Livro apresenta panorama do setor agropecuário brasileiro
Publicação mostra como a agricultura brasileira teve uma taxa média anual de crescimento de 3,31% entre 1975 e 2021
Publicado em 01/08/2023 - Última modificação em 01/08/2023 às 18h19
Publicação mostra como a agricultura brasileira teve uma taxa média anual de crescimento de 3,31% entre 1975 e 2021
Publicado em 01/08/2023 - Última modificação em 01/08/2023 às 18h19
Wenderson Araujo
Nova publicação do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) revela que o crescimento contínuo da produção agropecuária brasileira está diretamente relacionado aos avanços científicos e tecnológicos. O livro ‘Agropecuária brasileira: evolução, resiliência e oportunidades’, organizado pela Diretoria de Estudos e Políticas Regionais, Urbanas e Ambientais (Dirur/Ipea), traz uma análise aprofundada da trajetória do setor nas últimas décadas e auxilia na compreensão sobre o desenvolvimento do setor agropecuário brasileiro.
Os doze artigos foram elaborados pelo Núcleo de Estudos de Economia Agropecuária e apresentam uma ampla gama de temas, que vão da produção agrícola e pecuária, produtividade e sustentabilidade, a infraestrutura logística, comércio internacional, mercado de insumos, regularização fundiária até os aspectos institucionais das políticas públicas. Para os organizadores do livro, o pesquisador do Ipea José Eustáquio Ribeiro Vieira Filho e o técnico do Ministério da Agricultura e Pecuária, José Garcia Gasques, o agronegócio sustenta a economia brasileira.
O capítulo inicial escrito por José Garcia Gasques, Eliana Teles Bastos, Mirian Bacchi, José Eustáquio Ribeiro Vieira Filho e Constanza Valdez registra a Produtividade Total de Fatores (PTF) da agricultura brasileira que teve uma taxa média anual de crescimento de 3,31% entre 1975 e 2021. Esse aumento é atribuído aos avanços tecnológicos que permitiram a adoção de práticas agrícolas mais eficientes e sustentáveis. Além disso, destaca-se o desenvolvimento de variedades de culturas mais produtivas e resistentes a pragas e doenças.
De acordo com a publicação, o aumento da produção agropecuária no Brasil está diretamente relacionado ao avanço da ciência e da tecnologia, que tem impulsionado o crescimento contínuo da produtividade total dos fatores. Para Vieira Filho, os demais setores da economia deveriam aprender como investir em pesquisa e tecnologia para aumentar a competitividade e a produção. Ele lembra que com muito mais incentivo, o desempenho da indústria é pior que o da agricultura e pecuária.
Os avanços tecnológicos, como a agricultura de precisão e a internet das coisas têm se concentrado nas propriedades de maior escala de produção. A modernização ainda é considerada relativa, uma vez que existem imperfeições de mercado que dificultam a disseminação do conhecimento e das tecnologias. O texto cita ainda que produtores mais organizados e estruturados têm maior capacidade de absorver tecnologias, enquanto os de menor porte ficam expostos aos insumos mais tradicionais, com impacto inferior na produtividade.
Outro ponto abordado é a relação entre produção agropecuária e regularização fundiária. Para os pesquisadores, a titulação de terras ou o direito de propriedade, pode melhorar a produtividade agrícola e contribuir indiretamente para a sustentabilidade ambiental. Os estudos encontraram uma associação direta entre o aumento no número de títulos de caráter definitivo, o crescimento do valor bruto da produção agrícola e a expansão da área plantada.
No cenário internacional, o Brasil se tornou um importante exportador de carnes (bovina, suína e de frango), oleaginosas, milho e trigo nas últimas três décadas. Cultivos tradicionais como café e açúcar também se mantiveram fortes. Os ganhos de competitividade foram impulsionados pelo empreendedorismo dos agentes e pelos investimentos realizados. No entanto, o setor de produção de lácteos ainda apresenta baixa estruturação e desenvolvimento, enquanto a pecuária de baixo carbono expõe perspectivas favoráveis. As projeções para a safra 2031/2032, por exemplo, apontam para um aumento significativo na produção de soja e milho, com um acréscimo de 37,8% em relação à safra de 2021/2022. Para a próxima década é esperado um aumento de 41,4% nas exportações.
Esse aumento na produção tem relação direta com a logística. O livro apresenta um diagnóstico detalhado da infraestrutura de acesso aos portos, que se concentra principalmente no modal rodoviário, com poucos investimentos em ferrovias. Nesse ponto, os especialistas argumentam sobre a necessidade de melhorar o escoamento da produção por meio dos Portos do Arco Norte. Há também a discussão do crescimento do fluxo de grãos nesses portos, que passou de 7,2 milhões de toneladas em 2009 para 38,9 milhões de toneladas em 2021, representando um crescimento de 440%. Os corredores bioceânicos surgem como alternativas logísticas, conectando áreas altamente produtivas do interior do Brasil aos terminais portuários do Pacífico Sul-Americano e reduzindo significativamente os preços dos produtos exportados.
O estudo apresenta e atualiza as estimativas da PTF com base nos dados do Censo Agropecuário de 2017. Entre 1975 e 2021, o Centro-Oeste foi a região que registrou o maior crescimento da agropecuária, com taxa anual de 5,91% para o produto e 3,87% para a PTF. O estado do Mato Grosso se destacou como o líder nessa região, com taxas de crescimento ainda mais elevadas. As regiões Sul e Sudeste também apresentaram elevação nos números, embora menos expressivo. O Sul registrou taxas elevadas, especialmente nos estados do Paraná e Santa Catarina, enquanto o Rio Grande do Sul teve uma escalada mais lenta. O Sudeste acendeu a uma taxa média de 2,79% ao ano, sendo São Paulo e Minas Gerais os estados com maior crescimento.
No que diz respeito aos insumos, especificamente os fertilizantes que desempenham um papel central na produção agrícola brasileira, há o debate em torno da dependência das importações. Desde o ano 2000, o consumo de fertilizantes no país aumentou três vezes. No entanto, a produção interna de fertilizantes não acompanhou esse crescimento, avançando a um ritmo mais lento. Aproximadamente 80% do total consumido é importado, o que coloca o Brasil como o terceiro maior consumidor mundial de fertilizantes minerais. Inclusive houve crise de fornecimento, em virtude da guerra da Ucrânia. Para os pesquisadores, sem uma política adequada nesse setor, os ganhos de produtividade conquistados podem ser comprometidos.
No aspecto institucional, o livro discute a integração das políticas agrícola e ambiental. O crédito rural se apresenta como um instrumento para conciliar os objetivos de produção e conservação, impulsionando a sustentabilidade e a aplicação do Código Florestal. De acordo com a publicação, para reduzir as emissões de carbono na atmosfera, será essencial incentivar práticas sustentáveis de manejo na atividade pecuária e agrícola. Além disso, há um debate em andamento sobre o marco regulatório do "mercado de carbono", ainda em estágio inicial. A criação do Crédito de Descarbonização (CBIO), um ativo ambiental com objetivo de promover o consumo de biocombustíveis, uma das soluções energéticas menos poluentes.
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