Brasil precisa estar em constante evolução, buscando se adequar às diferentes realidades das redes e escolas”, pontuou Kotovicz Rolon em sua apresentação. A pesquisa realizada nas redes do Paraná, Goiás e Ceará mostra que a implementação do modelo exige investimento em infraestrutura, formação de professores e adaptação curricular. Ainda de acordo com estudo as experiências das redes analisadas apresentam soluções locais que podem ser replicadas a nível nacional, como a formação de professores em cascata, a criação de coordenações por área de conhecimento nas regionais de ensino e nas escolas para o planejamento conjunto, entre outros.

Por fim a pesquisa indica que em um panorama internacional, diferentes países adotam modelos variados de ensino secundário, cada qual com seus desafios e benefícios. Entretanto, o cerne da discussão está na busca por um equilíbrio entre a diversificação curricular, a igualdade de oportunidades e a formação adequada dos professores. No entanto, o estudo do Ipea direciona que a medida que o debate em torno do novo ensino médio se intensifica, a análise das experiências em redes de ensino estaduais traz à luz a importância de um processo adaptativo e de investimentos consistentes. A flexibilidade proposta pela reforma pode ser um caminho promissor, desde que acompanhada por medidas que garantam igualdade, qualidade e formação adequada para todos os envolvidos.

Acesse a íntegra do estudo

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