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"Ipea e IBGE sempre andaram de mãos dadas", diz Luciana Servo

A presidenta do Ipea comenta a posse do novo presidente do IBGE, Márcio Pochmann

Helio Montferre/Ipea

O que a senhora achou da escolha do economista Márcio Pochmann, ex-presidente do Ipea, para a presidência do IBGE?

O que eu mais gostei foi desta posse, com o presidente Lula, o vice, Alckmin, a ministra Tebet e o presidente do IBGE, Márcio Pochmann, juntos. Isso mostra a essência de um governo de união e reconstrução. Estamos todos no mesmo barco e no mesmo rumo. É uma posse muito prestigiada, como o IBGE merece, depois das dificuldades pelas quais o instituto passou nos últimos anos, como vimos, por exemplo, com o Censo. 

É uma virada de página iniciada desde que a ministra Tebet tomou posse. A ministra viabilizou o apoio institucional e orçamentário a três operações especiais de coleta do Censo. A primeira, junto à Terra Indígena Yanomami; a segunda, a operação especial “Favela no Mapa”, junto à Cufa e ao Data Favela; e a terceira junto a condomínios de alto padrão, onde as taxas de não respostas eram elevadíssimas. Foi o que garantiu que chegássemos a 16 milhões de pessoas que não haviam sido recenseadas.

Em sua análise, como fica a relação do Ministério do Planejamento com o Ipea e IBGE, daqui pra frente?

A ministra Tebet teve autonomia para nomear sua equipe ministerial e está elaborando um Plano Plurianual (PPA) com uma participação que há muito tempo não se via, num processo colaborativo com a Secretaria Geral da Presidência da República. Tem um papel central. Ela coordena a elaboração do orçamento, da LDO, do PPA, está na junta de execução orçamentária - que define os grandes investimentos do país, como os do PAC -, compõe o Conselho Monetário Nacional. Então, se tem alguém que pode se sentir vitoriosa neste governo é a ministra Tebet.

Como ela já afirmou, cabe ao Presidente da República a decisão final sobre a nomeação dos cargos públicos, o que será sempre respeitado por ela. A ministra vai continuar liderando institucionalmente e apoiando o trabalho do IBGE. O mais importante, seja para o Ipea ou para o IBGE, não é quem preside, mas qual a próxima pesquisa, quais as assessorias prioritárias de médio e longo prazos e como iremos contribuir para políticas públicas mais efetivas. 

Tenho certeza que nossa relação com o IBGE continuará a ser a melhor possível, na linha do que a ministra Tebet já sinalizou: nossas conversas são técnicas, somos um mesmo time e somos uma mesma equipe. Podemos falar coisas diferentes, mas na mesma língua. 

Como foi a presidência de Márcio Pochmann à frente do Ipea?

Ainda que eu não tenha trabalhado diretamente com ele durante sua gestão, eu estava no Ipea e na coordenação de saúde, que faz parte da Diretoria de Estudos e Políticas Sociais, e o então diretor era muito próximo do Márcio Pochmann. Nesse período, houve concurso com a entrada de 120 novos servidores e aumento do orçamento da instituição. O trabalho da coordenação de saúde continuou normalmente sem obstáculos às publicações. 

A gestão dele à frente do Ipea foi uma das mais produtivas. Atingimos um número muito elevado de livros, textos para discussão, notas técnicas, seminários e trabalhos de assessoria. Isso está documentado.

Penso que esses são pontos importantes e que podem vir a ajudar o IBGE durante sua gestão e da ministra Tebet: o concurso já garantido para o instituto, a valorização das carreiras e dos servidores. Ao mesmo tempo, o IBGE tem pessoas muito qualificadas. Em se estabelecendo um processo de diálogo, há muitas possibilidades de se continuar avançando no processo de fortalecimento que se percebe desde o início desse governo. Finalmente temos os primeiros resultados do Censo Demográfico 2022 e com inúmeras possibilidades analíticas que trarão importantes contribuições para pensar políticas de desenvolvimento para o país. Os dados do Censo tornam ainda mais claros os nossos desafios de enfrentar um rápido processo de envelhecimento, uma baixa natalidade, pensar as questões urbanas, educacionais, distributivas, econômicas, sociais, territoriais, a sustentabilidade, bem como outras questões relacionadas aos povos tradicionais, indígenas e quilombolas. Certamente o IBGE olha para esses números e os analisa e estabelece fortes parcerias para avançar nesse olhar sobre as condições demográficas, sociais e econômicas do país. Ipea e IBGE já colaboram há décadas, muito antes de eu entrar no Ipea. Estamos dialogando sobre parcerias para análises dos dados do Censo e nossos trabalhos já usam dados de várias pesquisas produzidas por eles: PNAD Contínua, Pesquisa Nacional de Saúde, Pesquisa de Orçamentos Familiares, além das pesquisas industrias, de comércio, serviços, os dados das contas nacionais, da matriz de insumo-produto e tantos outros. Ganhamos todos quando unimos forças e trabalhamos juntos para avançar na compreensão dos problemas nacionais e pensar políticas públicas que atuem sobre eles. 

Explique pra gente como Ipea e IBGE atuam? Quais as semelhanças e diferenças?

Eu diria que Ipea e IBGE são uma espécie de arroz com feijão: são uma combinação essencial na mesa das brasileiras e brasileiros, inclusive nas mesas das reuniões das autoridades que decidem o destino do país. 

Nossa relação é umbilical. Nós nos alimentamos de dados imprescindíveis e, em troca, oferecemos análises que digerem esses dados, traduzem os impactos e fazem recomendações.

O IBGE produz alguns dos dados e realiza análises. Nós também utilizamos esses dados e os analisamos de diversas perspectivas. Os deste Censo, por exemplo, são cruciais ao nosso trabalho.

Se nós queremos políticas bem avaliadas, com base em evidências, Ipea e IBGE são órgãos essenciais. São como bússola e mapa.

O IBGE cuida de informações estatísticas essenciais do Brasil. Existe alguma preocupação a esse respeito?

O IBGE, tal como o Ipea, é um órgão composto por servidores públicos que atuam há anos nesse Instituto. Além disso, as pesquisas do IBGE têm metodologias sólidas, são produzidas e discutidas com diversos atores públicos e privados. O IBGE disponibiliza microdados, o que implica que muitas outras organizações conhecem a fundo a qualidade da informação. Os  resultados são em sua maioria públicos, são auditáveis, podem ser verificados por qualquer pessoa que tenha formação técnica para tanto e por institutos independentes. Márcio Pochmann é um pesquisador experiente e irá trabalhar junto com servidores com grande experiência. 

Estamos todos buscando o mesmo objetivo, que é um país que avance para o desenvolvimento inclusivo e sustentável. Eu estou muito tranquila a esse respeito.

O que a senhora espera de mais importante na agenda do Ipea com o IBGE?

Estamos trabalhando em um novo acordo de cooperação técnica que prevê a organização conjunta de bancos de dados para monitoramento e avaliação de políticas públicas. Isso está previsto no Decreto do CMAP. Temos, também, intenção em avançar nas análises dos dados do Censo para pensar políticas de desenvolvimento de longo prazo. Esse acordo prevê também a cooperação em torno de uma agenda. Atuamos juntos, em vários fóruns, entre eles, o da Agenda 2030. Há pesquisas que o IBGE levará a campo nos próximos anos e que contam com a colaboração do Ipea nas discussões dos questionários. Além disso, pretendemos avançar em abordagem georreferenciadas e na discussão territorial das políticas públicas. Sem dúvida, o trabalho conjunto do Ipea com o IBGE poderá contribuir para avanços das políticas de desenvolvimento inclusivo e sustentável.

Tão importante quanto isso é que Ipea e IBGE sempre andaram de mãos dadas. Ambos têm o hábito de conversar sobre metodologia de pesquisa, sobre novas pesquisas - por exemplo, nos interessa muito avançar na discussão sobre como fazer um censo da população em situação de rua, o que não é simples, mas já tem sido conversado sistematicamente.

Pochmann já procurou a senhora para conversar? 

A indicação dele aconteceu há pouco tempo. Todos com agendas muito carregadas e muito trabalho. Eu estive em missão na Índia para dialogar sobre os Think 20 (T20), visto que em dezembro o Brasil assume a presidência do G20 e os think tanks brasileiros, entre eles o Ipea, irão contribuir muito para as discussões que serão lideradas pelo país. Voltei com a agenda lotada de compromissos e, também, relacionada às importantes discussões que estão em curso no país. No âmbito do Ministério do Planeamento e Orçamento, temos dialogado com a Renata Amaral (Secretária de Assuntos Internacionais e Desenvolvimento) sobre a agenda internacional. A secretária Leany Lemos (Secretaria Nacional de Planejamento) está finalizando o PPA, que contou com muito apoio dos técnicos do Ipea. 

Estamos apoiando a revisão das metodologias do Cmap para um novo ciclo de avaliação das políticas públicas junto com o secretário Sérgio Firpo (Secretário de Monitoramento e Avaliação de Políticas Públicas e Assuntos Econômicos) e sua equipe, bem como com as outros órgãos que compõem esse Conselho. Teremos muito tempo, a partir de hoje. Quero ter a oportunidade de conversar calmamente e alinhar as expectativas, discutirmos sobre agendas prioritárias e trabalhos que, certamente, serão muitos e importantes.

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