Transportes

Mortalidade no trânsito é tema de seminário no Ipea

O evento também lançou o boletim sobre segurança no trânsito

Helio Montferre/Ipea

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) lançou, nesta quarta-feira (2/8), a nota técnica intitulada “Balanço da 1ª. década de ação pela segurança no trânsito no Brasil e perspectivas para a 2ª. década”, de autoria dos pesquisadores Carlos Henrique Ribeiro de Carvalho e Erivelton Pires Guedes. Mais de 500 pessoas assistiram presencialmente e online ao evento que foi realizado no auditório do Ipea em Brasília. O estudo que avaliou a mortalidade do trânsito no país foi motivado pela campanha “1ª Década de Ação pela Segurança no Trânsito”, lançada pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 2010, que tinha a meta de reduzir em 50% a mortalidade no trânsito no mundo até 2020.

No evento, os autores fizeram uma apresentação dos principais dados apontados pela pesquisa: aumento de 13,5% nas mortes no trânsito no Brasil entre 2010 e 2019, na comparação com a década anterior, e crescimento de 2,3% na taxa de mortalidade por 100 mil habitantes neste mesmo período, mostrando resultados frustrantes em relação à meta global estipulada pela ONU.  O levantamento também traz uma análise regional, por faixa etária, escolaridade, meio de transporte e dados sobre internação no Sistema Único de Saúde (SUS).

Na abertura o diretor de Estudos e Políticas Regionais, Urbanas e Ambientais do Ipea, Aristides Monteiro Neto falou sobre a atuação do Ipea nos últimos anos com a temática urbana. O diretor citou estudos do Instituto sobre os custos dos congestionamentos urbanos (em 1998), passando pelos custos de acidentes urbanos, rodoviários, de trânsito, incluindo dados sobre acidentes no Atlas da Violência, em 2017 e 2020. Ele destacou a relevância do trabalho feito pelos pesquisadores e a importância da parceria com instituições como a Polícia Rodoviária Federal (PRF), Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran), Ministério da Justiça, entre outros. “Agradeço a todos por estarem colaborando conosco e por poderem amplificar e divulgar estes importantes resultados para a política brasileira”, completou o diretor. A mediação do evento ficou a cargo de Cleandro Krause, que conduziu o debate e recebeu as perguntas dos participantes no final das apresentações. 

Carlos Henrique Ribeiro de Carvalho, mestre em Engenharia de Transportes pela Coppe/UFRJ e doutor em Economia na UnB, destacou que “o Brasil sempre se situa entre os 5 países com mais mortes no trânsito, com cerca de 40 mil mortes por ano e mais de 300 mil feridos”.  Complementou defendendo que “o país é ator global e importante para a definição de políticas públicas”. Além disso, “as crianças de hoje são motoristas de amanhã”. O que mais chamou a atenção dos pesquisadores foi o aumento brutal das mortes por usuários de motocicleta. Mas um aspecto positivo foi a redução das mortes (absoluta e relativa) das mortes por atropelamento, em parte, fruto das políticas de redução de velocidade. No recorte por escolaridade, identificaram que a maior parte das vítimas de morte no trânsito são pessoas de baixa renda, mostrando o problema social e de saúde pública no país. 

Erivelton Pires Guedes, engenheiro civil pela Escola de Minas e doutor em Engenharia de Transportes pela Coppe/UFRJ, elogiou o trabalho da PRF, que há 10 anos tem dados aberto sobre custos nas rodovias e isso contribuiu muito para os levantamentos de qualidade feitos pelo Ipea. Do ponto de vista regional, Guedes fez algumas considerações: “vemos que Santa Catarina tem praticamente o dobro de mortes no trânsito em relação ao de homicídios. E aí estão os estados também situação semelhante, como, por exemplo, Piauí e São Paulo”. Guedes lembrou que um estudo do Banco Mundial diz que no Brasil nossos problemas são tão graves que pouco dinheiro resolve muita coisa. Guedes encerrou a apresentação dizendo que “Agora, com o debate, vamos ter atores muito importantes para tentar ajudar a resolver o problema, para promover a redução das mortes no trânsito”. 

Basílio Militani Neto, diretor adjunto do Departamento de Regulação, Fiscalização e Gestão da Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran), do Ministério dos Transportes, informou que, em setembro, na Semana Nacional do Trânsito, a Senatran deve anunciar um novo programa de segurança viária. Ele justificou a necessidade de uma agenda específica uma vez que “20% dos 5.570 municípios brasileiros concentram 80% doas mortes no país”. O diretor destacou que “o trânsito afeta a vida de toda a sociedade. E há uma questão social no trânsito, uma vez que aparecem todos os problemas sociais que enfrentamos no trânsito”.

Jeferson Almeida Moraes, coordenador geral de Segurança Viária da Polícia Rodoviária Federal (PRF), participou do evento ao lado de Neila Fabíola Santos Cardoso, coordenadora de Policiamento e Fiscalização da PRF. Ele falou a respeito da legislação brasileira e a aplicação das políticas públicas nas rodovias. Moraes falou sobre um projeto que está em andamento: “estamos trabalhando para criar o do Centro de Estudos de Segurança Viária da PRF, porque não é a primeira vez que nossos dados estatísticos são elogiados e temos esses dados estudados por universidades e por outras instituições”. O inspetor contata também que “o acidente também se dá por CNPJ”, disse fazendo referência ao tamanho da frota de algumas empresas e pelo comportamento dos motoristas dessas firmas. “Toda empresa pode implementar um plano de gestão de segurança viária” para prevenir sinistros nas rodovias. 

Fernando Barbelli Feitosa, gerente de Regulação Rodoviária da Superintendência de Infraestrutura Rodoviária, da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), lembrou que, nos últimos anos, houve incentivo do governo para o uso da motocicleta, e que isso pode ter contribuído para o grande número de óbitos pelos usuários desse meio de transporte, conforme apontou levantamento do Ipea. Feitosa informou que,     “pela primeira vez, a ANTT criou um programa prático nas viagens, chamado Vias Seguras, com o objetivo de elevar o padrão de segurança nas rodovias e ferrovias federais, assim como na prestação do serviço de transporte de carga de passageiros”. 

Veja aqui a íntegra do debate

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